sábado, 31 de maio de 2008

Cansei de esperar você

Quando cansei de esperar você
Vi minha estrela maior renascer
Vi minha vida mais colorida
Cheia de encanto e de mais prazer

Vi quando o mar se abriu
Deixando passar todo o meu sentimento
Até na chuva e no vento
Vi a luz da poesia

Minha alegria voltou
Brilhando no alvorecer
Quando deixei de amar
E esperar por você


(Yvonne Lara / Délcio Carvalho)

Novo Amor

A luz apaga porque já raiou o dia
E a fantasia vai voltar pro barracão
Outra ilusão desaparece quarta-feira
Queira ou não queira terminou o carnaval

Mas não faz mal, não é o fim da batucada
E a madrugada vem trazer meu novo amor
Bate o tambor, chora a cuíca e o pandeiro
Come o couro no terreiro porque o choro começou

A gente ri
A gente chora
E joga fora o que passou
A gente ri
A gente chora
E comemora o novo amor



(Edu Krieger)

sexta-feira, 30 de maio de 2008

L'Aventura

Quando não há compaixão
Ou mesmo um gesto de ajuda
O que pensar da vida
E daqueles que sabemos que amamos ?

Quem pensa por si mesmo é livre
E ser livre é coisa muito séria
Não se pode fechar os olhos
Não se pode olhar pra trás
Sem se aprender alguma coisa pro futuro

Corri pro esconderijo
Olhei pela janela
O sol é um só
Mas quem sabe são duas manhãs

Não precisa vir
Se não for pra ficar
Pelo menos uma noite
E três semanas

Nada é fácil
Nada é certo
Não façamos do amor
Algo desonesto

Quero ser prudente
E sempre ser correto
Quero ser constante
E sempre tentar ser sincero

E queremos fugir
Mas ficamos sempre sem saber

Seu olhar
Não conta mais histórias
Não brota o fruto e nem a flor

E nem o céu é belo e prateado
E o que eu era eu não sou mais
E não tenho nada pra lembrar

Triste coisa é querer bem
A quem não sabe perdoar
Acho que sempre lhe amarei
Só que não lhe quero mais

Não é desejo, nem é saudade
Sinceramente, nem é verdade

Eu sei porque você fugiu
Mas não consigo entender



(Renato Russo)

Apesar de Você

Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar

Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal



(Chico Buarque)

Tanto Amar

Amo tanto e de tanto amar
Acho que ela é bonita
Tem um olho sempre a boiar
E outro que agita

Tem um olho que não está
Meus olhares evita
E outro olho a me arregalar
Sua pepita

A metade do seu olhar
Está chamando pra luta, aflita
E metade quer madrugar
Na bodeguita

Se seus olhos eu for cantar
Um seu olho me atura
E outro olho vai desmanchar
Toda a pintura

Ela pode rodopiar
E mudar de figura
A paloma do seu mirar
Virar miúra

É na soma do seu olhar
Que eu vou me conhecer inteiro
Se nasci pra enfrentar o mar
Ou faroleiro

Amo tanto e de tanto amar
Acho que ela acredita
Tem um olho a pestanejar
E outro me fita

Suas pernas vão me enroscar
Num balé esquisito
Seus dois olhos vão se encontrar
No infinito

Amo tanto e de tanto amar
Em Manágua temos um chico
Já pensamos em nos casar
Em Porto Rico




(Chico Buarque)

Antes das Seis

Quem inventou o amor?
Me explica, por favor
Quem inventou o amor?
Me explica, por favor

Vem e me diz o que aconteceu
Faz de conta que passou
Quem inventou o amor?
Me explica, por favor

Daqui vejo o seu descanso
Perto do seu travesseiro
Depois quero ver se acerto dos dois
Quem acorda primeiro

Quem inventou o amor?
Me explica, por favor
Quem inventou o amor?
Me explica, por favor

Enquanto a vida vai e vem
Você procura achar alguém
Que um dia possa lhe dizer: "Quero ficar só com você"

Quem inventou o amor?



(Renato Russo)

Mil Pedaços

Eu não me perdi e mesmo assim você me abandonou
Você quis partir e agora estou sozinho
Mas vou me acostumar com o silêncio em casa com um prato só na mesa

Eu não me perdi o Sândalo perfuma o machado que o feriu
Adeus, adeus, adeus meu grande amor

E tanto faz de tudo o que ficou guardo um retrato teu
E a saudade mais bonita

Eu não me perdi e mesmo assim ninguém me perdoou
Pobre coração - quando o teu estava comigo era tão bom.

Não sei por quê acontece assim e é sem querer
O que não era pra ser: Vou fugir dessa dor.
Meu amor, se quiseres voltar - volta não
Porque me quebraste em mil pedaços.



(Renato Russo)

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Citação - Machado de Assis

"As Melhores Mulheres pertencem aos homens mais atrevidos. Mulheres são como maçãs em árvores. As melhores estão no topo. Os homens não querem alcançar essas boas, porque eles têm medo de cair e se machucar. Preferem pegar as maçãs podres que ficam no chão, que não são boas como as do topo, mas são fáceis de se conseguir. Assim as maçãs no topo pensam que algo está errado com elas, quando na verdade, eles estão errados. Elas têm que esperar um pouco para o homem certo chegar, aquele que é valente o bastante para escalar até o topo da árvore."



(Machado de Assis)

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.



(Carlos Drummond de Andrade)

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Eu te amo...Não diz tudo!

Você sabe que é amado(a) porque lhe disseram isso?

A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e palavras.

Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida,

Que zela pela sua felicidade,
Que se preocupa quando as coisas não estão dando certo,

Que se coloca a postos para ouvir suas dúvidas,
E que dá uma sacudida em você quando for preciso.

Ser amado é ver que ele(a) lembra de coisas que você contou dois anos atrás,

É ver como ele(a) fica triste quando você está triste,
E como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d'água.

Sente-se amado aquele que não vê transformada a mágoa em munição na hora da discussão.

Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente inteiro.
Aquele que sabe que tudo pode ser dito e compreendido.

Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é,
Sem inventar um personagem para a relação,
Pois personagem nenhum se sustenta muito tempo.

Sente-se amado quem não ofega, mas suspira;
Quem não levanta a voz, mas fala;
Quem não concorda, mas escuta.

Agora, sente-se e escute: Eu te amo não diz tudo!

"Para conquistarmos algo na vida não é necessário, apenas, força ou talento; é preciso, acima de tudo, ter vivido um grande amor"



(Arnaldo Jabor)

terça-feira, 27 de maio de 2008

Amado

Como pode ser gostar de alguém
E esse tal alguém não ser seu
Fico desejando nós gastando o mar
Pôr do Sol, postal, mais ninguém

Peço tanto a Deus
Para esquecer
Mas só de pedir me lembro
Minha linda flor
Meu jasmim será
Meus melhores beijos serão seus

Sinto que você é ligado a mim
Sempre que estou indo, volto atrás
Estou entregue a ponto de estar sempre só
Esperando um sim ou nunca mais

É tanta graça lá fora passa
O tempo sem você
Mas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer

Sinto absoluto o dom de existir, não há solidão, nem pena
Nessa doação, milagres do amor
Sinto uma extensão divina

É tanta graça lá fora passa
O tempo sem você
Mas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer
Quero dançar com você
Dançar com você
Quero dançar com você
Dançar com você



(Vanessa da Mata)

A Minha Gratidão é Uma Pessoa

Depois de pensar um pouco
Ela viu que não havia mas motivo, nem razão
E pôde pordoá-lo

É fácil culpar os outros
Mas a vida não precisa de Juízes a questão
É sermos Razoáveis

E por isso voltou
Por que sempre o amou
mesmo levando a dor daquela mágoa,
mas segurando a sua mão
Sentiu sorrir seu coração
e amou-o como nunca havia Amado

Mas como começar de novo
Se a ferida que sangrou
Me acostumou a me sentir
Prejudicado?

É só você lavar o rosto
E deixar que a agua suja
Leve longe do seu corpo
Um infeliz passado

E por isso voltou
Pra quem sempre amou
mesmo levando a dor e aquela mágoa,

e viveram felizes
e para sempre
Eles estavam livres
Da perfeição que só fazia estragos



(Nando Reis)

Por onde andei

Desculpe estou um pouco atrasado
Mas espero que ainda dê tempo
De dizer que andei errado e eu entendo

As suas queixas tão justificáveis
E a falta que eu fiz nessa semana
Coisas que pareceriam óbvias até pr'uma criança

Por onde andei enquanto você me procurava
Será que eu sei que você é mesmo tudo aquilo que me faltava

Amor eu sinto a sua falta
E a falta é a morte da esperança
Como um dia que roubaram seu carro
Deixou uma lembrança

Que a vida é mesmo coisa muito frágil
Uma bobagem uma irrelevância
Diante da eternidade do amor de quem se ama

Por onde andei enquanto você me procurava
E o que eu te dei foi muito pouco ou quase nada

E o que eu deixei algumas roupas penduradas
Será que eu sei que você é mesmo tudo aquilo que me faltava



(Nando Reis)

Luz dos Olhos

Ponho os meus olhos em você, se você está
Dona dos meus olhos é você, avião no ar
dia pra esses olhos sem te ver, é como o chão do mar
Liga o radio a pilha, a TV, só pra você escutar
A nova música que eu fiz agora
Lá fora a rua vazia chora

Os meus olhos vidram ao te ver, são dois fãs, um par
Pus nos olhos vidros pra poder, melhor te enxergar
Luz dos olhos para anoitecer, é só você se afastar
Pinta os lábios para escrever, a tua boca é minha

Que a nossa musica eu fiz agora, lá fora a lua irradia
a glória
E eu te chamo, eu te peço vem
Diga que você me quer, porque eu te quero também

Passo as tardes pensando
Faço as pazes tentando te telefonar
Cartazes te procurando
Aeronaves seguem posando sem você desembarcar
Pra eu te dar a mão nessa hora
Levar as malas pro fusca lá fora

E eu vou guiando, eu te espero vem
Siga onde vão meus pés, que eu te sigo também
Por que eu te amo e eu berro vem
Grita que você me quer porque eu te quero também



(Nando Reis)

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Amor é propriedade. Sexo é posse. Amor é a lei; sexo é invasão.

O amor é uma construção do desejo. Sexo não depende de nosso desejo; nosso desejo é que é tomado por ele. Ninguém se masturba por amor. Ninguém sofre com tesão. Amor e sexo, são como a palavra farmakon em
grego: remédio ou veneno - depende da quantidade ingerida.

O sexo vem antes. O amor vem depois. No amor, perdemos a cabeça, deliberadamente. No sexo, a cabeça nos perde. O amor precisa do pensamento. No sexo, o pensamento atrapalha.

O amor sonha com uma grande redenção. O sexo sonha com proibições; não há fantasias permitidas. O amor é o desejo de atingir a plenitude. Sexo é a vontade de se satisfazer com a finitude. O amor vive da impossibilidade - nunca é totalmente satisfatório. O sexo pode ser, dependendo da posição adotada. O amor pode atrapalhar o sexo. Já o contrário não acontece. Existe amor com sexo, claro, mas nunca gozam juntos.

