segunda-feira, 30 de junho de 2008

Aqui

Aqui
Eu nunca disse que iria ser
A pessoa certa pra você
Mas sou eu quem te adora
Se fico um tempo sem te procurar
É pra saudade nos aproximar
E eu já não vejo a hora

Eu não consigo esconder
Certo ou errado, eu quero ter você
Ei, você sabe que eu não sei jogar
Não é meu dom representar
Não dá pra disfarçar
Eu tento aparentar frieza mas não dá
É como uma represa pronta pra jorrar
Querendo iluminar
A estrada, a casa, o quarto onde você está
Não dá pra ocultar
Algo preso quer sair do meu olhar
Atravessar montanhas e te alcançar
Tocar o seu olhar
Te fazer me enxergar e se enxergar em mim

Aqui
Agora que você parece não ligar
Que já não pensa e já não quer pensar
Dizendo que não sente nada
Estou lembrando menos de você
Falta pouco pra me convencer
Que sou a pessoa errada

Eu não consigo esconder
Certo ou errado, eu quero ter você
Ei, você sabe que eu não sei jogar
Não é meu dom representar
Não dá pra disfarçar
Eu tento aparentar frieza mas não dá
É como uma represa pronta pra jorrar
Querendo iluminar
A estrada, a casa, o quarto onde você está
Não dá pra ocultar
Algo preso quer sair do meu olhar
Atravessar montanhas e te alcançar
Tocar o seu olhar
Te fazer me enxergar e se enxergar em mim





(Antônio Villeroy / Ana Carolina)

Quem de nós dois

Eu e você
Não é assim tão complicado
Não é difícil perceber
Quem de nós dois
Vai dizer que é impossível
O amor acontecer

Se eu disser que já nem sinto nada
Que a estrada sem você é mais segura
Eu sei você vai rir da minha cara

Eu já conheço o teu sorriso, leio teu olhar
Teu sorriso é só disfarce
E eu já nem preciso
Sinto dizer
Que amo mesmo, tá ruim pra disfarçar

Entre nós dois
Não cabe mais nenhum segredo
Além do que já combinamos
No vão das coisas que a gente disse
Não cabe mais sermos somente amigos

E quando eu falo que eu já nem quero
A frase fica pelo avesso
Meio na contra-mão
E quando finjo que esqueço
Eu não esqueci nada

E cada vez que eu fujo, eu me aproximo mais
E te perder de vista assim é ruim demais
E é por isso que atravesso o teu futuro
E faço das lembranças um lugar seguro

Não é que eu queira reviver nenhum passado
Nem revirar um sentimento revirado
Mas toda vez que eu procuro uma saída
Acabo entrando sem querer na tua vida

Eu procurei qualquer desculpa pra não te encarar
Pra não dizer de novo e sempre a mesma coisa
Falar só por falar

Que eu já não tô nem aí pra essa conversa
Que a história de nós dois não me interessa
Se eu tento esconder meias verdades
Você conhece o meu sorriso
Leu no meu olhar
Meu sorriso é só disfarce
Por que eu já nem preciso




(Ana Carolina / Dudu Falcão/ Gean Luca Grignani / Massima Luca)

Sorte e Azar

Tudo está
Fora de seu lugar
Já notei
O mundo não foi
Feito pra mim

Vivo só
Pra me arrepender
De eu não ser
Do tipo que diz
Sem querer

O que está fora
De seu lugar
Que você venha pra modificar

Sorte e azar
Vão me disputar

E eu não fui
Capaz de me mover
Daqui até ali



(John / Ricardo Koctus / Sândalo Bessa)

Nada pra mim

Eu não vim aqui
Pra entender ou explicar
Nem pedir nada pra mim
Não quero nada pra mim
Eu vim pelo que sei
E pelo que sei

Você gosta de mim é por isso que eu vim
Eu não quero cantar
Pra ninguém a canção
Que eu fiz pra você

Que eu guardei pra você
Pra você não esquecer
Que eu tenho um coração
E é seu

Tudo mais que eu tenho
Tenho tempo de sobra
Tenho um jogo de botão
Tenho essa canção


(John)

domingo, 29 de junho de 2008

Eu

Eu...queria tanto encontrar
Uma pessoa como eu
A quem eu possa confessar
alguma coisa sobre mim

