quinta-feira, 30 de abril de 2009

Foi a Saudade

Tentei até demais
Corri, busquei, fui atrás
Mas não consegui te encontrar
Pensei que uma noite seria o bastante
Mas nem só por um instante
Consegui parar de pensar em você

O meu desejo falou mais forte
Peço à vida que dê sorte
E ilumine o meu caminho
Pra que eu possa te encontrar
Vou de novo de amar
E não te perder de vista

Se com você tudo é melhor
Sem você vou de mal a pior
Pra mim não existe vida

Se eu me pego sem você
Posso até me perder
Virar vadio nesse mundo

Foi a saudade que fez
Eu chorar outra vez
E buscar o meu amor
Não, não quero solidão
Só quero a tua paixão
E ser feliz de novo.


(Val Hoffmann)

Devaneio

Mergulhei no mar
E não dava pé
Me apaixonei
Mas não sei por quem
Sonho com alguém
Que você não é

Eu me entreguei demais
Eu imaginei demais
E o silêncio fala mais que a traição
Foi um devaneio meu
Um veraneio seu
E um outono inteiro
Em minhas mãos

Vi um sol nascer
Pelos olhos seus
Me deixei levar
Eu não refleti
Que era a luz dos meus
Refletida em ti

Eu me entreguei demais
Eu imaginei demais
E o silêncio fala mais que a traição

Foi um devaneio meu
Um veraneio seu
E um outono inteiro em minhas mãos


(Jorge Vercilo)

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Pra rua me levar

Não vou viver como alguém que só espera um novo amor
Há outras coisas no caminho aonde eu vou
As vezes ando só, trocando passos com a solidão
Momentos que são meus e que não abro mão

Já sei olhar o rio por onde a vida passa
Sem me precipitar e nem perder a hora
Escuto no silêncio que há em mim e basta
Outro tempo começou pra mim agora

Vou deixar a rua me levar
Ver a cidade se acender
A lua vai banhar esse lugar
E eu vou lembrar você


É... mas tenho ainda muita coisa pra arrumar
Promessas que me fiz e que ainda não cumpri
Palavras me aguardam o tempo exato pra falar
Coisas minhas, talvez você nem queira ouvir

Já sei olhar o rio por onde a vida passa
Sem me precipitar e nem perder a hora
Escuto no silêncio que há em mim e basta
Outro tempo começou pra mim agora

Vou deixar a rua me levar
Ver a cidade se acender
A lua vai banhar esse lugar
E eu vou lembrar você...


(Ana Carolina / Totonho Villeroy)

Nada Te Faltará

Pra onde vamos
As vans, carros e bicicletas?
Certezas avessas
Comércio de guerra
Legado de merda

Mais de um bilhão de chineses
Marchando sem deuses
E outros descalços
Fazendo sapatos
Pra nobres e ratos

Sobe do solo
A nuvem de óleo com cheiro
De enxofre queimado
Fudendo com os ares
E outras barbáries

Quero mudança total
Uma idéia genial
A ciência e o amor
A favor do futuro
Quero o claro no escuro

Peço paz aos filhos de abraão
Quero gandhi na melhor versão

E nada vai me faltar, e nada te faltará
E nada vai me faltar, e nada te faltará

Pra onde seguem os barcos?
Os homens, suas trilhas
Seus filhos e filhas
No pau da miséria?
Um pico na artéria

As mulheres pedintes perdidas
Que já quase loucas
Dividem o frio da noite
Com as drags
As mães e os "carregues"

Meninas sangrando na boca
E no meio das pernas
No meio da noite
Tomando cacete
Sem dente, sem leite

Quero respeito
Os humanos direitos
Fazendo pensar os pilares
De uma nova era
Que não seja quimera

Peço paz aos filhos de abraão
Quero gandhi na melhor versão

E nada vai me faltar, e nada te faltará.


(Ana Carolina / Antônio Villeroy)

terça-feira, 28 de abril de 2009

De noite na cama

De noite na cama
Eu fico pensando
Se você me ama
E quando

Se você me ama
Eu fico pensando
De noite na cama
E quando

De dia eu faço graça
Pra não dar bandeira
Não deixo você ver
De dia tudo passa
Como brincadeira
Por longe de você

Por onde você mora
Parece demora
Por hora não vou ter
Coragem de dizer
Mas há de haver a hora
Se você for embora
Agora.


(Caetano Veloso)

Coisas que não se esquece

Mexendo no meu passado
Aperto em minhas mãos
Velhas cartas já marcadas
Pelo tempo antigas fotograficas
Quase já sem cor
Em um momento de saudade
Nessa lagrima de amor
são coisas que não se esquece
Só finge quem desconhece
Não dá pra esconder verdades
Sobre o que ficou
São coisas que não se esquece
E mesmo que eu quisesse
As fotos não negam os fatos
Do que se passou
com tantas lembranças suas
Tenho que viver
E até quando eu não quero
Lembro de você
Momentos inesquecíveis
Nosso amor deixou
No mais intimos de nós
Essa história que ficou
São coisas...que se passou.


(Mauro Motta / Eduardo Ribeiro)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Sobre Praias

Vem agora, ó bem-amada...

Dentro de mim,
mora uma praia ensolarada,
um mar imenso e algumas vagas.

Às vezes, tu mesma
surges dessas águas
e vais à areia me namorar.

Mas o carinho, que me dás,
ó bem-amada,
tem o peso da tua ausência...

(tua boca, ainda molhada,
tem o sabor das minhas lágrimas...)


(Filipe Couto)

http://asoutraspalavras.blogspot.com/

Sobre Partidas

Vais porque és todo mar,
e já não te contentam
minhas praias desertas,
repletas só de areia, só de mim.

Vais porque és todo vento,
e já não te contentam
meus portos (assim seguros,
assim bentos, assim sem fim).

Mas antes desta nova partida,
deita um pouco no meu colo,

faz teu mar
dos meus olhos,

torna meus braços
teu barco

(e leva, com todo cuidado,
um sonho meu pra navegar).