O amor é mais narcisista, mesmo entrega, na 'doação'. Sexo é mais democrático, mesmo vivendo do egoísmo. Amor é um texto. Sexo é um esporte. Amor não exige a presença do 'outro'. O sexo, mesmo solitário, precisa de uma 'mãozinha'. Certos amores nem precisam de parceiro; florescem até na maior solidão e na saudade. Sexo, não - é mais realista. Nesse sentido, amor é uma busca de ilusão. Sexo é uma bruta vontade de verdade. O amor vem de dentro, o sexo vem de fora. O amor vem de nós. O sexo vem dos outros. 'O sexo é uma selva de epilépticos' (N. Rodrigues). O amor inventou a alma, a moral. O sexo inventou a moral também, mas do lado de fora de sua jaula, onde ele ruge.

O amor tem algo de ridículo, de patético, principalmente nas grandes paixões. O sexo é mais quieto, como um caubói - quando acaba a valentia, ele vem e come. Eles dizem: 'Faça amor, não faça a guerra'. Sexo quer
guerra. O ódio mata o amor, mas o ódio pode acender o sexo. Amor é egoísta; sexo é altruísta. O amor quer superar a morte. No sexo, a morte está ali, nas bocas. O amor fala muito. O sexo grita, geme, ruge, mas
não se explica.

O sexo sempre existiu - das cavernas do paraíso até as 'saunas relax for men'. Por outro lado, o amor foi inventado pelos poetas provençais do século XII e, depois, relançado pelo cinema americano da moral cristã.
Amor é literatura. Sexo é cinema. Amor é prosa; sexo é poesia. Amor é mulher; sexo é homem - o casamento perfeito é do travesti consigo mesmo. O amor domado protege a produção; sexo selvagem é uma ameaça ao bom
funcionamento do mercado. Por isso, a única maneira de controlá-lo é programá-lo, como faz a indústria da sacanagem. O mercado programa nossas fantasias.

Não há 'saunas relax' para o amor, onde o sujeito entre e se apaixone. No entanto, em todo bordel, finge-se um 'amorzinho' para iniciar. O amor virou um estímulo para o sexo.

O problema do amor é que dura muito, já o sexo dura pouco. Amor busca uma certa 'grandeza'. O sexo é mais embaixo. O perigo do sexo é que você pode se apaixonar. O perigo do amor é virar amizade. Com camisinha, há
'sexo seguro', mas não há camisinha para o amor.

O amor sonha com a pureza. Sexo precisa do pecado. Amor é a lei. Sexo é a transgressão. Amor é o sonho dos solteiros. Sexo, o sonho dos casados.

Amor precisa do medo, do desassossego. Sexo precisa da novidade, da surpresa. O grande amor só se sente na perda. O grande sexo sente-se na tomada de poder. Amor é de direita. Sexo, de esquerda - ou não, dependendo do momento político. Atualmente, sexo é de direita. Nos anos 60, era o contrário. Sexo era revolucionário e o amor era careta.




(Arnaldo Jabor)

Saber Amar

A crueldade de que se é capaz
Deixar pra trás os corações partidos
Contra as armas do ciúme tão mortais
A submissão às vezes é um abrigo

Saber amar
É saber deixar alguém te amar

Há quem não veja a onda onde ela está
E nada contra o rio
Todas as formas de se controlar alguém
Só trazem um amor vazio

Saber amar
É saber deixar alguém te amar

O amor te escapa entre os dedos
E o tempo escorre pelas mãos
O sol já vai se pôr no mar



(Herbert Vianna)

Supermercado do Amor

Tem amor de mercado
que se compra no supermercado do amor
empacotado e com um preço sedutor
num entra-e-sai, num ziguezague vai e vém
comprando o amor de alguém

Maas amor verdadeiro
vem depressa como quem te abraça
surfando nas ondas do amor
E não se paga com dinheiro, não, senhor.

E sim com beijos molhados de espuma
dando a ela de presente uma flor
e todo o seu amor
e todo o seu amor

Para alguns o amor é triste
para o outros o amor nem sequer existe
para outros, ainda, o dinheiro compra até amor verdadeiro.
mas eu prefiro acreditar nas palavras que dizem
que mesmo quando não houver mais nada nem fé, nem esperança
o amor continuará resplandecendo no universo.



(Bartolo / Jorge Mautner)

Ela Rebola

Ela rebola pra lá
Ela rebola pra cá
mas pra mim bola ela não dá

Ela rebola pra cá
Ela rebola pra lá
mas bola pra mim eu sei que ela dará

Antes que eu me alucine
Quero dar o meu recado
Ela é sublime
E eu estou apaixonado
Ela é um crime
de um paraíso sem pecado



(Nelson Jacobina / Jorge Mauter)

domingo, 25 de maio de 2008

Os homens desejam as mulheres que não existem

Está na moda - muitas mulheres ficam em acrobáticas posições ginecológicas para raspar os pêlos pubianos nos salões de beleza. Ficam penduradas em paus-de-arara e, depois, saem felizes com apenas um canteirinho de cabelos, como um jardinzinho estreito, a vereda indicativa de um desejo inofensivo e não mais as agressivas florestas que podem nos assustar. Parecem uns bigodinhos verticais que (oh, céus!...) me fazem pensar em... Hitler.
Silicone, pêlos dourados, bumbuns malhados, tudo para agradar aos consumidores do mercado sexual. Olho as revistas povoadas de mulheres lindas... e sinto uma leve depressão, me sinto mais só, diante de tanta oferta impossível. Vejo que no Brasil o feminismo se vulgarizou numa liberdade de "objetos", produziu mulheres livres como coisas, livres como produtos perfeitos para o prazer. A concorrência é grande para um mercado com poucos consumidores, pois há muito mais mulher que homens na praça (e-mails indignados virão...) Talvez este artigo seja moralista, talvez as uvas da inveja estejam verdes, mas eu olho as revistas de mulher nua e só vejo paisagens; não vejo pessoas com defeitos, medos. Só vejo meninas oferecendo a doçura total, todas competindo no mercado, em contorções eróticas desesperadas porque não têm mais o que mostrar. Nunca as mulheres foram tão nuas no Brasil; já expuseram o corpo todo, mucosas, vagina, ânus.
O que falta? Órgãos internos? Que querem essas mulheres? Querem acabar com nossos lares? Querem nos humilhar com sua beleza inconquistável? Muitas têm boquinhas tímidas, algumas sugerem um susto de virgens, outras fazem cara de zangadas, ferozes gatas, mas todas nos olham dentro dos olhos como se dissessem: "Venham... eu estou sempre pronta, sempre alegre, sempre excitada, eu independo de carícias, de romance!..."
Sugerem uma mistura de menina com vampira, de doçura com loucura e todas ostentam uma falsa tesão devoradora. Elas querem dinheiro, claro, marido, lugar social, respeito, mas posam como imaginam que os homens as querem.
Ostentam um desejo que não têm e posam como se fossem apenas corpos sem vida interior, de modo a não incomodar com chateações os homens que as consomem.
A pessoa delas não tem mais um corpo; o corpo é que tem uma pessoa, frágil, tênue, morando dentro dele.
Mas, que nos prometem essas mulheres virtuais? Um orgasmo infinito? Elas figuram ser odaliscas de um paraíso de mercado, último andar de uma torre que os homens atingiriam depois de suas Ferraris, seus Armanis, ouros e sucesso; elas são o coroamento de um narcisismo yuppie, são as 11 mil virgens de um paraíso para executivos. E o problema continua: como abordar mulheres que parecem paisagens?
Outro dia vi a modelo Daniela Cicarelli na TV. Vocês já viram essa moça? É a coisa mais linda do mundo, tem uma esfuziante simpatia, risonha, democrática, perfeita, a imensa boca rósea, os "olhos de esmeralda nadando em leite" (quem escreveu isso?), cabelos de ouro seco, seios bíblicos, como uma imensa flor de prazeres. Olho-a de minha solidão e me pergunto: "Onde está a Daniela no meio desses tesouros perfeitos? Onde está ela?" Ela deve ficar perplexa diante da própria beleza, aprisionada em seu destino de sedutora, talvez até com um vago ciúme de seu próprio corpo. Daniela é tão linda que tenho vontade de dizer: "Seja feia..."
Queremos percorrer as mulheres virtuais, visitá-las, mas, como conversar com elas? Com quem? Onde estão elas? Tanta oferta sexual me angustia, me dá a certeza de que nosso sexo é programado por outros, por indústrias masturbatórias, nos provocando desejo para me vender satisfação. É pela dificuldade de realizar esse sonho masculino que essas moças existem, realmente. Elas existem, para além do limbo gráfico das revistas. O contato com elas revela meninas inseguras, ou doces, espertas ou bobas mas, se elas pudessem expressar seus reais desejos, não estariam nas revistas sexy, pois não há mercado para mulheres amando maridos, cozinhando felizes, aspirando por namoros ternos. Nas revistas, são tão perfeitas que parecem dispensar parceiros, estão tão nuas que parecem namoradas de si mesmas. Mas, na verdade, elas querem amar e ser amadas, embora tenham de ralar nos haréns virtuais inventados pelos machos. Elas têm de fingir que não são reais, pois ninguém quer ser real hoje em dia - foi uma decepção quando a Tiazinha se revelou ótima dona de casa na Casa dos Artistas, limpando tudo numa faxina compulsiva.
Infelizmente, é impossível tê-las, porque, na tecnologia da gostosura, elas se artificializam cada vez mais, como carros de luxo se aperfeiçoando a cada ano. A cada mutação erótica, elas ficam mais inatingíveis no mundo real. Por isso, com a crise econômica, o grande sucesso são as meninas belas e saradas, enchendo os sites eróticos da internet ou nas saunas relax for men, essa réplica moderna dos haréns árabes. Essas lindas mulheres são pagas para não existir, pagas para serem um sonho impalpável, pagas para serem uma ilusão. Vi um anúncio de boneca inflável que sintetizava o desejo impossível do homem de mercado: ter mulheres que não existam... O anúncio tinha o slogan em baixo: "She needs no food nor stupid conversation." Essa é a utopia masculina: satisfação plena sem sofrimento ou realidade.
A democracia de massas, mesclada ao subdesenvolvimento cultural, parece "libertar" as mulheres. Ilusão à toa. A "libertação da mulher" numa sociedade ignorante como a nossa deu nisso: superobjetos se pensando livres, mas aprisionadas numa exterioridade corporal que apenas esconde pobres meninas famintas de amor e dinheiro. A liberdade de mercado produziu um estranho e falso "mercado da liberdade". É isso aí. E ao fechar este texto, me assalta a dúvida: estou sendo hipócrita e com inveja do erotismo do século 21? Será que fui apenas barrado do baile?




(Arnaldo Jabor)

Romanza

Branca mulher de olhos claros
De olhar branco e luminoso
Que tinhas luz nas pupilas
E luz nos cabelos louros
Onde levou-te o destino
Que te afastou para longe
Da minha vista sem vida
Da minha vida sem vista?

Andavas sempre sozinha
Sem cão, sem homem, sem Deus
Eu te seguia sozinho
Sem cão, sem mulher, sem Deus
Eras a imagem de um sonho
A imagem de um sonho eu era
Ambos levando a tristeza
Dos que andam em busca do sonho.