Quando acontece um grande amor
assim como você e eu
o tempo passa por nós dois
não lembro o que aconteceu

Eu...queria tanto encontrar
Uma pessoa como eu
A quem eu possa confessar
alguma coisa sobre mim

Mas nem por isso vou ficar
a questionar os erros meus
Você precisa procurar
Achar o que você perdeu

Eu...queria tanto encontrar
Uma pessoa como eu
A quem eu possa confessar
alguma coisa sobre mim


(Marcelo Birck / Frank Jorge / Alexandre Birck / Carlo Pianta)

Canção pra você viver mais

Nunca pensei um dia chegar
E te ouvi dizer:
Não é por mal
Mas vou te fazer chorar
Hoje vou te fazer chorar

Não tenho muito tempo
Tenho medo de ser um só
Tenho medo de ser só um
Alguém pra se lembrar
Alguém pra se lembrar
Alguém pra se lembrar

Faz um tempo que eu quis
Fazer uma canção
Pra você viver mais
Faz um tempo que eu quis
Fazer uma canção
Pra você viver mais

Deixei que tudo desaparecesse
E perto do fim
Não pude mais encontrar
E o amor ainda estava lá
O amor ainda estava lá...


(John)

sábado, 28 de junho de 2008

Onde Está O Meu Amor?

Onde está o meu amor?
Quem será?
Com quem se parece?
Deve estar por ai
Ou será que nem me conhece?...

Onde andará o meu amor?
Seja onde for
Irá chegar!...

Onde está o meu amor?
Que será que ele faz da vida?
Deve saber amar e outras coisas
Que Deus duvida...

Corre, se esconde
Finge que não
Jura que sim
Morre de amores
Aonde?
Longe de mim!...

Onde está o meu amor?
Leve e envolto
Em tanto mistério
Deve saber voar
Deve ser tudo que eu espero...

Onde andará o meu amor?
Seja onde for
Eu sei que vai chegar
Vai chegar!...

Corre, se esconde
Finge que não
Jura que sim
Morre de amores
Aonde?
Longe de mim
Onde está o meu amor?
Deve estar em algum lugar!



(Paulo Ricardo)

A Rainha

Vem como uma chuva de verão, atenção!
Vem como um relâmpago no céu, um trovão
Vem súbito e intenso como um sinal
Vem como uma mulher, como um vendaval

Lábios cor de vinho tinto
Sabe o que estou sentindo e tem
Olhos da cor do verão e você vê
Claro como a luz do dia
Ela é uma rainha e tem
Tanto amor no coração

Vem quando você já não sabia porque
Nem pra onde ir e nem o que fazer
Vem rápido e preciso e você vê
Vem, como um aviso do que pode ser
Vem, a coisa mais bonita que você já viu
Vem e tem o poder de mudar a sua vida



(Paulo Ricardo)

sexta-feira, 27 de junho de 2008

A Cruz E A Espada

Havia um tempo em que eu vivia
Um sentimento quase infantil
Havia o medo e a timidez
Todo um lado que você nunca viu

Agora eu vejo,
Aquele beijo era mesmo o fim
Era o começo
E o meu desejo se perdeu de mim

E agora eu ando correndo tanto
Procurando aquele novo lugar
Aquela festa o que me resta
Encontrar alguém legal pra ficar

Agora eu vejo,
Aquele beijo era mesmo o fim
Era o começo
E o meu desejo se perdeu de mim

E agora é tarde, acordo tarde
Do meu lado alguém que eu não conhecia
Outra criança adulterada
Pelos anos que a pintura escondia

Agora eu vejo,
Aquele beijo era o fim, ah era o fim
Era o começo
E o meu desejo se perdeu de mim
E nunca mais, nunca mais...



(Paulo Ricardo / Luiz Schiavon)

A Carta

Escrevo-te estas mal traçadas linhas, meu amor
Porque veio a saudade visitar meu coração
Espero que desculpes os meus erros por favor
Nas frases desta carta
que é uma prova de afeição
Talvez tu não a leias mas quem sabe até darás
Resposta imediata me chamando de meu bem
Porém o que me importa
é confessar-te uma vez mais
Não sei amar na vida mais ninguém

Tanto tempo faz,
que li no teu olhar
A vida cor-de-rosa que eu sonhava
E guardo a impressão
de que já vi passar
Um ano sem te ver,
um ano sem te amar
Ao me apaixonar,
por ti não reparei
Que tu tivestes só entusiasmo
E para terminar, amor assinarei
Do sempre, sempre teu...