(Filipe Couto)

http://asoutraspalavras.blogspot.com/

domingo, 26 de abril de 2009

Sobre Covardias

Fecha os teus olhos e escuta essa chuva
que (tão calma...) tudo inunda.

Agora escuta (atento)
o lamento do vento nos vidros
e respira fundo o frio todo que faz lá fora.

Aproveita, vai aí dentro do teu peito
e me procura naquele breve espaço
escondido entre a culpa e o desejo.

E se você, por acaso, me encontrar,
por favor, me arranca de lá...

(um coração que, por medo, não sangra
não pode nunca ser o meu lar)


(Filipe Couto)

http://asoutraspalavras.blogspot.com/

Sobre o Futuro

A timidez dos seus livros, o silêncio
das suas roupas, a despensa vazia...
nossa casa me sussurra a sua partida.

(é tão difícil acabar com o segredo
e explicar pro nosso espelho
que ele não vai mais te encontrar...)

Nesse tempo todo, você sempre
me ensinou até onde eu posso chegar...

Mas agora, mirando este quarto escuro,
sinto que preciso desaprender tudo,
para, sozinha, conseguir me libertar.



(Filipe Couto)

http://asoutraspalavras.blogspot.com/

sábado, 25 de abril de 2009

A língua lambe

A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,

entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.


(Carlos Drummond de Andrade)

Sob o chuveiro amar

Sob o chuveiro amar, sabão e beijo,
ou na banheira amar, de água vestidos,
amor escorregante, foge, prende-se,
torna a fugir, água nos olhos, bocas,
dança, navegação, mergulho, chuva,
essa espuma nos ventres, a brancura
triangular do sexo — é água, esperma,
é amor se esvaindo, ou nos tornamos fontes?



(Carlos Drummond de Andrade)

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Solidão

Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.


(Clarice Lispector)

Deus

Mesmo para os descrentes há a pergunta duvidosa: e depois da morte? Mesmo para os descrentes há o instante de desespero: que Deus me ajude. Neste mesmo instante estou pedindo que Deus me ajude. Estou precisando. Precisando mais do que a força humana. E estou precisando da minha própria força. Sou forte mas também sou destrutiva. Autodestrutiva. E quem é autodestrutivo também destrói os outros. Estou ferindo muita gente. E Deus tem que vir a mim, já que eu não tenho ido a Ele. Venha, Deus, venha. Mesmo que eu não mereça, venha. Ou talvez os que menos merecem precisem mais. Só uma coisa a favor de mim eu posso dizer: nunca feri de propósito. E também me dói quando percebo que feri. Mas tantos defeitos tenho. Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que não sei usar amor: às vezes parecem farpas. Se tanto amor dentro de mim recebi e continuo inquieta e infeliz, é porque preciso que Deus venha. Venha antes que seja tarde demais.


(Clarice Lispector)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Os Degraus

Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...


(Mario Quintana)

Deixa-me seguir para o mar

Deixa-me seguir para o Mar
Tenta esquecer-me... Ser lembrado é como
evocar-se um fantasma... Deixa-me ser
o que sou, o que sempre fui, um rio que vai fluindo...


Em vão, em minhas margens cantarão as horas,
me recamarei de estrelas como um manto real,
me bordarei de nuvens e de asas,
às vezes virão em mim as crianças banhar-se...


Um espelho não guarda as coisas refletidas!
E o meu destino é seguir... é seguir para o Mar,
as imagens perdendo no caminho...
Deixa-me fluir, passar, cantar...

toda a tristeza dos rios
é não poderem parar!


(Mario Quintana)

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Do Fundo do Meu Coração

Eu cada vez que vi você chegar
Me fazer sorrir e me deixar
Decidido eu disse: nunca mais

Mas, novamente estúpido provei
Desse doce amargo quando eu sei
Cada volta sua o que me faz

Vi todo o meu orgulho em sua mão
Deslizar, se espatifar no chão
Vi o meu amor tratado assim

Mas basta agora o que você me fez
Acabe com essa droga de uma vez
Não volte nunca mais p'ra mim
Acabe com essa droga de uma vez
Não volte nunca mais p'ra mim

Eu toda vez que vi você voltar
Eu pensei que fosse p'ra ficar
E mais uma vez falei que sim

Mas já depois de tanta solidão
Do fundo do meu coração
Não volte nunca mais p'ra mim
Do fundo do meu coração
Não volte nunca mais p'ra mim

Se me perguntar se ainda é seu
Todo o meu amor eu sei que eu
Certamente vou dizer que sim

Mas já depois de tanta solidão
Do fundo do meu coração
Não volte nunca mais p'ra mim
Acabe com essa droga de uma vez
Não, não volte nunca mais!


(Roberto Carlos / Erasmo Carlos)

Amar Pra Viver Ou Pra Morrer de Amor

Vamos reviver nativos sentimentos
Vamos editar os bons momentos
Depois passar o filme por aí
Vamos evitar veneno em nosso vinho
Não deixar que as setas se embriaguem
Do sangue que semeia nosso chão
Guerra, mas só se for
Guerras de amor

Mísseis de flores, flores, flores
Bombas de isopor
De repente, mergulhar com otimismo
E nadar nas águas turvas do abismo
Evitar que mais de mil persiga um só
Viemos do mesmo pó
Fim ao desamor

Amar pra viver
Ou morrer de amor.


(Erasmo Carlos/ Roberto Carlos)

terça-feira, 21 de abril de 2009

Ainda Somos Iguais

Quis fechar dos poros ao coração
Quis sair do fundo do poço que me afogou
Quis te dizer o que eu nunca disse a ninguém
Quis te abraçar como nunca te abracei
Nem a mais ninguém

Nada mudou
Ainda somos iguais
E quem não errou
Ainda somos mortais

Quis juntar pedaços de mim no chão
Quis curar o tanto de dor que me desmontou
Quis te dizer o que eu nunca disse a ninguém
Quis te abraçar como nunca te abracei
Nem a mais ninguém.