Ias sempre, sempre andando
E eu ia sempre seguindo
Pisando na tua sombra
Vendo-a às vezes se afastar
Nem sabias quem eu era
Não te assustavam meus passos
Tu sempre andando na frente
Eu sempre atrás caminhando.

Toda a noite em minha casa
Passavas na caminhada
Eu te esperava e seguia
Na proteção do meu passo
E após o curto caminho
Da praia de ponta a ponta
Entravas na tua casa
E eu ia, na caminhada.

Eu te amei, mulher serena
Amei teu vulto distante
Amei teu passo elegante
E a tua beleza clara
Na noite que sempre vinha
Mas sempre custava tanto
Eu via a horá suprema
Das horas da minha vida.

Eu te seguia e sonhava
Sonhava que te seguia
Esperava ansioso o instante
De defender-te de alguém

E então meu passo mais forte
Dizia: quero falar-te
E o teu, mais brando, dizia:
Se queres destruir:,. vem. ,

Eu ficava. E t seguia
Pelo deserto da praia
Até avistar a casa
Pequena e branca.da esquina.
Entravas. Por um momento

Esperavas que eu passasse
Para o olhar de boa-noite
E o olhar de até-amanhã.

Uma noite... não passaste.
Esperei-te ansioso, inquieto
Mas não vieste. Por quê?

Foste embora? Procuraste
O amor de algum outro passo
Que em vez de seguir-te sempre
Andasse sempre ao.teu lado?

Eu ando agora sozinho
Na praia longa e deserta
Eu ando agora sozinho
Por que fugiste? Por quê?
Ao meu passo solitário
Triste e incerto como nunca
Só responde a voz das ondas
Que se esfacelam na areia.

Branca mulher de olhos claros
Minha alma ainda te deseja
Traze ao meu passo cansado
A alegria do teu passo
Onde levou-te o destino
Que te afastou para longe
Da minha vista sem vida
Da minha vida sem vista?


(Vinicius de Moraes)

sábado, 24 de maio de 2008

Cotidiano

Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã

Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher
Diz que está me esperando pro jantar
E me beija com a boca de café

Todo dia eu só penso em poder parar
Meio dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão

Seis da tarde como era de se esperar
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão

Toda noite ela diz pra eu não me afastar
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta pra eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor

Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã



(Chico Buarque)

Viver do Amor

Pra se viver do amor
Há que esquecer o amor
Há que se amar
Sem amar
Sem prazer
E com despertador
- como um funcionário

Há que penar no amor
Pra se ganhar no amor
Há que apanhar
E sangrar
E suar
Como um trabalhador

Ai, o amor
Jamais foi um sonho
O amor é feroz
Faz em nós
Um estrago medonho

É por isso que se há de entender
Que amar não é um ócio
Se precaver
Que amar não é um vício
Amar é um sacrifício
Amar é um sacerdócio
À luz do abajur

É por isso que se há de entender
Que amar não é um ócio
Se precaver
Amar não é um vício
O amor é um nobre ofício
O amor é um bom negócio



(Chico Buarque)

Mil Perdões

Te perdôo
Por fazeres mil perguntas
Que em vidas que andam juntas
Ninguém faz
Te perdôo
Por pedires perdão
Por me amares demais

Te perdôo
Te perdôo por ligares
Pra todos os lugares
De onde eu vim
Te perdôo
Por ergueres a mão
Por bateres em mim

Te perdôo
Quando anseio pelo instante de sair
E rodar exuberante
E me perder de ti
Te perdôo
Por quereres me ver
Aprendendo a mentir (te mentir, te mentir)

Te perdôo
Por contares minhas horas
Nas minhas demoras por aí
Te perdôo
Te perdôo porque choras
Quando eu choro de rir
Te perdôo
Por te trair



(Chico Buarque)

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Olhos nos olhos

Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci

Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais

E que venho até remoçando
Me pego cantando
Sem mas nem porque
E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você

Quando talvez precisar de mim
'Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos, quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz



(Chico Buarque)

Lado Z

Pouca gente ouviu falar
Nunca passou na TV
Não vai ser moda, nem livro
Nem vai ter fila pra ver

Delicadeza e doçura
Não fazem muito sucesso
Nem alegrias de bolso
E nem amor que deu certo

Fiz uma lista sem fim
De como sem perceber
Você me deixa
Imensamente feliz

Não vou mostrar pra ninguém
Fica entre mim e você
Vai ser nosso greatest unhits
Nosso lado Z

Não vai sair nas revistas
Nenhuma foto ou registro
Só esse amor que se basta
Em ser amor e só isso

O vento, a tarde e nós dois
A gente rindo por nada
Me descobrir nos seus olhos
E eternizar madrugadas

Fiz uma lista sem fim
De como sem perceber
Você me deixa
Imensamente feliz


(Leoni)

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Na Estrada

Ela vai voltar, vai chegar
E se demorar, I´ll wait for you
Ela vem, e ninguém mais bela
Baby, I wanna be yours tonight
Sem botão, no tempo, no topo, no chão
em cada escada, a caminhada a pé, de caminhão
Seu horário nunca é cedo aonde estou
e quando escondo a minha olheira
é pra colher amor
Sala sem ela tem janela
inclina, em cerca de atenção
Ela vem, e ninguém mais
Ela vem em minha direção
Sala sem ela tem janela
inclina em cerca de atenção
Ela vem, e ninguém mais
bela vem em minha direção


(Marisa Monte / Nando Reis / Carlinhos Brown)

De mais ninguém

Se ela me deixou, a dor
É minha só, não é de mais ninguém
Aos outros eu devolvo a dó,
Eu tenho a minha dor

Se ela preferiu ficar sozinha,
Ou já tem um outro bem.
Se ela me deixou a dor é minha,
A dor é de quem tem.

É meu troféu, é o que restou,
É o que me aquece sem me dar calor
Se eu não tenho o meu amor,
Eu tenho a minha dor.

A sala, o quarto, a casa está vazia,
A cozinha, o corredor
Se nos meus braços ela não se aninha,
A dor é minha.

É o meu lençol, é o cobertor,
É o que me aquece sem me dar calor
Se eu não tenho o meu amor
Eu tenho a minha dor


(Marisa Monte / Arnaldo Antunes)

Espatódea

Minha cor
Minha flor
Minha cara

Quarta estrela
Letras, três
Uma estrada

Não sei se o mundo é bão
Mas ele ficou melhor
Quando você chegou
e perguntou:
Tem lugar pra mim?

Espatódea
Gineceu
Cor de pólen

Sol do dia
Nuvem branca
Sem sardas

Não sei quanto o mundo é bão
Mas ele está melhor
Desde que você chegou
E explicou
O mundo pra mim

Não sei se esse mundo estã são
Mas pro mundo que eu vim já não era
Meu mundo não teria razão
Se não fosse a Zoe


(Nando Reis)

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Não vá embora

E no meio de tanta gente eu encontrei você
Entre tanta gente chata sem nenhuma graça
Você veio
E eu que pensava que não ia me apaixonar
Nunca mais na vida

Eu podia ficar feio só perdido
Mas com você eu fico muito mais bonito
Mais esperto
E podia estar tudo agora errado pra mim
Mas com você
Dá certo

Por isso não vá embora
Por isso não me deixe nunca, nunca mais
Por isso não vá, não vá embora
Por isso não me deixe nunca, nunca mais

Eu podia estar sofrendo caído por ai
Mas com você eu fico muito mais feliz
Mais desperto
Eu podia estar agora sem você, mas eu não quero
Não quero



(Marisa Monte/Arnaldo Antunes)

Sou seu sabiá

Se o mundo for desabar
sobre a sua cama
E o medo se aconchegar
sob o seu lençol
E se você sem dormir
tremer ao nascer do sol
Escute a voz de quem ama
ela chega aí
Você pode estar
tristíssimo no seu quarto
Que eu sempre terei
meu jeito de consolar
É só ter alma de ouvir,
e coração de escutar
E nunca me farto
do uníssono com a vida
Eu sou, sou sua sabiá
Não importa
onde for vou te catar
Te vou cantar te vou
te vou te vou te vou
Eu sou, sou sua sabiá
O que eu tenho eu te dou
E tenho a dar
Só tenho a voz cantar,
cantar, cantar, cantar



(Marisa Monte)

Gotas de Luar

Se eu pudesse roubar
as gotas de luar
que vi brilhar
nos olhos teus

Guardava aquele encanto
para enfeitar meu pranto
na hora do adeus

Sei que muito breve
tu irás me esquecer
eu sei que vou sofrer
por culpa da minha paixão

Eu devia te deixar
mas vou continuar
para castigar
meu pobre coração


(Marisa Monte)

Água também é mar

Água também é mar
E aqui na praia também é margem
Já que não é urgente
Aguente e sente aguarde o temporal

Chuva também é água do mar lavada
O céu imagem
Há que tirar o sapato e pisar
Com tato nesse litoral

Gire a torneira, perigas ver
Inunda o mundo, o barco é você

Na distância, há de sonhar
Há de estancar
Gotas tantas não demora
Sede estranha


(Marisa Monte / Carlinhos Brown / Arnaldo Antunes)

Não é Fácil

Não é fácil, não pensar em você
Não é fácil, é estranho
Não te contar meus planos, não te encontrar
Todo dia de manhã enquanto eu tomo o meu café amargo
É, ainda boto fé de um dia te ter ao meu lado
Na verdade, eu preciso aprender
Não é fácil, não é fácil

Onde você anda, onde está você?
Toda a vez que eu saio me preparo para talvez te ver
Na verdade eu preciso esquecer
Não é fácil, não é fácil

Todo dia de manhã enquanto eu tomo o meu café amargo
É, ainda boto fé de um dia te ter ao meu lado
O que eu faço? O que eu posso fazer?
Não é fácil, não é fácil

Se você quisesse ia ser tão legal
Acho que eu seria mais feliz do que qualquer mortal
Na verdade não consigo esquecer
Não é fácil, é estranho



(Marisa Monte)

terça-feira, 20 de maio de 2008

A sua

Eu só quero que você saiba
Que estou pensando em você
Agora e sempre mais

Eu só quero que você ouça
A canção que eu fiz pra dizer
Que eu te adoro cada vez mais
E que eu te quero sempre em paz

Tô com sintomas de saudade
Estou pensando em você
E como eu te quero tanto bem
Aonde for não quero dor
Eu tomo conta de você
Mas, te quero livre também
Como o tempo vai
E o vento vem

Eu só quero que você caiba
No meu colo
Por que eu te adoro cada vez mais

Eu só quero que você siga
Para onde quiser
Que eu não vou ficar muito atrás


(Marisa Monte)

O que me importa

O que me importa seu carinho agora
Se é muito tarde para amar você
O que me importa se você me adora
Se já não há razão para lhe querer

O que me importa ver você sofrer assim
Se quando eu lhe quis você nem mesmo soube dar amor

O que me importa ver você chorando
Se tantas vezes eu chorei também
O que me importa sua voz chamando
Se pra você jamais eu fui alguém

O que me importa essa tristeza em seu olhar
Se o meu olhar tem mais tristezas pra chorar que o seu

O que me importa ver você tão triste
Se triste fui e você nem ligou
O que me importa o seu carinho agora
Se para mim a vida terminou



(Cury)

Pra ser sincero

Eu era tão feliz
E não sabia, amor
Fiz tudo o que eu quis
Confesso a minha dor
E era tão real
Que eu só fazia fantasia
E não fazia mal
E agora é tanto amor
Me abrace como foi
Te adoro e você vem comigo
Aonde quer que eu voe
E o que passou, calou
E o que virá, dirá
E só ao seu lado, seu telhado
Me faz feliz de novo
O tempo vai passar
E tudo vai entrar no jeito certo de nós dois
As coisas são assim
E se será, será
Pra ser sincero, meu remédio é te amar, te amar
Não pense, por favor
Que eu não sei dizer
Que é amor tudo o que eu sinto longe de você



(Carlinhos Brown / Marisa Monte)

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Meu Mundo Ficaria Completo (Com Você)

Não é porque eu sujei a roupa bem agora que eu já estava saindo.
Nem mesmo porque eu peguei o maior trânsito e acabei perdendo o cinema.
Não é porque eu não acho o papel onde anotei o telefone que eu to precisando.
Nem mesmo o dedo que eu cortei abrindo a lata e ainda continua sangrando.
Não é porque eu fui mal na prova de geometria e periga d'eu repetir de ano.
Nem mesmo o meu carro que parou de madrugada só por falta de gasolina.
Não é porque tá muito frio,
Não é porque tá muito calor.