(Benil Santos / Raul Sampaio)

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Eu Preciso De Você

Eu preciso de você
Porque tudo que pensei
Que pudesse desfrutar da vida sem você não sei
Meu amanhecer é lindo se você comigo está
Tudo é mais bonito no sorriso que você me dá

Eu não vivo sem você
Porque tudo que eu andei
Procurando pela vida agora eu sei
Que andei sabendo
Que em algum lugar te encontraria
Pois você já era minha e eu sabia

Como abelha necessita de uma flor
Eu preciso de você e desse amor
Como a terra necessita o sol e a chuva eu preciso de você

Mas eu preciso de você
Porque em toda minha vida
Nem por uma vez amei algúem assim
Você é tudo, é muito mais do que eu sonhei pra mim

E é por isso que eu preciso de você




(Roberto Carlos / Erasmo Carlos)

Amor

Vem se mostrar
Vem me convencer
Traz seus bons olhos pr'eu ver
Vem me buscar
Vem me seduzir
Que estou pronto pra ir
Vem me encantar
Me tirar dos confins
Fazer festa pra mim
Vem coração
Acender meus balões
Minhas paixões
Vem afastar as assombrações
Arejar meus porões
Vem acalmar os meus vendavais
Meus temores, meus ais
Vem e me faz cada vez mais audaz
Cada vez mais capaz
De acreditar
Que ainda posso tentar continuar
Lutar, lutar, lutar
Pra gente ser feliz
Cantar, cantar, cantar
Como a gente sempre quis



(Ivan Lins / Vitor Martins)

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Soneto Do Teu Corpo

Juro beijar teu corpo sem descanso
Como quem sai sem rumo prá viagem.
Vou te cruzar sem mapa nem bagagem,
Quero inventar a estrada enquanto avanço.

Beijo teus pés, me perco entre teus dedos.
Luzes ao norte, pernas são estradas
Onde meus lábios correm a madrugada
Pra de manhã chegar aos teus segredos.

Como em teus bosques. Bebo nos teus rios.
Entre teus montes, vales escondidos,
Faço fogueiras, choro, canto e danço.

Línguas de lua varrem tua nuca,
Línguas de sol percorrem tuas ruas.
Juro beijar teu corpo sem descanso



(Leoni / Moska)

Os Outros

Já conheci muita gente
Gostei de alguns garotos
Mas depois de você
Os outros são os outros

Ninguém pode acreditar
Na gente separado
Eu tenho mil amigos, mas você foi
O meu melhor namorado

Procuro evitar comparações
Entre flores e declarações
Eu tento te esquecer

A minha vida continua
Mas é certo que eu seria sempre sua
Quem pode me entender

Depois de você
Os outros são os outros e só

São tantas noites em restaurantes
Amores sem ciúmes
Eu sei bem mais do que antes
Sobre mãos, bocas e perfumes

Eu não consigo achar normal
Meninas do seu lado
Eu sei que não merecem
Mais que um cinema
Com meu melhor namorado


Depois de você
Os outros são os outros e só


(Leoni)

Doublé De Corpo

Eu não reconheço mais
olhando as fotos do passado
o habitante do meu corpo,
este estranho dublê de retratos
Talvez até eu já vivesse
em algum corpo emprestado
Esperando só por você
pra reunir meus pedaços

Foi tanta força que eu fiz por nada,
Pra tanta gente eu me dei de graça
Só pra você eu me poupei

Será que o tempo sempre disfarça,
Tomara um dia isso tudo passa
Desculpa as mágoas que eu deixei

Eu já dei a outra alma
aos bruxos e vampiros
Eu quero que eles façam a festa
enquanto eu me retiro
Só você sentiu por mim
o que nem eu sentiria
Você foi o meu escudo
e eu a própria covardia

Se você ainda acreditar,
eu prometo dublar seu corpo
Te proteger,
te poupar das dores,
Te devolver o amor em dobro
Não se ama, amor, em vão



(Leoni / Lulu Martin)

terça-feira, 24 de junho de 2008

Timidez

Toda vez que te olho,
Crio um romance.
Te persigo, mudo todos instantes.
Falo pouco pois não sou de dar indiretas.
Me arrependo do que digo em frases incertas
Se eu tento ser direto, o medo me ataca
sem poder nada fazer.