(Marcus Menna / Sérgio Ferreira / Bicudo / Daniel Lopes)

No Fim

Mais uma tarde que chega sem poder te ver
Nem sei se vale, as flores não vão me dizer
Tão longe e mesmo assim
Te espero bem aqui no fim

As casas passam e tudo muda de lugar
Eu tô voltando de novo só pra te encontrar
De perto e mesmo assim
Te quero só pra mim no fim

Pra gente entender que só assim
Eu volto de novo pra você
Se for pra ficar até o fim
Ou adeus

Guarde um sorriso daqueles quando eu chegar
Só preciso de um segundo pra te amar
De perto e mesmo assim
Te quero só pra mim no fim.


(Marcus Menna)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Cariocas

Cariocas são bonitos
Cariocas são bacanas
Cariocas são sacanas
Cariocas são dourados
Cariocas são modernos
Cariocas são espertos
Cariocas são diretos
Cariocas não gostam
de dias nublados

Cariocas nascem Bambas
Cariocas nascem craques
Cariocas tem sotaque
Cariocas são alegres
Cariocas são atentos
Cariocas são tão sexys
Cariocas são tão claros
Cariocas não gostam
de sinal fechado...

(Adriana Calcanhotto)

Meu mundo e nada mais

Quando eu fui ferido vi tudo mudar
Das verdades que eu sabia
Só sobraram restos que eu não esqueci
Toda aquela paz que eu tinha


Eu que tinha tudo hoje estou mudo, estou mudado
À meia-noite, à meia luz, pensando
Daria tudo por um modo de esquecer

Eu queria tanto estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia luz, sonhando
Daria tudo por meu mundo e nada mais

Não estou bem certo se ainda vou sorrir
Sem um trago de amargura
Como ser mais livre, como ser capaz
De enxergar um novo dia


Meu mundo e nada mais...


(Guilherme Arantes)

domingo, 19 de abril de 2009

A Cachorrinha

Mas que amor de cachorrinha!
Mas que amor de cachorrinha!

Pode haver coisa no mundo
Mais branca, mais bonitinha
Do que a tua barriguinha
Crivada de mamiquinha?

Pode haver coisa no mundo
Mais travessa, mais tontinha
Que esse amor de cachorrinha
Quando vem fazer festinha
Remexendo a traseirinha?
Uau, uau, uau, uau!
Uau, uau, uau, uau!

(Tom Jobim / Vinicius de Moraes)

Fotografia

Eu, você, nós dois
Aqui neste terraço à beira-mar
O sol já vai caindo e o seu olhar
Parece acompanhar a cor do mar
Você tem que ir embora
A tarde cai
Em cores se desfaz,
Escureceu
O sol caiu no mar
E aquela luz
Lá em baixo se acendeu...
Você e eu

Eu, você, nós dois
Sozinhos neste bar à meia-luz
E uma grande lua saiu do mar
Parece que este bar já vai fechar
E há sempre uma canção
Para contar
Aquela velha história
De um desejo
Que todas as canções
Têm pra contar
E veio aquele beijo
Aquele beijo.


(Tom Jobim)

sábado, 18 de abril de 2009

Metrópole

"É sangue mesmo, não é mertiolate"
E todos querem ver
E comentar a novidade.
"É tão emocionante um acidente de verdade"
Estão todos satisfeitos
Com o sucesso do desastre:
"Vai passar na televisão...
Vai passar na televisão"


"Por gentileza, aguarde um momento.
Sem carteirinha não tem atendimento -
Carteira de trabalho assinada, sim senhor.
Olha o tumulto: façam fila por favor."
"Todos com a documentação.
Todos com a documentação."

Quem não tem senha não tem lugar marcado.
Eu sinto muito mas já passa do horário.
Entendo seu problema mas não posso resolver:
É contra o regulamento, está bem aqui, pode ver.
Ordens são ordens.
Ordens são ordens.

Em todo caso já temos sua ficha.
Só falta o recibo comprovando residência.
Pra limpar todo esse sangue, chamei a faxineira -
E agora eu vou indo senão perco a novela
E eu não quero ficar na mão.
E eu não quero ficar na mão.


(Renato Russo)

Fátima

Vocês esperam uma intervenção divina
Mas não sabem que o tempo agora está contra vocês
Vocês se perdem no meio de tanto medo
De não conseguir dinheiro pra comprar sem se vender
E vocês armam seus esquemas ilusórios
Continuam só fingindo que o mundo ninguém fez
Mas acontece que tudo tem começo
E se começa, um dia acaba
Eu tenho pena de vocês

E as ameaças de ataque nuclear
Bombas de nêutrons não foi Deus quem fez
Alguém, alguém um dia vai se vingar
Vocês são vermes, pensam que são reis
Não quero ser que nem vocês
Eu não preciso mais mais mais mais mais mais
Eu já sei o que eu tenho que saber
E agora tanto faz

Três crianças sem dinheiro e sem moral
Não ouviram a voz suave que era uma lágrima
E se esqueceram de avisar pra todo mundo
Ela talvez tivesse um nome e era Fátima
E de repente o vinho virou água
E a ferida não cicatrizou
E o limpo se sujou e no terceiro dia
Ninguém ressucitou.


(Renato Russo / Flávio Lemos)

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Eu amo você

Toda vez que eu olho
Toda vez que eu chamo
Toda vez que eu penso
Em lhe dar

O meu amor,
Meu coração
(Pensa que não vai ser possível)
De lhe encontrar
(Pensa que não vai ser possível)
De lhe amar
(Pensa que não vai ser possível)
Te conquistar...

Eu amo você, menina.
Eu amo você! Juro!
Eu amo você, menina.
Eu amo você!...

Eu te amo! Eu te amo!


(Tim Maia)

Você

De repente a dor
De esperar terminou
E o amor veio enfim
Eu que sempre sonhei
Mas não acreditei
Muito em mim

Vi o tempo passar
O inverno chegar
Outra vez mas desta vez
Todo pranto sumiu
Um encanto surgiu
Meu amor

Você
É mais do que sei
É mais que pensei
É mais que esperava, baby

Você
É algo assim
É tudo pra mim
É como eu sonhava, baby

Sou feliz agora
Não, não vá embora não
Não, não, não, não, não!