O problema é que eu te amo.
Não tenho dúvidas que com você daria certo.
Juntos faríamos tantos planos,
Com você o meu mundo ficaria completo.
Eu vejo nossos filhos brincando,
E depois cresceriam e nos dariam os netos.

A fome que devora alguns milhões de brasileiros
perto disso já não tem importância.
A morte que nos toma a mãe insubstituível de repente
dela já nem me lembro.
A derrota de 50 e a campanha de 70 perdem totalmente o seu sentido.
As datas, fatos e aniversariantes passam sem deixar o menor vestígio.
Injúrias e promessas e mentiras e ofensas
caem fora pelo outro ouvido.
Roubaram a carteira com meus documentos,
aborrecimentos que eu já nem ligo.
Não é porque eu quis e eu não fiz.
Não é porque eu não fui eu não vou.

O problema é que eu te amo.
Não tenho dúvidas que eu queria estar mais perto.
Juntos viveríamos por mil anos porque o nosso mundo estaria completo.
Eu vejo os nossos filhos brincando com seus filhos
que depois nos trariam bisnetos.

Não é porque eu sei que ela não virá que eu não vejo a porta já se abrindo.
E que eu não queira tê-la mesmo que não tenha a mínima lógica nesse raciocínio.
Não é que eu esteja procurando o infinito a sorte pra andar comigo.
Se a fé remove até montanhas o desejo é o que torna o irreal possível.
Não é por isso que eu não possa estar feliz,
sorrindo e cantando.
Não é por isso que ela não possa estar feliz,
sorrindo e cantando.
Não vou dizer que eu não ligo,
Eu digo o que sinto e o que eu sou.

O problema é que eu te amo,
Não tenho dúvidas pois isso não é mais secreto.
Juntos morreríamos pois nos amamos e de nós o mundo ficaria deserto.
Eu vejo nossos filhos lembrando com seus filhos que já teriam seus netos.



(Nando Reis)

As Coisas Tão Mais Lindas

Entre as coisas mais lindas que eu conheci
Só reconheci suas cores belas quando eu te vi
Entre as coisas bem-vindas que já recebi
Eu reconheci minhas cores nela então eu me vi

Está em cima com o céu e o luar
Hora dos dias, semanas, meses, anos, décadas
E séculos, milênios que vão passar
Água-marinha põe estrelas no mar
Praias, baías, braços, cabos, mares, golfos
E penínsulas e oceanos que não vão secar

E as coisas lindas são mais lindas
Quando você está
Hoje você está
Onde você está
As coisas são mais lindas
Porque você está
Onde você está
Hoje você está
Nas coisas tão mais lindas


(Nando Reis)

domingo, 18 de maio de 2008

Quem sabe isso quer dizer amor

Cheguei a tempo de te ver acordar
Eu vim correndo a frente do sol
Abri a porta e antes de entrar
Revi a vida inteira

Pensei em tudo que é possível falar
que sirva apenas para nós dois
Sinais de bem, desejos vitais
Pequenos fragmentos de luz

Falar da cor dos temporais
de céu azul, das flores de abril
Pensar além do bem e do mal
Lembrar de coisas que ninguém viu
O mundo lá sempre a rodar
e em cima dele tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor
estrada de fazer o sonho acontecer

Pensei no tempo e era tempo demais
Você olhou sorrindo pra mim
Me acenou um beijo de paz
virou minha cabeça

Eu simplesmente não consigo parar
Lá fora o dia já clareou
mas se você quiser transformar
o ribeirão em braço de mar

Você vai ter que encontrar
Aonde nasce a fonte do ser
e perceber meu coração
bater mais forte só por você
O mundo lá sempre a rodar,
e em cima dele tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor,
estrada de fazer o sonho acontecer



(Milton Nascimento / Lô Borges)

Vou te levar

Pensar em tudo que se passou,
que se pode sonhar e não realizou
a vida tentando escapar
mas não por agora

Ao mesmo tempo tanta coisa se amou,
se refez, se perdeu, se conquistou
retratos estampados do nosso amor
em preto e branco pregados na parede
revelando pra sempre a gente,
nosso orgulho um do outro, olhando pra lente,
como quem disesse: não queremos mais nada nesse mundo

E que me lembrasse, a cada instante
que valeu a pena cada lance
e que valerá tenha certeza, pra toda vida

Vou levar, vou te levar
pra onde for, vou te levar
Vou levar, vou te levar
pra onde for, vou te levar....


(Lobão)

sábado, 17 de maio de 2008

O amor por entre o verde

Não é sem freqüência que, à tarde, chegando à janela, eu vejo um casalzinho de brotos que vem namorar sobre a pequenina ponte de balaustrada branca que há no parque. Ela é uma menina de uns 13 anos, o corpo elástico metido nuns blue jeans e num suéter folgadão, os cabelos puxados para trás num rabinho-de-cavalo que está sempre a balançar para todos os lados; ele, um garoto de, no máximo, 16, esguio, com pastas de cabelo a lhe tombar sobre a testa e um ar de quem descobriu a fórmula da vida. Uma coisa eu lhes asseguro: eles são lindos, e ficam montados, um em frente ao outro, no corrimão da colunata, os joelhos a se tocarem, os rostos a se buscarem a todo momento para pequenos segredos, pequenos carinhos, pequenos beijos. São, na sua extrema juventude, a coisa mais antiga que há no parque, incluindo velhas árvores que por ali espapaçam sua verde sombra; e as momices e brincadeiras que se fazem dariam para escrever todo um tratado sobre a arqueologia do amor, pois têm uma tal ancestralidade que nunca se há de saber a quantos milênios remontam.
Eu os observo por um minuto apenas para não perturbar-lhes os jogos de mão e misteriosos brinquedos mímicos com que se entretêm, pois suspeito de que sabem de tudo o que se passa à sua volta. Às vezes, para descansar da posição, encaixam-se os pescoços e repousam os rostos um sobre o ombro do outro, como dois cavalinhos carinhosos, e eu vejo então os olhos da menina percorrerem vagarosamente as coisas em torno, numa aceitação dos homens, das coisas e da natureza, enquanto os do rapaz mantêm-se fixos, como a perscrutar desígnios. Depois voltam à posição inicial e se olham nos olhos, e ela afasta com a mão os cabelos de sobre a fronte do namorado, para vê-lo melhor e sente-se que eles se amam e dão suspiros de cortar o coração. De repente o menino parte para uma brutalidade qualquer, torce-lhe o pulso até ela dizer-lhe o que ele quer ouvir, e ela agarra-o pelos cabelos, e termina tudo, quando não há passantes, num longo e meticuloso beijo.
Que será, pergunto-me eu em vão, dessas duas crianças que tão cedo começam a praticar os ritos do amor? Prosseguirão se amando, ou de súbito, na sua jovem incontinência, procurarão o contato de outras bocas, de outras mãos, de outros ombros? Quem sabe se amanhã quando eu chegar à janela, não verei um rapazinho moreno em lugar do louro ou uma menina com a cabeleira solta em lugar dessa com os cabelos presos?
E se prosseguirem se amando, pergunto-me novamente em vão, será que um dia se casarão e serão felizes? Quando, satisfeita a sua jovem sexualidade, se olharem nos olhos, será que correrão um para o outro e se darão um grande abraço de ternura? Ou será que se desviarão o olhar, para pensar cada um consigo mesmo que ele não era exatamente aquilo que ela pensava e ela era menos bonita ou inteligente do que ele a tinha imaginado?
É um tal milagre encontrar, nesse infinito labirinto de desenganos amorosos, o ser verdadeiramente amado... Esqueço o casalzinho no parque para perder-me por um momento na observação triste, mas fria, desse estranho baile de desencontros, em que freqüentemente aquela que devia ser daquele acaba por bailar com outro porque o esperado nunca chega; e este, no entanto, passou por ela sem que ela o soubesse, suas mãos sem querer se tocaram, eles olharam-se nos olhos por um instante e não se reconheceram.
E é então que esqueço de tudo e vou olhar nos olhos de minha bem-amada como se nunca a tivesse visto antes. É ela, Deus do céu, é ela! Como a encontrei, não sei. Como chegou até aqui, não vi. Mas é ela, eu sei que é ela porque há um rastro de luz quando ela passa; e quando ela me abre os braços eu me crucifico neles banhado em lágrimas de ternura; e sei que mataria friamente quem quer que lhe causasse dano; e gostaria que morrêssemos juntos e fôssemos enterrados de mãos dadas, e nossos olhos indecomponíveis ficassem para sempre abertos mirando muito além das estrelas.




(Vinicius de Moraes)

Aquela Mulher

Se você quer mesmo saber
Por que que ela ficou comigo
Eu digo que não sei
Se ela ainda tem seu endereço
Ou se lembra de você
Confesso que não perguntei
As nossas noites são
Feito oração na catedral
Não cuidamos do mundo
Um segundo sequer
Que noites de alucinação
Passo dentro daquela mulher
Com outros homens, ela só me diz
Que sempre se exibiu
E até fingiu sentir prazer
Mas nunca soube, antes de mim
Que o amor vai longe assim
Não foi você quem quis saber?