Sei que tento me vencer e acabar com a mudez
Quando eu chego perto, tudo esqueço e não tenho vez
Me consolo, foi errado o momento, talvez,
Mas na verdade, nada esconde essa minha timidez

Eu carrego comigo a grande agonia
De pensar em você, toda hora do dia
Eu carrego comigo, a grande agonia
Na verdade nada esconde essa minha timidez

Talvez escreva um poema
No qual grite o seu nome
Nem sei se vale a pena
Talvez só telefone
Eu me ensaio, mas nada sai:
O seu rosto me distrai.

E, como um raio, eu encubro , eu disfarço , eu camuflo, eu desfaço,
Eu respiro bem fundo, hoje eu digo pro mundo,
Mudei rosto e imagem, mas você me sorriu,
Lá se foi minha coragem, você me inibiu...




(Bruno Gouveia / Álvaro / Carlos Coelho / Miguel Flores / Sheik)

Amar é...

Amar é quando não dá mais pra disfarçar
Tudo muda de valor
Tudo faz lembrar você
Amar é a lua ser a luz do seu olhar
Luz que debruçou em mim
Prata que caiu no mar
Suspirar, sem perceber
Respirar o ar que é você
Acordar sorrindo
Ter o dia todo pra te ver
O amor é um furacão, surge no coração
Sem ter licença pra entrar
Tempestade de desejos
Um eclipse no final de um beijo
O amor é estação, é inverno, é verão
É como um raio de sol
Que aquece e tira o medo
De enfrentar os riscos, se entregar
Amar é envelhecer querendo te abraçar
Dedilhar num violão
A canção pra te ninar



(Cleberson Horsth / Ricardo Feghali)

Um Sonho A Dois

Ele sabe, o jeito de agradar
Um sorriso brincando no olhar
Me fascina com seu jeito de ser
Ele é tudo enfim que eu preciso ter
Ela passa, e o tempo faz parar
Quando fala é música no ar
Me conquista, querendo não querer
Ela é tudo, enfim, que eu preciso ter
Quando bater na porta deixa entrar
Pra te ganhar de norte a sul
No mundo da lua, tudo vai ficar
Descobrir que o amor é azul
Quando a gente gosta, o amor é um caso sério
E tem lá seus mistérios pra mostrar
Mas você divide, na metade, um desejo no olhar
Quando a gente gosta, vale a pena qualquer coisa
Vale tudo no cantinho pra ficar
Um sorriso pra te convencer
Na luz do luar
Ele é tudo que faz bem ao coração
Ela sabe que brinca nos meus sonhos
Todo o tempo nos versos que componho
Ele sabe que estou em suas mãos
Ele é tudo que faz bem ao coração



(Michel Sullivan / Paulo Massadas)

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Estou Com Saudades de Você

As pedras do muro da sua casa
Já não me dizem nada
Pichadas, cobertas por cartazes
E um banda de volta na estrada
A gente adorava
Baladas me matam de saudade

Estou com saudade de você
Saudade de você

Na praça onde a gente namorava
Mendigos na calçada
Madrugadas me matam de saudade

Estou com saudade de você
Saudade de você

E agora com os olhos embaçados
Posso eu posso ver
É tão ruim
Como água entre os dedos
Ver você
Se perder de mim, se perder de mim

As chaves eu vou deixar numa sacola
Com as suas roupas perfumadas
Que me matam de saudade

Estou com saudade de você
Saudade de você


Nas cartas ainda ouço suas palavras
Tão apaixonadas
Guardadas numa pequena caixa
E as fotos na parede da minha sala
Também não dizem nada
Amareladas, me dói tanta saudade...