Não não vá embora
Vou morrer de saudade...
Vou morrer de saudade...


(Tim Maia)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Ela me faz chorar

Eu sei que sempre fiz o melhor e dei tudo
de mim
Eu não tenho culpa se o seu amor acabou
Já chega de tanto esperar por você
Nosso amor não tem solução
Só eu fiz porque nunca quis
Que essa dor no peito viesse começar
A me fazer chorar, a me fazer sofrer
Mas a vida quis assim
Que eu te amasse assim
Que eu sofresse assim

Vem, solidão "tá" me matando
Eu "tô" morrendo sem você
Vem, traz de volta aquele amor
Que me dá forças pra viver
Preciso de você
Eu quero só você, só você...


(Bruno / Fátima Leão)

Esqueça

Esqueça..se ele não te ama
Esqueça..se ele não te quer
Não chore mais, não sofra assim
Porque eu posso te dar amor sem fim

Ele não pensa, em querer-te
Te faz sofrer e até chorar

Não chore mais, vem pra mim
Vem, não sofra, não pense...
Não chore mais, meu bem...


(M. Anthony / Roberta Côrte Real)

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Aconteceu

Aconteceu quando a gente não esperava,
Aconteceu sem um sino pra tocar.
Aconteceu diferente das histórias
Que os romances e a memória
Têm costume de contar.

Aconteceu sem que o chão tivesse estrelas,
Aconteceu sem um raio de luar.
O nosso amor foi chegando de mansinho,
Se espalhou devagarinho,
Foi ficando até ficar.

Aconteceu sem que o mundo agradecesse,
Sem que rosas florescessem,
Sem um canto de louvor.
Aconteceu sem que houvesse nenhum drama,
Só o tempo fez a cama,
Como em todo grande amor.


(Pericles Cavalcante)

Belíssima

Porque a beleza te escolheu
Para se representar.
O mundo pode ser seu,
Você só deve ser ou estar.

Porque o belo te elegeu
Para se mostrar?
O mundo quer te pertencer,
É só você querer ou desprezar.

Comigo não, belíssima
Com truques não, belíssima
Comigo nada menos do que você me deixou entrever
Por trás do aço do reflexo que te faz embevecida.


(Adriana Calcanhotto)

terça-feira, 14 de abril de 2009

Tudo Bem

Já não tenho dedos pra contar
De quantos barrancos despenquei
E quantas pedras me atiraram
Ou quantas atirei
Tanta farpa tanta mentira
Tanta falta do que dizer
Nem sempre é "so easy" se viver

Hoje eu não consigo mais me lembrar
De quantas janelas me atirei
E quanto rastro de incompreensão
Eu já deixei
Tantos bons quanto maus motivos
Tantas vezes desilusão
E quase
Quase nunca a vida é um balão

Mas o teu amor me cura
De uma loucura qualquer
É encostar no seu peito
E se isso for algum defeito
Por mim tudo bem
tudo bem


Já não tenho dedos pra contar
De quantas janelas me atirei
E quanto rastro de incompreensão
Eu já deixei
Tantos bons quanto maus motivos
Tantas vezes desilusão
E quase
Quase nunca a vida é um balão

Mas o teu amor me cura
De uma loucura qualquer
É encostar no seu peito
E se isso for algum defeito
Por mim tudo bem
Tudo bem, tudo bem.


(Lulu Santos / Nelson Motta)

Um pro outro

Foi bom te ver de novo aqui
A gente tinha mesmo tanta razão pra seguir
Fora o som dessa guitarra
A voz sempre rouca
E o coração na mão

Surpresa certa te encontrar
A tua onda pega bem mesmo em qualquer lugar
Até na esquina do pecado
O que for da vida não nos deterá

Nós somos feitos um pro outro
Pode crer
Por isso é que eu estou aqui
E não há lógica que faça desandar
O que o acaso decidir

Tanta certeza no olhar
Tamanha pressa de chegar a nenhum lugar
Só pra ter a sensação
De que a vida passa assim como um tufão

Nós somos feitos um pro outro
Pode crer
Por isso é que eu estou aqui
E não há lógica que faça desandar
O que o acaso decidir.


(Lulu Santos)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Deusa da Ilusão

Jezabel, princesa de Babel
de Babilônia e Xanadú
Meu Xangrilá és tu
tesouro do Eldorado
Sou teu guerreiro de Esparta
teu guardião

Selena que me ilumina o céu
e organiza os oceanos
É teu meu tempo e mais
é tua a minha história
é teu meu reino da memória

Ó Feiticeira de Judah
que me incendeia e faz voar
Sereia do meu mar
astronave do meu ar
Edelweiss do Himalaia
tu és maia, tu és má
Tu és a deusa da ilusão e eu te amo...


(Lulu Santos)

Cadê Você

Onde esta você
É o que eu quero saber
Como se me descobrir
Só dependesse de lhe conhecer

E ainda que não saiba quem é
Lhe vejo andando pela cidade
Desejo é o seu disfarce
Só desconheço o nome e a identidade

Cadê Você

Eu quero rir
Quero sair e me divertir
Talvez se eu relaxar
Alguma coisa venha a surgir

O medo é que você ao entrar
Me encontre ali sonhando acordado
Quem sabe o que pode acontecer
É impossível que tudo dê sempre errado

Então você pode me aparecer
Fecho os olhos para melhor lhe ver

Onde está você
É o que eu quero saber
Como se me descobrir
Só dependesse de lhe conhecer.


(Lulu Santos / Alvin L.)

domingo, 12 de abril de 2009

Contrastes

A antítese do novo e do absoleto,
O Amor e a Paz, o Ódio e a Carnificina,
O que o homem ama e o que o homem abomina,
Tudo convém para o homem ser completo!