(Chico Buarque)

Fica

Diz que eu não sou de respeito
Diz que não dá jeito de jeito nenhum
Diz que eu sou subversivo
Um elemento ativo
Feroz e nocivo ao bem-estar comum

Fale do nosso barraco
Diga que é um buraco que nem queiram ver
Diga que o meu samba é fraco
E que eu não largo o taco
Nem pra conversar com você

Mas fica
Mas fica ao lado meu
Você sai e não explica onde vai
E a gente fica sem saber se vai voltar

Diga ao primeiro que passa
Que eu sou da cachaça mais do que do amor
Diga, e diga de pirraça
De raiva ou de graça,
No meio da praça, é favor

Mas fica
Mas fica ao lado meu
Você sai e não explica onde vai
E a gente fica sem saber se vai voltar

Diz que eu ganho até folgado
Mas perco no dado e não lhe dou vintém
Diz que é pra tomar cuidado
Sou um desajustado
E o que bem lhe agrada, meu bem

Mas fica
Mas fica, meu amor, quem sabe um dia
Por descuido ou poesia
Você goste de ficar



(Chico Buarque)

Folhetim

Se acaso me quiseres
Sou dessas mulheres
Que só dizem sim
Por uma coisa à toa
Uma noitada boa
Um cinema, um botequim

E, se tiveres renda
Aceito uma prenda
Qualquer coisa assim
Como uma pedra falsa
Um sonho de valsa
Ou um corte de cetim

E eu te farei as vontades
Direi meias verdades
Sempre à meia luz
E te farei, vaidoso, supor
Que é o maior e que me possuis

Mas na manhã seguinte
Não conta até vinte
Te afasta de mim
Pois já não vales nada
És página virada
Descartada do meu folhetim



(Chico Buarque)

Acorda Amor

Acorda amor
Eu tive um pesadelo agora
Sonhei que tinha gente lá fora
Batendo no portão, que aflição
Era a dura, numa muito escura viatura
minha nossa santa criatura
chame, chame, chame, chame o ladrão
Acorda amor
Não é mais pesadelo nada
Tem gente já no vão da escada
fazendo confusão, que aflição
São os homens, e eu aqui parado de pijama
eu não gosto de passar vexame
chame, chame, chame, chame o ladrão
Se eu demorar uns meses convém às vezes você sofrer
Mas depois de um ano eu não vindo
ponha roupa de domingo e pode me esquecer
Acorda amor
que o bicho é bravo e não sossega
se você corre o bicho pega
se fica não sei não
Atenção, não demora
dia desses chega sua hora
não discuta à toa, não reclame
chame, clame, clame, chame o ladrão




(Chico Buarque)

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Não me deixes!

Debruçada nas águas dum regato
A flor dizia em vão
À corrente, onde bela se mirava:
"Ai, não me deixes, não!


"Comigo fica ou leva-me contigo
"Dos mares à amplidão;
"Límpido ou turvo, te amarei constante;
"Mas não me deixes, não!"


E a corrente passava; novas águas
Após as outras vão;
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
"Ai, não me deixes, não!"


E das águas que fogem incessantes
À eterna sucessão
Dizia sempre a flor, e sempre embalde:
"Ai, não me deixes, não!"


Por fim desfalecida e a cor murchada,
Quase a lamber o chão,
Buscava inda a corrente por dizer-lhe
Que a não deixasse, não.


A corrente impiedosa a flor enleia,
Leva-a do seu torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
"Não me deixaste, não!"



(Gonçalves Dias)

Volta

Enfim te vejo. Enfim no teu
Repousa o meu olhar cansado.
Quanto o turvou e escureceu
O pranto amargo que correu
Sem apagar teu vulto amado.

Porém já tudo se perdeu
No olvido imenso do passado:
Pois que és feliz, feliz sou eu.
Enfim te vejo!

Embora morra incontentado,
Bendigo o amor que Deus me deu.
Bendigo-o como um dom sagrado.
Como o só bem que há confortado
Um coração que a dor venceu!
Enfim te vejo!


(Manuel Bandeira)

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Perdoa-me, visão dos meus amores

Perdoa-me, visão dos meus amores,
Se a ti ergui meus olhos suspirando! ...
Se eu pensava num beijo desmaiando
Gozar contigo uma estação de flôres!



De minhas faces os mortais palores,
Minha febre noturna delirando,
Meus ais, meus tristes ais vão revelando
Que peno e morro de amorosas dores...



Morro, morro por ti! na minha aurora
A dor do coração, a dor mais forte,
A dor de um desengano me devora...



Sem que última esperança me conforte,
Eu - que outrora vivia! - eu sinto agora
Morte no coração, nos olhos morte!


(Álvares de Azevedo)

Amor

Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu’alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!

Quero em teus lábio beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d’esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!

Vem, anjo, minha donzela,
Minha’alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!



(Álvares de Azevedo)

Se eu morresse amanhã

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que dove n'alva
Acorda a natureza mais loucã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!


(Álvares de Azevedo)

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Eu escrevi um poema triste

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!



(Mario Quintana)

Bilhete

Se tu me amas,
ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos

Deixa em paz a mim!

Se me queres,
enfim,

...tem de ser bem devagarinho,
...amada,

...que a vida é breve,
...e o amor
...mais breve ainda


(Mario Quintana)

Esperança

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...



(Mario Quintana)

Invisível

Quando eu descobri que podia ficar invisível tinha 13 anos e a primeira coisa que fiz foi entrar no vestiário das mulheres, no clube. Durante algum tempo só usei meu poder para coisas assim. Ver mulher pelada, mudar as coisas de lugar para assustar as pessoas, dizer coisas no ouvido delas quando elas pensavam que estavam sozinhas, ficar atrás do goleiro do meu time para chutar as bolas que ele deixava passar e evitar o gol, coisas assim. Muito jogo importante da época fui eu que decidi, defendendo em cima da linha, e ninguém ficou sabendo, ou pelo menos ninguém acreditou quando eu contei. Também entrava em cinemas sem pagar e ainda cutucava a barriga do porteiro, só por farra. Vi todos os filmes proibidos até 18 anos que ninguém mais da minha geração viu. O único perigo, nos cinemas, era alguém, vendo a minha poltrona vazia, sentar no meu colo. Como eu invariavelmente estava com uma ereção, havia sempre a possibilidade de uma catástrofe.

Aos 16 anos me apaixonei por uma menina de 15, a Beloní, e um dia fiquei invisível e a segui até a sua casa. Queria ver como era o seu quarto e a sua vida, queria vê-la tomando banho, mas não queria ver o que vi, uma briga feia dela com a mãe, depois ela trancada no quarto, chorando, eu sem saber se afagava sua cabeça e a matava de susto ou o quê. No fim quase fiquei preso no apartamento porque todos foram dormir e trancaram as portas, tive que simular batidas na porta da frente para o pai da Beloní vir abrir e me deixar escapar, depois tive que explicar em casa porque ficara na rua até aquela hora, só quando já estava na cama me dei conta que perdera a viagem porque a Beloní, de tão amargurada, nem tomara banho e dormira vestida. Voltei à casa dela no dia seguinte, atraído não apenas pela possibilidade de vê-la nua como a de, de alguma forma, interferir no seu drama doméstico, ajudá-la, mudar seu destino, em último caso empurrar sua mãe pela janela. Desta vez peguei uma briga da mãe com o pai da Beloní. Fiquei achatado contra uma parede, apavorado. Era terrível, como as pessoas se comportavam quando achavam que não estavam sendo observadas. E era terrível não poder fazer nada. Era terrível ser invisível, ter aquele poder e nenhum outro. Eu não podia mudar a vida da minha amada Beloní como podia mudar o resultado de um jogo. Podia andar pela sua casa sem ser visto e sentir o cheiro doce de sua nuca, tendo apenas o cuidado de não encostar o nariz, mas não podia salvá-la.

Acho que foi então que me convenci de que a invisibilidade era, na verdade, um poder trágico. Depois da minha imersão na vida privada da família da Beloní - que eu revi o outro dia e e me contou que está bem, que se casou com um astrônomo belga que tem até uma estrela com o nome dele, que ela não se lembrava como era, está claro que enlouqueceu - nunca mais consegui me divertir com a minha invisibilidade. Não entro mais em vestiários femininos, pois que graça há na mulher nua se ela não está nua para você, se ela nem sabe que você a está vendo e que aquele hálito na sua nuca é o seu? Não entro mais em campo, pois que graça há no seu time ganhar com a sua participação anti-regulamentar e sem que você ganhe sequer uma medalha, uma linha no jornal? E já tenho idade suficiente, mais do que suficiente, para entrar em filmes proibidos à vista do porteiro. Pensando bem, hoje só fico invisível quando quero estar sozinho ou, vez que outra, quando estou dirigindo, para ver as caras de espanto dos outros motoristas. Mas nem isso me diverte mais. A invisibilidade é para os jovens.

Troquei meu poder pelo ofício de Flaubert que dizia que todo escritor é um fantasma percorrendo as suas próprias entrelinhas, ou coisa parecida. Abandonei a vida real por ficções como esta, em que controlo tudo e posso mudar a vida das pessoas e dispor do seu destino, e fornecer os seus diálogos, e matá-las ou salvá-las como me apetecer. E em que apareço e desapareço quando quero. E posso não só sentir o cheiro doce da nuca das mulheres que invento como roçar nelas o meu nariz. E até fazer "Nham!", se quiser, sem qualquer perigo.



(Luis Fernando Verissimo)

Soneto de Contrição

Eu te amo, Maria, eu te amo tanto
Que o meu peito me dói como em doença
E quanto mais me seja a dor intensa
Mais cresce na minha alma teu encanto.

Como a criança que vagueia o canto
Ante o mistério da amplidão suspensa
Meu coração é um vago de acalanto
Berçando versos de saudade imensa.

Não é maior o coração que a alma
Nem melhor a presença que a saudade
Só te amar é divino, e sentir calma...

E é uma calma tão feita de humildade
Que tão mais te soubesse pertencida
Menos seria eterno em tua vida.


(Vinicius de Moraes)

terça-feira, 13 de maio de 2008

Maio

Maio,
Já está no final
O que somos nós afinal
Se já não nos vemos mais
Estamos longe demais
Longe demais

Maio,
Já está no final
É hora de se mover
Pra viver mil vezes mais
Esqueça os meses
Esqueça os seus finais
Esqueça os finais
Eu preciso de alguém
Sem o qual eu passe mal
Sem o qual eu não seja ninguém
Eu preciso de alguém



(George Israel / Paula Toller)

Eu não esqueço nada

Vejo você de tão longe
Que só eu sei que é você
Só eu sei te ver

Lembro de tudo que houve
De tudo o que ia haver
Do que não foi nada
Dentro dos nadas que havia

Porque eu não esqueço nada
A não ser de te esquecer
Nem ao meio-dia
Nem de madrugada
Eu não esqueço nada
Eu não esqueci

Nem o alivio do fim
Nem o delírio do começo
Nem um dia comum

Você me trata tão bem
Mantém meu coração ferido
Vou lhe fazer um pedido
Não fique perto de mim

Porque eu não esqueço nada
A não ser de te esquecer
Nem ao meio-dia
Nem de madrugada
Eu não esqueço nada
Nem vou esquecer



(Paula Toller)

Eu contra a noite

Fiz um contrato com a noite,
O Céu sorriu estrelado
Ruas vazias de gente
Testemunhando desejos
Antecipando os seus gestos,
Leves complexos simples

Em pleno voou noturno
zona de pura alegria
a solidão sozinha
Corria atrás de mim
experimentando assim a si.

Hoje, hoje é meu dia de gente
Hoje é proibido dormir
Hoje, hoje é meu dia de gente
Até o amanhecer eu quero estar com Você
Quero estar com você!



(Paula Toller)

Amanhã é 23

As entradas do meu rosto
E os meus cabelos brancos
Aparecem a cada ano
No final do mês de Agosto

Há vinte anos você nasceu
Ainda guardo um retrato antigo
Mas agora que você cresceu
Não se parece nada comigo
Esse seu ar de tristeza
Alimenta a minha dor
Tua pose de princesa
De onde você tirou

Amanhã, amanhã...

Amanhã é 23
São 8 dias para o fim do mês
Faz tanto tempo que eu não te vejo
Queria o teu beijo outra vez


(Paula Toller / George Israel)

Mais uma canção

Nada vai mudar entre nós.
Como eu sei? Eu só sei.
Tudo vai permanecer igual, afinal,
Não há nada a fazer.

Eu não nego,
eu me entrego,
você é meu grande amor,
e hoje eu vou te dizer "eu te amo"

Eu imploro, eu te adoro,
você tem meu coração
A bater pra você

Como pode alguém perder você
Como eu fiz?
Como eu quis?

Vivo iludido a acreditar
Que o amor não se pôs em você.
Eu me entrego,eu não nego
Eu errei, mas sou capaz
De fazer sua vida melhor.

Tô voltando,
Não sei quando
Pra roubar teu coração,
vou chegar no final
de mais uma canção.


(Marcelo Camelo / Rodrigo Amarante)

Assim será

Assim que quer, assim será, eu vou pra não voltar
Toma este anel, que é pra anular o céu, o sol, o mar
Eu não queria ir assim
Tão triste, triste...

Vem dizer adeus ao que restou de quem um dia foi feliz.
Há de encontrar um encantador, um novo ou velho amor
Vai te levar leve a vagar prum lar de fina-flor
e você vai ser mais feliz longe de mim, por isso eu vou.
Mas não me peça pra amar outra mulher que não você.
Vou mas não me peça pra amar outra mulher que não

Sei que seu féu fenecerá em nome de nós dois,
Chuva do céu se encerrará pra ver nosso depois
Como vai ser ruim demais
Olhar o tempo ir sem ver
os seus abraços, seu sorriso ou suas rimas de amor.


(Marcelo Camelo)

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Aluga-se-vende

Alto lá
Não volte aqui, não
Quem lhe fez fingir viver
Uma vida feliz?


Tá, eu sei
Meras tolices
Nos fizeram sem querer
Precisar de um juiz


Ah! essas suas
Chaves já não
Servem mais
Meu quarto e sala já tem
Um corretor
E se você quiser
Terá de alugar, meu amor


Alto lá
Não fale assim, não
Nem no medo vão nos ver
Ter a vida feliz!


Mas cansei
Pois além disso
Nossa estupidez não nos
Deixou ver quanto gris


Ah! essas suas
Frases já não
Ofendem mais
Meu quarto e sala já tem
Um fiador
E se você quiser
Saiba que eu tenho já, meu amor.


Nem mais sei quem é você
Que está aqui de mudanças.
Só, vou lhe deixar aí!
Solidão e lembranças...



(Eduardo Borém)

domingo, 11 de maio de 2008

Feliz Dia das Mães!

Olá amigos!

Em homenagem às Mães, que tanto fazem por nós, o "Curtas Poéticas" tem o prazer de postar um lindo texto do Comercial da Marisa, desconheço o(a) autor(a), mas como gostei bastante das palavras, resolvi postar mesmo assim. Curta o dia com a família, são poucos os momentos como esse.Diga um "Eu Te Amo" para a sua Mãe!




"Vai entender as mães.
Um dia eu chutei a barriga da minha mãe e ela chorou de emoção.
Eu fiz ela engordar uns 20 quilos e ela só tinha palavras doces pra mim.
Fiz ela quase morrer de dor. E ela deu um grito de alegria quando me viu pela primeira vez.
Eu roubei o tempo dela, eu roubei o marido da minha mãe.
E a paixão só aumentou.
Mãe, definitivamente, você não bate bem.
E é por isso que eu te amo, loucamente."




Abçs!

sábado, 10 de maio de 2008

Sem Você

Sem você
Sem amor
É tudo sofrimento
Pois você
É o amor
Que eu sempre procurei em vão
Você é o que resiste
Ao desespero e à solidão
Nada existe
E o mundo triste
Sem você

Meu amor, meu amor
Nunca te ausentes de mim
Para que eu viva em paz
Para que eu não sofra mais
Tanta mágoa assim
Sem você


(Tom Jobim / Vinicius de Moraes)

Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.


Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.


Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz perenizada.




(Vinicius de Moraes)

Declaração de amor

Minha flor,
Minha flor,
Minha flor.
Minha prímula
Meu pelargônio
Meu gladíolo
Meu botão-de-ouro.
Minha peônia.
Minha cinerária
Minha calêndula
Minha boca-de-leão.
Minha gérbera.
Minha clívia.
Meu cimbídio.
Flor, flor, flor.
Floramarílis.
Floranêmona.
Florazálea.
Clematite minha.
Catléia delfínio estrelítzia.
Minha hortensegerânea.
Ah, meu nenúfar.
Rododendro e crisântemo e junquilho meus.
Meu ciclâmen.
Macieira-minha-do-japão.
Calceolária minha.
Daliabegônia minha.
Forsitiaíris tuliparrosa minhas.
Violeta...
Amor-mais-que-perfeito.
Minha urze.
Meu cravo-pessoal-de-defunto.
Minha corola sem cor e nome no chão de minha morte.



(Carlos Drummond de Andrade)

Amor e seu tempo

Amor é privilégio de maduros
Estendidos na mais estreita cama,
Que se torna a mais larga e mais relvosa,
Roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
O prêmio subterrâneo e coruscante,
Leitura de relâmpago cifrado,
Que, decifrado, nada mais existe

Valendo a pena e o preço do terrestre,
Salvo o minuto de ouro no relógio
Minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
Depois de se arquivar toda a ciência
Herdada, ouvida. amor começa tarde.



(Carlos Drummond de Andrade)

Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho,
e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor à procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa, amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.



(Carlos Drummond de Andrade)

Aos Namorados do Brasil

Dai-me, Senhor, assistência técnica
para eu falar aos namorados do Brasil.
Será que namorado algum escuta alguém?
Adianta falar a namorados?
E será que tenho coisas a dizer-lhes
que eles não saibam, eles que transformam
a sabedoria universal em divino esquecimento?
Adianta-lhes, Senhor, saber alguma coisa,
quando perdem os olhos
para toda paisagem ,
perdem os ouvidos
para toda melodia
e só vêem, só escutam
melodia e paisagem de sua própria fabricação?

Cegos, surdos, mudos - felizes! - são os namorados
enquanto namorados. Antes, depois
são gente como a gente, no pedestre dia-a-dia.
Mas quem foi namorado sabe que outra vez
voltará à sublime invalidez
que é signo de perfeição interior.
Namorado é o ser fora do tempo,
fora de obrigação e CPF,
ISS, IFP, PASEP,INPS.

Os códigos, desarmados, retrocedem
de sua porta, as multas envergonham-se
de alvejá-lo, as guerras, os tratados
internacionais encolhem o rabo
diante dele, em volta dele. O tempo,
afiando sem pausa a sua foice,
espera que o namorado desnamore
para sempre.
Mas nascem todo dia namorados
novos, renovados, inovantes,
e ninguém ganha ou perde essa batalha.

Pois namorar é destino dos humanos,
destino que regula
nossa dor, nossa doação, nosso inferno gozoso.
E quem vive, atenção:
cumpra sua obrigação de namorar,
sob pena de viver apenas na aparência.
De ser o seu cadáver itinerante.
De não ser. De estar, e nem estar.

O problema, Senhor, é como aprender, como exercer
a arte de namorar, que audiovisual nenhum ensina,
e vai além de toda universidade.
Quem aprendeu não ensina. Quem ensina não sabe.
E o namorado só aprende, sem sentir que aprendeu,
por obra e graça de sua namorada.

A mulher antes e depois da Bíblia
é pois enciclopédia natural
ciência infusa, inconciente, infensa a testes,
fulgurante no simples manifestar-se, chegado o momento.
Há que aprender com as mulheres
as finezas finíssimas do namoro.
O homem nasce ignorante, vive ignorante, às vezes morre
três vezes ignorante de seu coração
e da maneira de usá-lo.

Só a mulher (como explicar?)
entende certas coisas
que não são para entender. São para aspirar
como essência, ou nem assim. Elas aspiram
o segredo do mundo.

Há homens que se cansam depressa de namorar,
outros que são infiéis à namorada.
Pobre de quem não aprendeu direito,
ai de quem nunca estará maduro para aprender,
triste de quem não merecia, não merece namorar.

Pois namorar não é só juntar duas atrações
no velho estilo ou no moderno estilo,
com arrepios, murmúrios, silêncios,
caminhadas, jantares, gravações,
fins-de-semana, o carro à toda ou a 80,
lancha, piscina, dia-dos-namorados,
foto colorida, filme adoidado,,
rápido motel onde os espelhos
não guardam beijo e alma de ninguém.

Namorar é o sentido absoluto
que se esconde no gesto muito simples,
não intencional, nunca previsto,
e dá ao gesto a cor do amanhecer,
para ficar durando, perdurando,
som de cristal na concha
ou no infinito.

Namorar é além do beijo e da sintaxe,
não depende de estado ou condição.
Ser duplicado, ser complexo,
que em si mesmo se mira e se desdobra,
o namorado, a namorada
não são aquelas mesmas criaturas
que cruzamos na rua.
São outras, são estrelas remotíssimas,
fora de qualquer sistema ou situação.
A limitação terrestre, que os persegue,
tenta cobrar (inveja)
o terrível imposto de passagem:
"Depressa! Corre! Vai acabar! Vai fenecer!
Vai corromper-se tudo em flor esmigalhada
na sola dos sapatos..."
Ou senão:
"Desiste! Foge! Esquece!"
E os fracos esquecem. Os tímidos desistem.
Fogem os covardes.
Que importa? A cada hora nascem
outros namorados para a novidade
da antiga experiência.
E inauguram cada manhã
(namoramor)
o velho, velho mundo renovado.



(Carlos Drummond de Andrade)

Soneto de Inspiração

Não te amo como uma criança, nem
Como um homem e nem como um mendigo
Amo-te como se ama todo o bem
Que o grande mal da vida traz consigo.

Não é nem pela calma que me vem
De amar, nem pela glória do perigo
Que me vem de te amar, que te amo; digo
Antes que por te amar não sou ninguém.

Amo-te pelo que és, pequena e doce
Pela infinita inércia que me trouxe
A culpa é de te amar – soubesse eu ver

Através da tua carne defendida
Que sou triste demais para esta vida
E que és pura demais para sofrer.



(Vinicius de Moraes)

A mulher que passa

Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!

Oh! como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!

Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pêlos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me encontrava se te perdias?

Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida?
Para o que sofro não ser desgraça?

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!

No santo nome do teu martírio
Do teu martírio que nunca cessa
Meu Deus, eu quero, quero depressa
A minha amada mulher que passa!

Que fica e passa, que pacifica
Que é tanto pura como devassa
Que bóia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.



(Vinicius de Moraes)

Soneto de Agosto

Tu me levaste, eu fui... Na treva, ousados
Amamos, vagamente surpreendidos
Pelo ardor com que estávamos unidos
Nós que andávamos sempre separados.

Espantei-me, confesso-te, dos brados
Com que enchi teus patéticos ouvidos
E achei rude o calor dos teus gemidos
Eu que sempre os julgara desolados.