O ângulo obtuso, pois, e o ângulo reto,
Uma feição humana e outra divina
São como a eximenina e a endimenina
Que servem ambas para o mesmo feto!

Eu sei tudo isto mais do que o Eclesiastes!
Por justaposição destes contrastes,
Junta-se um hemisfério a outro hemisfério,

Às alegrias juntam-se as tristezas,
E o carpinteiro que fabrica as mesas
Faz também os caixões do cemitério!...


(Augusto dos Anjos)

Idealismo

Falas de amor, e eu ouço tudo e calo
O amor na Humanidade é uma mentira.
É. E é por isto que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.

O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!
Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sibarita e da hetaíra,
De Messalina e de Sardanapalo?

Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique imaterializado
- Alavanca desviada do seu fulcro -

E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!


(Augusto dos Anjos)

sábado, 11 de abril de 2009

Solitário

Como um fantasma que se refugia
Na solidão da natureza morta,
Por trás dos ermos túmulos, um dia,
Eu fui refugiar-me à tua porta!

Fazia frio e o frio que fazia
Não era esse que a carne nos contorta...
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!

Mas tu não vieste ver minha Desgraça!
E eu saí, como quem tudo repele,
-- Velho caixão a carregar destroços --

Levando apenas na tumba carcaça
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!


(Augusto dos Anjos)

A Idéia

De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!

Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!

Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica ...

Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No mulambo da língua paralítica.


(Augusto dos Anjos)

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Canção

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar


Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.


O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...


Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.


Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.


(Cecília Meireles)

Monólogo

Para onde vão minhas palavras,
se já não me escutas?
Para onde iriam, quando me escutavas?
E quando me escutaste? - Nunca.

Perdido, perdido.
Ai, tudo foi perdido!
Eu e tu perdemos tudo.
Suplicávamos o infinito.
Só nos deram o mundo.

De um lado das águas, de um lado da morte,
tua sede brilhou nas águas escuras.
E hoje, que barca te socorre?
Que deus te abraça? Com que deus lutas?

Eu, nas sombras. Eu, pelas sombras,
com as minhas perguntas.
Para quê? Para quê? Rodas tontas,
em campos de areias longas
e de nuvens muitas.


(Cecília Meireles)

quinta-feira, 9 de abril de 2009

É Preciso Dizer Adeus

É inútil fingir
Não te quero enganar
É preciso dizer adeus
É melhor esquecer
Sei que devo partir
Só me resta dizer adeus

Ah, eu te peço perdão
Mas te quero lembrar
Como foi lindo
O que morreu

E essa beleza do amor
Que foi tão nossa
E me deixa tão só
Eu não quero perder
Eu não quero chorar
Eu não quero trair
Porque tu foste pra mim
Meu amor
Como um dia de sol.


(Tom Jobim / Vinicius de Moraes)

Valsa do amor de nós dois

Vem ver o mar
Vem que Copacabana é linda
Vamos ser só nós dois
E o que vai ser depois
É melhor, é melhor nem pensar

Ah, namorar ...
Os casais nem parecem saber
Nos seus beijos de amor
E o que resta depois
É a valsa do amor de nós dois

Pelas linhas sinuosas
Do passeio à beira-mar
Todo o Rio de Janeiro
Vai querer dançar

E nós, depois
Partiremos num beijo de luz
Pelo céu ao luar
A dançar, a dançar
Esta valsa do amor
De nós dois.


(Tom Jobim / Vinicius de Moraes)

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Soneto

Por que me descobriste no abandono
Com que tortura me arrancaste um beijo
Por que me incendiaste de desejo
Quando eu estava bem, morta de sono

Com que mentira abriste meu segredo
De que romance antigo me roubaste
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo

Por que não me deixaste adormecida
E me indicaste o mar, com que navio
E me deixaste só, com que saída

Por que desceste ao meu porão sombrio
Com que direito me ensinaste a vida
Quando eu estava bem, morta de frio.


(Chico Buarque)

Sem Fantasia

Vem, meu menino vadio
Vem, sem mentir pra você
Vem, mas vem sem fantasia
Que da noite pro dia
Você não vai crescer

Vem, por favor não evites
Meu amor, meus convites
Minha dor, meus apelos
Vou te envolver nos cabelos
Vem perde-te em meus braços
Pelo amor de Deus

Vem que eu te quero fraco
Vem que eu te quero tolo
Vem que eu te quero todo meu

Ah, eu quero te dizer
Que o instante de te ver
Custou tanto penar
Não vou me arrepender
Só vim te convencer
Que eu vim pra não morrer

De tanto te esperar
Eu quero te contar
Das chuvas que apanhei
Das noites que varei
No escuro a te buscar
Eu quero te mostrar
As marcas que ganhei
Nas lutas contra o rei
Nas discussões com Deus
E agora que cheguei
Eu quero a recompensa
Eu quero a prenda imensa
Dos carinhos teus.


(Chico Buarque)

terça-feira, 7 de abril de 2009

Flores

Olhei até ficar cansado
De ver os meus olhos no espelho
Chorei por ter despedaçado
As flores que estão no canteiro
Os punhos e os pulsos cortados
E o resto do meu corpo inteiro
Há flores cobrindo o telhado
E embaixo do meu travesseiro
Há flores por todos os lados
Há flores em tudo que eu vejo

A dor vai curar essas lástimas
O soro tem gosto de lágrimas
As flores têm cheiro de morte
A dor vai fechar esses cortes
Flores
Flores
As flores de plástico não morrem

Olhei até ficar cansado
De ver os meus olhos no espelho
Chorei por ter despedaçado
As flores que estão no canteiro
Os punhos e os pulsos cortados
E o resto do meu corpo inteiro
Há flores cobrindo o telhado
E embaixo do meu travesseiro
Há flores por todos os lados
Há flores em tudo que eu vejo.


(Tony Bellotto / Sérgio Britto / Charles Gavin / Paulo Miklos)

Marvin

Meu pai não tinha educação
Ainda me lembro
Era um grande coração
Ganhava a vida
Com muito suor
E mesmo assim
Não podia ser pior
Pouco dinheiro
Prá poder pagar
Todas as contas
E despesas do lar...