Só assim arrancara a linha inútil
Da tua eterna túnica inconsútil...
E para a glória do teu ser mais franco

Quisera que te vissem como eu via
Depois, à luz da lâmpada macia
O púbis negro sobre o corpo branco.



(Vinicius de Moraes)

Soneto à Lua

Por que tens, por que tens olhos escuros
E mãos lânguidas, loucas e sem fim
Quem és, quem és tu, não eu, e estás em mim
Impuro, como o bem que está nos puros?

Que paixão fez-te os lábios tão maduros
Num rosto como o teu criança assim
Quem te criou tão boa para o ruim
E tão fatal para os meus versos duros?

Fugaz, com que direito tens-me presa
A alma que por ti soluça nua
E não és Tatiana e nem Teresa:

E és tampouco a mulher que anda na rua
Vagabunda, patética, indefesa
Ó minha branca e pequenina lua!



(Vinicius de Moraes)

Mensagem de Amor

Os livros na estante
Já não tem mais
Tanta importância
Do muito que eu li
Do pouco que eu sei
Nada me resta

A não ser
A vontade de te encontrar
E o motivo eu ja nem sei
Nem que seja só para estar
Ao teu lado só pra ler
No teu rosto
Uma mensagem de amor

A noite eu me deito
Então escuto
A mensagem no ar
Tambores runfando
Eu ja não tenho
Nada pra te dar


A não ser
A vontade de te encontrar
E o motivo eu ja nem sei
Nem que seja só para estar
Ao teu lado só pra ler
No teu rosto
Uma mensagem de amor


No céu estrelado
Eu me perco
Com os pés na terra
Vagando entre os astros
Nada me move
Nem me faz parar


(Herbert Vianna)

sexta-feira, 9 de maio de 2008

O anjo mais velho

"O dia mente a cor da noite
E o diamante a cor dos olhos
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente"

Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete a cena se inverte
enchendo a minha alma d'aquilo
que outrora eu deixei de acreditar

Tua palavra, tua história
Tua verdade fazendo escola
e tua ausência fazendo silêncio em todo lugar

Metade de mim
Agora é assim
de um lado a poesia, o verbo, a saudade
Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim
e o fim é belo, incerto...
Depende de como você vê
o novo, o credo, a fé
que você deposita em você

Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você


(Fernando Anitelli)

De ontem em diante

De ontem em diante serei o que sou no instante agora
Onde ontem, hoje e amanhã são a mesma coisa
Sem a idéia ilusória de que o dia, a noite e a madrugada
São coisas distintas

Separadas pelo canto de um galo velho
Eu apóstolo contigo que não sabes do evangelho
Do versículo e da profecia
Quem surgiu primeiro? o antes, o outrora, a noite ou o dia?

Minha vida inteira é meu dia inteiro
Meus dilúvios imaginários ainda faço no chuveiro!
Minha mochila de lanches?
É minha marmita requentada em banho Maria!
Minha mamadeira de leite em pó
É cerveja gelada na padaria


Meu banho no tanque?
É lavar carro com mangueira
E se antes um pedaço de maçã
Hoje quero a fruta inteira
E da fruta tiro a polpa...
Da puta tiro a roupa
Da luta não me retiro

Me atiro do alto e que me atirem no peito
Da luta não me retiro...
Todo dia de manhã é nostalgia,
Das besteiras que fizemos ontem



(Fernando Anitelli)

Ana e o Mar

Veio de manha molhar os pés na primeira onda
Abriu os braços devagar e se entregou ao vento
O sol veio avisar que de noite ele seria a lua,
Pra poder iluminar...
Ana, o céu e o mar

Sol e vento, dia de casamento
Vento e sol, luz apagada num farol
Sol e chuva, casamento de viúva
Chuva e sol, casamento de espanhol

Ana aproveitava os carinhos do mundo
Os quatro elementos de tudo
Deitada diante do mar
Que apaixonado entregava as conchas mais belas
Tesouros de barcos e velas
Que o tempo não deixou voltar

Onde já se viu o mar apaixonado por uma menina?
Quem já conseguiu dominar o amor?
Por que é que o mar não se apaixona por uma lagoa
Porque a gente nunca sabe de quem vai gostar

Ana e o mar, mar e Ana
Histórias que nos contam na cama
Antes da gente dormir

Ana e o mar, mar e ana
Todo sopro que apaga uma chama
Reacende o que for pra ficar

Quando Ana entra n'água
O sorriso da ma-drugada
se estende pro resto do mundo
abençoando ondas cada vez mais altas
barcos com suas rotas e as conchas que vem avisar
desse novo amor
Ana e o mar



(Fernando Anitelli)

Pratodia

Como arroz e feijão,
é feita de grão em grão
Nossa felicidade

Como arroz e feijão
A perfeita combinação
Soma de duas metades

Como feijão e arroz
que só se encontram depois de abandonar a embalagem
Mas como entender que os dois
Por serem feijão e arroz
Se encontram só de passagem

Me jogou da panela
Pra nela eu me perder
Me sirvo a vontade... que vontade de te ver

O dia do prato chegou é quando eu encontro você
Nem me lembro o que foi diferente!
Mas assim como veio acabou e quando eu penso em você
Choro café e você chora leite

Choro café e você chora leite



(Fernando Anitelli)

A pedra mais alta

Me resolvi por subir na pedra mais alta
Pra te enxergar sorrindo da pedra mais alta
Contemplar teu ar, teu movimento, teu canto
Olhos feito pérola, cabelo feito manto

Sereia bonita sentada na pedra mais alta
To pensando em me jogar de cima da pedra mais alta
Vou mergulhar, talvez bater cabeça no fundo
Vou dar braçadas remar todos mares do mundo

O medo fica maior de cima da pedra mais alta
Sou tão pequenininho de cima da pedra mais alta
Me pareço conchinha ou será que conchinha acha que sou eu?
Tudo fica confuso de cima da pedra mais alta

Quero deitar na tua escama
Teu colo confessionário
De cima da pedra não se fala em horário
Bem sei da tua dificuldade na terra
Farei o possível pra morar contigo na pedra

Sereia bonita descansa teus braços em mim
Não quero tua poesia teu tesouro escondido
Deixa a onda levar todo esboço de idéia de fim
Defina comigo o traçado do nosso sentido

Quero teu sonho visível da pedra mais alta
Quero gotas pequenas molhando a pedra mais alta
Quero a música rara o som doce choroso da flauta
Quero você inteira e minha metade de volta


(Fernando Anitelli)

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Tão Longe de Tudo

Solidão amiga do peito
Me dê tudo que eu tenha por direito
Me diga, me ensina

Ao dormir não sinto medo
Há um sol, existe vida
Me trate com jeito
Eu tenho saída

Eu quero calor e o mundo é frio
Minha vaidade não enxerga o paraíso
Eu preciso de alguém pra fugir,
sem avisar ninguém

Não vou olhar pra trás
A saudade está morta
E já não me importa
Está longe demais
Longe demais de tudo
Eu estou longe demais
Longe demais de tudo
Eu estou longe demais
Tão perto de mim
Tão longe de tudo



(Guto Goffi)

Down em Mim

Eu não sei o que o meu corpo abriga
Nestas noites quentes de verão
E nem me importa que mil raios partam
Qualquer sentido vago de razão
Eu ando tão down
Eu ando tão down

Outra vez vou te cantar, vou te gritar
Te rebocar do bar
E as paredes do meu quarto vão assistir comigo
À versão nova de uma velha história
E quando o sol vier socar minha cara
Com certeza você já foi embora
Eu ando tão down
Eu ando tão down

Outra vez vou me esquecer
Pois nestas horas pega mal sofrer
Da privada eu vou dar com a minha cara
De panaca pintada no espelho
E me lembrar, sorrindo, que o banheiro
É a igreja de todos os bêbados
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Down...



(Cazuza / Frejat)

Amor, meu grande amor

Amor, meu grande amor
Não chegue na hora marcada
Assim como as canções
Como as paixões
E as palavras.

Me veja nos seus olhos
Na minha cara lavada
Me venha sem saber
Se sou fogo
Ou se sou água.

Amor, meu grande amor
Me chegue assim
Bem de repente
Sem nome ou sobrenome
Sem sentir
O que não sente.

Que tudo o que ofereço
É, meu calor, meu endereço
A vida do teu filho
Desde o fim, até o começo.

Amor, meu grande amor
Só dure o tempo que mereça
E quando me quiser
Que seja de qualquer maneira.

Enquanto me tiver
Que eu seja
O último e o primeiro
E quando eu te encontrar
Meu grande amor
Me reconheça.

Que tudo que ofereço
É, meu calor, meu endereço
A vida do teu filho
Desde o fim até o começo.



(Angela Ro Ro / Ana Terra)

Maior Abandonado

Eu tô perdido
Sem pai nem mãe
Bem na porta da tua casa
Eu tô pedindo
A tua mão
E um pouquinho do braço

Migalhas dormidas do teu pão
Raspas e restos
Me interessam
Pequenas porções de ilusão
Mentiras sinceras me interessam
Me interessam...

Eu tô pedindo
A tua mão
Me leve prá qualquer lado
Só um pouquinho
De proteção
Ao maior abandonado

Teu corpo com amor ou não
Raspas e restos me interessam
Me interessam

Me ame como a um irmão
Mentiras sinceras me interessam
Me interessam...


(Cazuza / Frejat)

Ponto Fraco

Benzinho, eu ando pirado
Rodando de bar em bar
Jogando conversa fora
Só pra te ver
Passando, gingando
Me encarando
Me enchendo de esperança
Me maltratando a visão

Girando de mesa em mesa
Sorrindo pra qualquer um
Fazendo cara de fácil, é
Jogando duro
Com o coração, gracinha
Todo mundo tem um ponto fraco
Você é o meu, por que não?
Você é o meu, por que não?



(Cazuza / Roberto Frejat)

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Amor, Amor

Madrugada
Azul, sem luz
Dias de brinquedo
Linda assim me veio
E eu me entreguei
Inocentemente
Como um selvagem
Como o brilho esperto
Dos olhos de um cão

Amor, amor
Diz que pode, depois morde
Pelas costas sem querer
Amor, amor
Assim como um leão caçando o medo

Meu caminho nesse mundo, eu sei
Vai ter um brilho incerto e louco
Dos que nunca perdem pouco
Nunca levam pouco
Mas se um dia eu me der bem
Vai ser sem jogo

Amor, amor
Fiel me trai, me azeda
Me adoça e me faz viver.

Amor, amor
Eu quero só paixão
Fogo e segredo.