Mas Deus quis
Vê-lo no chão
Com as mãos
Levantadas pr'o céu
Implorando perdão
Chorei!
Meu pai disse:
"Boa sorte"
Com a mão no meu ombro
Em seu leito de morte
E disse:
"Marvin, agora é só você
E não vai adiantar
Chorar vai me fazer sofrer"...

E três dias depois de morrer
Meu pai, eu queria saber
Mas não botava
Nem os pés na escola
Mamãe lembrava
Disso a toda hora...

E todo dia
Antes do sol sair
Eu trabalhava
Sem me distrair
As vezes acho que
Não vai dar pé
Eu queria fugir
Mas onde eu estiver
Eu sei muito bem
O que ele quis dizer
Meu pai, eu me lembro
Não me deixa esquecer
Ele disse:
"Marvin, a vida é prá valer
Eu fiz o meu melhor
E o seu destino
Eu sei de cor"...

-"E então um dia
Uma forte chuva veio
E acabou com o trabalho
De um ano inteiro
E aos treze anos
De idade eu sentia
Todo o peso do mundo
Em minhas costas
Eu queria jogar
Mas perdi a aposta"...

Trabalhava feito
Um burro nos campos
Só via carne
Se roubasse um frango
Meu pai cuidava
De toda a família
Sem perceber
Segui a mesma trilha
E toda noite minha mãe orava
Deus!
Era em nome da fome
Que eu roubava
Dez anos passaram
Cresceram meus irmãos
E os anjos levaram
Minha mãe pelas mãos
Chorei!
Meu pai disse:
"Boa sorte"
Com a mão no meu ombro
Em seu leito de morte
E disse:

"Marvin, agora é só você
E não vai adiantar
Chorar vai me fazer sofrer"
"Marvin, a vida é prá valer
Eu fiz o meu melhor
E o seu destino eu sei de cor"...


(Sergio Britto / Nando Reis)

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Evaporar

Tempo a gente tem
Quanto a gente dá
Corre o que correr
Custa o que custar

Tempo a gente dá
Quanto a gente tem
Custa o que correr
Corre o que custar

O tempo que eu perdi
Só agora eu sei
Aprender a dar foi o que ganhei
E ando ainda atrás desse tempo ter
Pude não correr pra ele me encontrar
Não se mexer
Beija-flor no ar

O rio fica lá, a água é que correu
Chega na maré, ele vira mar
Como se morrer fosse desaguar
Derramar no céu, seu purificar
Deixar pra trás sais e minerais
Evaporar


(Rodrigo Amarante)

Vida Doce

Toda beira é final de dois,
Eu deixo tudo sempre pra fazer mais tarde
e assim eu caminho no tempo que bem entender
Afinal faz parte de mim ser assim.
Mais um pouco e vai dar sinal
brinco de esconder
caminho de fé
não vou mais só no que a vida me traz.

Vida que é doce levar o caminho é de fé,
diga que eu não vou,
onde você for vida me leva
e todo sentimento me carrega.

Quem no balanço do mar caminha num baque só,
Quem no balanço do mar caminha num baque só
vida que é doce levar, avisa de lá que eu já sei,
todo balanço que dá neste navegar naveguei.


(Marcelo Camelo)

domingo, 5 de abril de 2009

Tatuí

O tempo todo eu vi
Você quis olhar pra mim
E mesmo sem saber
Pôs no pensamento
uma mensagem pr'eu te ver

Só porque eu te olhei
Você fez que não me viu
Que não podia ver
Já sabendo o que será
se cada um pensar

Que juntos,
num segundo a mais desse olhar se faz
Um sonho,
que acordado é muito mais do que dormindo

Foi pr'eu acordar
Que eu vi você se aproximar de mim
Fez que vinha; deu a volta e se
abraçou com outro alguém

Tudo não passou de ilusão
Parecia a vida me dizendo:
- caia em si, Tatuí!

Que juntos,
num segundo a mais desse olhar se faz
Um sonho,
que acordado é muito mais do que dormindo.


(Rodrigo Amarante)

Certa Noite

Hoje você me deixou
Quer dizer
Hoje você me deixou de novo
Depois a gente volta
Sempre voltou
Você voltou
Voltou sempre que me deixou
Mas há sempre algo que se lasca
Que se acaba
Uma magia que se estraga
Uma vela que se apaga
Aos poucos
Um abalo que um dia, talvez, não dê mais jeito
Uma ofensa que, talvez, desta vez, não dê conserto
E então chega um dia em que eu não te reconheço
Um dia que não vem depois do outro
Uma certa noite
Fora do tempo
E então um dia eu não me reconheço
E quero o que eu nem sabia
Que era isso que eu queria

Uma noite tão quente como essa
Pode ser um novo começo
Poder, querer, ser
Sem ter você

Se você não me quer mais
Eu quero me perder

Se você não me quer mais
Eu quero te perder

Se você não me quer mais
Eu quero

Que o fogo que vem de baixo
Seja fogo negro, intenso
Um fogo sem descaso
Pra me queimar em silêncio
E então finalmente eu me esqueço
E me entrego
Você é quem me dá tudo quente e espesso
Que me dá tudo que eu mereço
E não me nego
Então eu danço
Danço


(Alex Antunes)

sábado, 4 de abril de 2009

Das vantagens de ser bobo

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir tocar no mundo.
O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo, estou pensando."
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas.
O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo parece nunca ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era que o aparelho estava tão estragado que o concerto seria caríssimo: mais vale comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar,e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado.
O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu. Aviso: não confundir bobos com burros.
Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação, os bobos ganham a vida.

Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.
Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas! Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.


(Clarice Lispector)

Saudade

Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.

(Clarice Lispector)

sexta-feira, 3 de abril de 2009

L'Âge D'Or

Aprendi a esperar
Mas não tenho mais certeza
Agora que estou bem
Tão pouca coisa me interessa...