(Cazuza / Frejat / George Israel)

O nosso mundo

Se eu ainda soubesse
Como mudar o mundo
Se eu ainda pudesse
Saber um pouco de tudo
Eu voltaria atrás do tempo

Eu não te deixaria
Presa no passado
E arrumaria um jeito
Pra você estar ao meu lado de novo
Eu voltaria no tempo

Pra voltar pra ontem
Sem temer o futuro
E olhar pra hoje
Cheio de orgulho
Eu voltaria atrás do tempo

Os nossos erros
Seriam apagados
Nossos primeiros desejos
Ressuscitados
E de novo eu voltaria no tempo

Eu não te deixaria desistir tão fácil
E não te negaria nenhum abraço
De novo
Eu voltaria no tempo

E a gente fez
Nosso futuro
Quase quebrando
O nosso mundo
O nosso mundo
Nosso mundo



(Maurício Barros / Guto Goffi)

terça-feira, 6 de maio de 2008

Eu não sei nada

Eu não vim até aqui te divertir
Se me divirto, de algo já valeu
Não vim dançar, sorrir, te tratar bem
Lutar por algo que já não é meu

Eu sei do tempo, conheço seus danos
No que eu fui, no que eu não pude ser
Nos meus acertos e nos desenganos
Do que eu sei, nada serve pra você

E eu só quero dizer
Que eu não sei nada de você
E eu só quero dizer
Não sei muito de mim também

Os dedos que apontam rumos
Senhores, juízes do valor
Não são os meus, eu já não julgo
Não estou na sua pele, sua dor...


(Herbert Vianna)

Partir, Andar

Partir, andar, eis que chega
É essa velha hora tão sonhada
Nas noites de velas acesas
No clarear da madrugada
Só uma estrela anunciando o fim
Sobre o mar, sobre a calçada
E nada mais te prende aqui
Dinheiro, grades ou palavras

Partir, andar, eis que chega
Não há como deter a alvorada
Pra dizer, um bilhete sobre a mesa
Pra se mandar, o pé na estrada
Tantas mentiras e no fim
Faltava só uma palavra
Faltava quase sempre um sim
Agora já não falta nada

Eu não quis
Te fazer infeliz
Não quis
Por tanto não querer
Talvez fiz.


(Herbert Vianna)

Vamos Viver

Vamos consertar o mundo
Vamos começar lavando os pratos
Nos ajudar uns aos outros
Me deixe amarrar os seus sapatos
Vamos acabar com a dor
E arrumar os discos numa prateleira
Vamos viver só de amor
Que o aluguel venceu na terça-feira

O sonho agora é real
E a chuva cai por uma fresta no telhado
Por onde também passa o sol
Hoje é dia de supermercado

Vamos viver só de amor

E não ter que pensar, pensar
No que está faltando, no que sobra
Nunca mais ter que lembrar, lembrar
De pôr travas e trancas nas portas


(Herbert Vianna)

A mais

Não quero um dia a mais
quero um dia de paz
Não quero o vendaval
Só o sono e o sonho dos mortais

Não leve a mal
sou só mais um
quero uma noite tranquila
um amanhecer comum

Ainda é possível respirar
As cores ainda trazem emoção
Um verso pra fazer uma canção
Às vezes tem a força da bomba nuclear

Outono também traz inspiração
Tantos invernos já inesquecíveis
Nas madrugadas mornas do verão
Na simplicidade eu vejo as coisas mais incríveis



(Pedro Luís / Herbert Vianna)

Hoje Canções

Gosto de ouvir
O mar me dizer
Coisas que eu sonhei
Sem saber
Navegar o tempo é sempre assim
Começa pelo fim

Tantas paixões
No sol do verão
Hoje canções
No meu coração
A saudade traz você pra mim
E a espera não é ruim

Pois tem sol
E um mar
Da cor do céu
Do amor

Gosto de ver
O sol despertar
Outros verões
No seu coração
Navegar a vida é se entregar ao sonho
Longo, breve
Louco, leve
Mas seu


(Paulo Sérgio Valle / Herbert Vianna)

Nada por Mim

Você me tem fácil demais
Mas não parece capaz
De cuidar do que possui
Você sorriu e me propôs
Que eu te deixasse em paz
Me disse vai, eu não fui

Não faça assim
Não faça nada por mim
Não vá pensando que eu sou seu

Você me diz o que fazer
Mas não procura entender
Que eu faço só pra te agradar
Me diz até o que vestir
Com quem andar e aonde ir
Mas não me pede pra voltar


(Herbert Vianna / Paula Toller)

Cuide bem do seu amor

A vida sem freio me leva, me arrasta, me cega
No momento em que eu queria ver
O segundo que antecede o beijo
A palavra que destrói o amor
Quando tudo ainda estava inteiro
No instante em que desmoronou
Palavras duras em voz de veludo
E tudo muda, adeus velho mundo
Há um segundo tudo estava em paz

Cuide bem do seu amor
Seja quem for

E cada segundo, cada momento, cada instante
É quase eterno, passa devagar
Se o seu mundo for o mundo inteiro
Sua vida, seu amor, seu lar
Cuide tudo que for verdadeiro
Deixe tudo que não for passar

Palavras duras em voz de veludo
E tudo muda, adeus velho mundo
Há um segundo tudo estava em paz

Cuide bem do seu amor
Seja quem for

Palavras duras em voz de veludo
E tudo muda, adeus velho mundo
Há um segundo tudo estava em paz


(Herbert Vianna)

Só Vou Gostar De Quem Gosta De Mim

De hoje em diante vou modificar
O meu modo de vida
Naquele instante que você partiu
Destruiu nosso amor
Agora não vou mais chorar
Cansei de esperar, de esperar enfim
E pra começar eu só vou gostar
De quem gosta de mim

Não quero com isso dizer que o amor
Não é bom sentimento
A vida é tão bela quando a gente ama
Tem um amor
Por isso é que eu vou mudar
Não quero ficar
Chorando até o fim
E pra não chorar
Eu só vou gostar de quem gosta de mim

Não vai ser fácil, eu bem sei
Eu já procurei, não encontrei meu bem
A vida é assim, eu falo por mim
Pois eu vivo sem ninguém



(Rossini Pinto)

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Angra dos Reis

Deixa, se fosse sempre assim quente
Deita aqui perto de mim
Tem dias que tudo está em paz
E agora os dias são iguais

Se fosse só sentir saudade
Mas tem sempre algo mais
Seja como for
É uma dor que dói no peito
Pode rir agora que estou sozinho
Mas não venha me roubar

Vamos brincar perto da usina
Deixa pra lá, a angra é dos reis
Por que se explicar se não existe perigo?

Senti teu coração perfeito batendo à toa
E isso dói
Seja como for
É uma dor que dói no peito
Pode rir agora que estou sozinho
Mas não venha me roubar

Vai ver que não é nada disso
Vai ver que já não sei quem sou
Vai ver que nunca fui o mesmo
A culpa é toda sua e nunca foi

Mesmo se as estrelas começassem a cair
E a luz queimasse tudo ao redor
E fosse o fim chegando cedo
E você visse o nosso corpo em chamas

Deixa pra lá
Quando as estrelas começarem a cair
Me diz, me diz pra onde é que a gente vai fugir?



(Renato Russo)

Andrea Doria

Às vezes parecia
Que, de tanto acreditar
Em tudo que achávamos tão certo
Teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais
Faríamos floresta do deserto
E diamantes de pedaços de vidro
Mas percebo agora
Que o teu sorriso
Vem diferente
Quase parecendo te ferir

Não queria te ver assim
Quero a tua força como era antes.
O que tens é só teu
E de nada vale fugir
E não sentir mais nada

Às vezes parecia
Que era só improvisar
E o mundo então seria um livro aberto
Até chegar o dia em que tentamos ter demais
Vendendo fácil o que não tinha preço
Eu sei, é tudo sem sentido
Quero ter alguém com quem conversar
Alguém que depois
Não use o que eu disse
Contra mim

Nada mais vai me ferir
É que já me acostumei
Com a estrada errada que eu segui
E com a minha própria lei
Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais
Como eu sei que tens também.



(Renato Russo)

Eu sei

Sexo verbal não faz meu estilo
Palavras são erros, e os erros são seus
Não quero lembrar que eu erro também
Um dia pretendo tentar descobrir
Porque é mais forte quem sabe mentir
Não quero lembrar que eu minto também

Eu sei,Eu sei...

Feche a porta do seu quarto
Porque se toca o telefone pode ser alguém
Com quem você quer falar
Por horas e horas e horas
A noite acabou, talvez tenhamos que fugir sem você
Mas não, não vá agora, quero honras e promessas
Lembranças e histórias
Somos pássaro novo longe do ninho
Eu sei,Eu sei...


(Renato Russo)

Vamos Fazer um filme

Achei um 3x4 teu e não quis acreditar
Que tinha sido a tanto tempo atrás
Um exemplo de bondade e respeito
Do que o verdadeiro amor é capaz.

A minha escola não tem personagem
A minha escola tem gente de verdade
Alguém falou do fim do mundo,
O fim do mundo já passou
Vamos começar de novo:
Um por todos, todos por um.

O sistema é mau, mas minha turma é legal
Viver é foda, morrer é difícil
Te ver é uma necessidade
Vamos fazer um filme.

E hoje em dia, como é que se diz: "Eu te amo."?

Sem essa de que: "Estou sozinho."
Somos muito mais que isso
Somos pingüim, somos golfinho
Homem, sereia e beija-flor

Leão, leoa e leão-marinho
Eu preciso e quero ter carinho, liberdade e respeito
Chega de opressão.
Quero viver a minha vida em paz.

Quero um milhão de amigos
Quero irmãos e irmãs
Deve de ser cisma minha
Mas a única maneira ainda
De imaginar a minha vida
É vê-la como um musical dos anos trinta

E no meio de uma depressão
Te ver e ter beleza e fantasia.

E hoje em dia, como é que se diz: "Eu te amo."?
E hoje em dia, como é que se diz: "Eu te amo."?
E hoje em dia, como é que se diz: "Eu te amo."?
E hoje em dia, vamos fazer um filme ?

Eu te amo
Eu te amo
Eu te amo



(Renato Russo)

domingo, 4 de maio de 2008

Homenagem - Lulu Santos

Olá Amigos!

Hoje (4/05) Lulu Santos completa mais um ano de vida.Aqui vai uma pequena, mas sincera homenagem ao rei do pop nacional.Só posts com suas letras.
Viva Lulu!

Começo com "Condição"

Eu não sou diferente de ninguém
Quase todo mundo faz assim
Eu me viro bem melhor
Quando tá mais pra bom que pra ruim
Não quero causar impacto
Nem tampouco sensação
O que eu digo é muito exato
E o que cabe na canção, né não?


Qualquer um que ouve entende
Não precisa explicação
E se for pensar um pouco
Vai me dar toda razão
A senhora, a senhorita e também o cidadão
Todo mundo que se preza
Nega fogo não

Eu não sei viver sem ter carinho
É a minha condição
Eu não sei viver triste e sozinho
É a minha condição
Eu não sei viver preso ou fugindo

Casa

Primeiro era vertigem
Como em qualquer paixão
Era só fechar os olhos
E deixar o corpo ir
No ritmo...
Depois era um vício
Uma intoxicação
Me corroendo as veias
Me arrastando pelo chão
Mas sempre tinha a cama pronta
E rango no fogão
Luz acesa, me espera no portão
Pra você ver
Que eu tô voltando pra casa
de vez
Que eu tô voltando pra casa
Outra vez

Às vezes a tormenta
Fosse uma navegação
Pode ser que o barco vire
Também pode ser que não
Já dei meia volta ao mundo
Levitando de tesão
Tanto gozo e sussuro
Já impressos no colchão
Pois sempre tem a cama pronta
E rango no fogão
Luz acesa, me espera no portão
Pra você ver
Que eu tô voltando pra casa
De vez
Que eu tô voltando pra casa
Outra vez


(Lulu Santos)