Contra minha própria vontade
Sou teimoso, sincero
Insisto em ter
Vontade própria...

Que a sorte foi um dia
Alheia ao meu sustento
Não houve harmonia
Entre ação e pensamento...

Qual é teu nome?
Qual é teu signo?
Teu corpo é gostoso
Teu rosto é bonito...

Qual é o teu arcano?
Tua pedra preciosa?
Acho tocante
Acreditares nisso...

Já tentei muitas coisas
De heroína a Jesus
Tudo que já fiz
Foi por vaidade
Jesus foi traído
Com um beijo
Davi teve um grande amigo
Não sei mais
Se é só questão de sorte...

Eu vi uma serpente
Entrando no jardim
Vai ver
Que é de verdade dessa vez...

Meu tornozelo coça
Por causa de mosquito
Estou com os cabelos molhados
Me sinto limpo...

Não existe beleza na miséria
E não tem volta por aqui
Vamos tentar outro caminho
Estamos em perigo
Só que ainda não entendo
É que tudo faz sentido...

E não sei mais
Se é só questão de sorte
Não sei mais, não sei mais
Não sei mais...

Oh! Oh!
Lá vem os jovens
Gigantes de mármore
Oh! Oh! Oh! Oh!
Trazendo anzóis
Nas palmas da mão
Oh! Oh! Oh! Oh!...

Não é belo todo
E qualquer mistério
Oh! Oh! Oh! Oh!
O maior segredo
É não haver mistério algum
Oh! Oh! Oh! Oh!...


(Renato Russo)

Faroeste Caboclo

Não tinha medo o tal João de Santo Cristo
Era o que todos diziam quando ele se perdeu
Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda
Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu

Quando criança só pensava em ser bandido
Ainda mais quando com um tiro de soldado o pai morreu
Era o terror da sertania onde morava
E na escola até o professor com ele aprendeu

Ia pra igreja só prá roubar o dinheiro
Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar
Sentia mesmo que era mesmo diferente
Sentia que aquilo ali não era o seu lugar

Ele queria sair para ver o mar
E as coisas que ele via na televisão
Juntou dinheiro para poder viajar
De escolha própria, escolheu a solidão

Comia todas as menininhas da cidade
De tanto brincar de médico, aos doze era professor.
Aos quinze, foi mandado pro o reformatório
Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror.

Não entendia como a vida funcionava
Discriminação por causa de sua classe ou sua cor
Ficou cansado de tentar achar resposta
E comprou uma passagem, foi direto a Salvador.

E lá chegando foi tomar um cafezinho
E encontrou um boiadeiro com quem foi falar
E o boiadeiro tinha uma passagem e ia perder a viagem
Mas João foi lhe salvar

Dizia ele: "Estou indo pra Brasília
Neste país lugar melhor não há
Estou precisando visitar a minha filha
Eu fico aqui e você vai no meu lugar"

E João aceitou sua proposta
E num ônibus entrou no Planalto Central
Ele ficou bestificado com a cidade
Saindo da rodoviária, viu as luzes de Natal

"Meu Deus, mas que cidade linda,
No Ano-Novo eu começo a trabalhar"
Cortar madeira, aprendiz de carpinteiro
Ganhava cem mil por mês em Taguatinga

Na sexta-feira ia pra zona da cidade
Gastar todo o seu dinheiro de rapaz trabalhador
E conhecia muita gente interessante
Até um neto bastardo do seu bisavô

Um peruano que vivia na Bolívia
E muitas coisas trazia de lá
Seu nome era Pablo e ele dizia
Que um negócio ele ia começar

E o Santo Cristo até a morte trabalhava
Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar
E ouvia às sete horas o noticiário
Que sempre dizia que o seu ministro ia ajudar

Mas ele não queria mais conversa
E decidiu que, como Pablo, ele ia se virar
Elaborou mais uma vez seu plano santo
E sem ser crucificado, a plantação foi começar.

Logo logo os maluco da cidade souberam da novidade:
"Tem bagulho bom ai!"
E João de Santo Cristo ficou rico
E acabou com todos os traficantes dali.

Fez amigos, freqüentava a Asa Norte
E ia pra festa de rock, pra se libertar
Mas de repente
Sob uma má influência dos boyzinho da cidade
Começou a roubar.

Já no primeiro roubo ele dançou
E pro inferno ele foi pela primeira vez
Violência e estupro do seu corpo
"Vocês vão ver, eu vou pegar vocês"

Agora o Santo Cristo era bandido
Destemido e temido no Distrito Federal
Não tinha nenhum medo de polícia
Capitão ou traficante, playboy ou general

Foi quando conheceu uma menina
E de todos os seus pecados ele se arrependeu
Maria Lúcia era uma menina linda
E o coração dele pra ela o Santo Cristo prometeu

Ele dizia que queria se casar
E carpinteiro ele voltou a ser
"Maria Lúcia pra sempre vou te amar
E um filho com você eu quero ter"

O tempo passa e um dia vem na porta
Um senhor de alta classe com dinheiro na mão
E ele faz uma proposta indecorosa
E diz que espera uma resposta, uma resposta do João

"Não boto bomba em banca de jornal
Nem em colégio de criança isso eu não faço não
E não protejo general de dez estrelas
Que fica atrás da mesa com o cú na mão

E é melhor senhor sair da minha casa
Nunca brinque com um Peixes de ascendente Escorpião"
Mas antes de sair, com ódio no olhar, o velho disse:
"Você perdeu sua vida, meu irmão

"Você perdeu a sua vida meu irmão
Você perdeu a sua vida meu irmão
Essas palavras vão entrar no coração
Eu vou sofrer as conseqüências como um cão"

Não é que o Santo Cristo estava certo
Seu futuro era incerto e ele não foi trabalhar
Se embebedou e no meio da bebedeira
Descobriu que tinha outro trabalhando em seu lugar

Falou com Pablo que queria um parceiro
E também tinha dinheiro e queria se armar
Pablo trazia o contrabando da Bolívia
E Santo Cristo revendia em Planaltina

Mas acontece que um tal de Jeremias,
Traficante de renome, apareceu por lá
Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo
E decidiu que, com João ele ia acabar

Mas Pablo trouxe uma Winchester-22
E Santo Cristo já sabia atirar
E decidiu usar a arma só depois
Que Jeremias começasse a brigar

Jeremias, maconheiro sem-vergonha
Organizou a Rockonha e fez todo mundo dançar
Desvirginava mocinhas inocentes
Se dizia que era crente mas não sabia rezar

E Santo Cristo há muito não ia pra casa
E a saudade começou a apertar
"Eu vou me embora, eu vou ver Maria Lúcia
Já tá em tempo de a gente se casar"

Chegando em casa então ele chorou
E pro inferno ele foi pela segunda vez
Com Maria Lúcia Jeremias se casou
E um filho nela ele fez

Santo Cristo era só ódio por dentro
E então o Jeremias pra um duelo ele chamou
Amanhã às duas horas na Ceilândia
Em frente ao lote 14, é pra lá que eu vou

E você pode escolher as suas armas
Que eu acabo mesmo com você, seu porco traidor
E mato também Maria Lúcia
Aquela menina falsa pra quem jurei o meu amor

E o Santo Cristo não sabia o que fazer
Quando viu o repórter da televisão
Que deu notícia do duelo na TV
Dizendo a hora e o local e a razão

No sábado então, às duas horas,
Todo o povo sem demora foi lá só para assistir
Um homem que atirava pelas costas
E acertou o Santo Cristo, começou a sorrir

Sentindo o sangue na garganta,
João olhou pras bandeirinhas e pro povo a aplaudir
E olhou pro sorveteiro e pras câmeras e
A gente da TV que filmava tudo ali

E se lembrou de quando era uma criança
E de tudo o que vivera até ali
E decidiu entrar de vez naquela dança
"Se a via-crucis virou circo, estou aqui"

E nisso o sol cegou seus olhos
E então Maria Lúcia ele reconheceu
Ela trazia a Winchester-22
A arma que seu primo Pablo lhe deu

"Jeremias, eu sou homem. coisa que você não é
E não atiro pelas costas não
Olha pra cá filha-da-puta, sem-vergonha
Dá uma olhada no meu sangue e vem sentir o teu perdão"

E Santo Cristo com a Winchester-22
Deu cinco tiros no bandido traidor
Maria Lúcia se arrependeu depois
E morreu junto com João, seu protetor

E o povo declarava que João de Santo Cristo
Era santo porque sabia morrer
E a alta burguesia da cidade
Não acreditou na história que eles viram na TV

E João não conseguiu o que queria
Quando veio pra Brasília, com o diabo ter
Ele queria era falar pro presidente
Pra ajudar toda essa gente que só faz...

Sofrer...


(Renato Russo)

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Preciso Dizer Que Te Amo

Quando a gente conversa
Contando casos, besteiras
Tanta coisa em comum
Deixando escapar segredos
E eu não sei que hora dizer
Me dá um medo, que medo

É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
É, eu preciso dizer que eu te amo
Tanto

E até o tempo passa arrastado
Só pra eu ficar do teu lado
Você me chora dores de outro amor
Se abre e acaba comigo
E nessa novela eu não quero
Ser teu amigo

É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
É, eu preciso dizer que eu te amo, tanto

Eu já nem sei se eu tô misturando
Eu perco o sono
Lembrando em cada riso teu
Qualquer bandeira
Fechando e abrindo a geladeira
A noite inteira

Eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo, tanto


(Dé / Bebel Gilberto / Cazuza)

Faz parte do meu show

Te pego na escola e encho a tua bola com todo o meu amor
Te levo pra festa e testo o teu sexo com ar de professor
Faço promessas malucas tão curtas quanto um sonho bom
Se eu te escondo a verdade, baby, é pra te proteger da solidão

Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor

Confundo as tuas coxas com as de outras moças
Te mostro toda a dor
Te faço um filho
Te dou outra vida pra te mostrar quem sou
Vago na lua deserta das pedras do Arpoador
Digo 'alô' ao inimigo
Encontro um abrigo no peito do meu traidor

Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor

Invento desculpas, provoco uma briga, digo que não estou
Vivo num 'clip' sem nexo
Um pierrot retrocesso
meio bossa nova e 'rock'n roll'

Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor

Meu amor, meu amor, meu amor...


(Cazuza / Renato Ladeira)

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Vida Louca Vida

Vida louca vida
Vida breve
Já que eu não posso te levar
Quero que você me leve
Vida louca vida
Vida imensa
Ninguém vai nos perdoar
Nosso crime não compensa

Se ninguém olha quando você passa você logo acha 'Eu to carente'
'Eu sou manchete popular'
Tô cansado de tanta babaquice, tanta caretice
Desta eterna falta do que falar

Se ninguém olha quando você passa você logo acha que a vida voltou ao normal
Aquela vida sem sentido, volta sem perigo
É a mesma vida sempre igual
Se niguém olha quando você passa você logo diz 'Palhaço'
Você acha que não tá legal
Corre todos os perigos, perde os sentidos
Você passa mal

Vida louca vida
Vida breve
Já que eu não posso te levar
Quero que você me leve
Vida louca vida
Vida imensa
Ninguém vai nos perdoar
Nosso crime não compensa

Se ninguém olha quando você passa você logo acha 'Eu tô carente'
'Eu sou manchete popular'
Tô cansado de tanta caretice, tanta babaquice
Desta eterna falta do que falar

Vida louca vida
Vida breve
Já que eu não posso te levar
Quero que você me leve
Vida louca vida
Vida imensa
Ninguém vai nos perdoar
Nosso crime não compensa.


(Lobão / Bernardo Vilhena)

Todo Amor que Houver Nessa Vida

Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia

E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno antimonotonia

E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio, o mel e a ferida
E o corpo inteiro como um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente não

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria


(Frejat / Cazuza)