(Bruno Gouveia / Álvaro / Carlos Coelho / Miguel Flores)

Restos de Sol

Abro os olhos de manhã
Penso em você
Perdi a hora
Tenho tanto pra fazer
Pra lhe dizer
Eu estou só começando

E quanto mais tento acordar, mais pareço estar sonhando

Fecho os olhos pra te ver
Quero você
Vem, mas não demora
Nada mais me interessa
Eu tenho tanta pressa
E o dia vai passando

E quanto mais tento acordar, mais pareço estar sonhando

Sigo a minha caminhada, na mochila quase nada
Só nos dois e nada mais
Mas agora tanto faz, tudo que deixei pra tras
No seu olhar, restos de sol

E aonde quer que eu vá
Penso em você
Não preciso dizer nada
Essa é a nossa canção
Deito no chão
É madrugada

E quanto mais tento acordar, mais pareço estar sonhando

Sigo a minha caminhada, na mochila quase nada
Só nos dois e nada mais
Mas agora tanto faz, tudo que deixei pra tras
No seu olhar, restos de sol
Só nos dois e nada mais
No seu olhar, restos de sol



(Bruno Gouveia / Álvaro / Carlos Coelho / Miguel Flores / Fabra)

Você me perdoa?

Quando eu mentir,
Quando eu fingir,
E te trair com outra pessoa
Você me perdoa?


Quando eu mudar,
E o encanta acabar,
E eu não for mais a mesmas pessoa
Você me perdoa?


Por mais que te doa
A verdade não cabe no amor
Falar também não é fácil,
Me escuta por favor!?


Eu juro, juro pra você
Que vai ser pra sempre
Até o amanhecer,
Juro, juro pra você
Que vai ser pra sempre,
Mas só até o amanhecer


Se tirei teu chão,
Implorei perdão,
E tudo foi atoa.
Você me perdoa?


Se deixei nós dois sempre pra depois,
Perceber que o tempo voa.
Você me perdoa?


Por mais que te doa,
A verdade não cabe no amor
Falar também não é fácil,
Me escuta por favor?!


Eu juro, juro pra você,
Que vai ser pra sempre,
Até o amanhecer.
Juro, juro pra você,
Que vai ser pra sempre,
Mas só até o amanhecer


(Bruno Gouveia / Álvaro / Carlos Coelho / Miguel Flores)

domingo, 22 de junho de 2008

De Longe

Ver as coisas como elas são
E não ter por onde sair
Ter idéia do que vem, de quantos dias em vão
E não poder nunca desistir
Vejo tudo então

Na vida eu aprendi que o tempo
É sempre quem resolve tudo
O que eu sabia como certo passou
Desmoronando as bases do meu mundo
As bases do meu mundo
As bases do meu mundo

Eu só queria saber
Por onde caminhar
E não ficar esperando
Alguém vir me buscar
Sentar em frente ao mar
Pra lembrar de alguém
Que há muito não se vê

Já não sei se é saudade
Ou o costume de pensar em você
Todo momento bom me traz seu rosto
E é impossível não perceber
O que sinto não

Eu vou levando
Eu vou vivendo
Eu vou sorrindo, eu vou chorando
Eu vou te vendo
De longe, eu vou te olhando de longe
Só pra saber se vale a pena ficar por aqui
Ou se eu vou embora, se eu vou embora
Eu tô indo embora



(Ivy / Tihuana)

Um Novo Dia

Desperta devagar
Me diz de onde vem
Tanta tristeza em seu olhar
Eu nunca vi ninguém assim

Tão perdida
Tão distante
Estou tentando te dizer
O que você não quer ouvir

Você pode até tentar fugir de mim
Mas não pode evitar que eu cante assim

Amanhã vai ser um novo dia
Eu juro que eu vou estar aqui
Não diferente
Sempre ao seu lado
Viver pra te fazer feliz

Se entrega, repara
Percebe o quanto você tem
Pra quem nunca teve nada
Até meu mundo eu te dei

Tão decidida
Tão confiante
Estou tentando te dizer
O que você não quer ouvir

Eu prefiro acreditar que
Tudo por melhorar
Basta você querer
Basta você dizer



(Rodrigo Koala / Tihuana)

Ela se foi

Ela se foi
E não levou nada
Nem se quer deixou um adeus
E se volta não sei dizer

Ela só queria alguém que entendesse seus sonhos
Que dissesse palavras fáceis
Que nunca lhe trouxesse dor

Vai saber pelas ruas que a vida não é tão simples
Quando anoitecer a solidão ninguém domina

Um novo amanhecer
Um dia pra começar
E tudo que viveu
Ninguém mais vai saber

Se acaso se perder
Ninguém vai se importar
E quando ela chorar
Ninguém mais vai saber

Ela nunca percebeu
Que o tempo não pára
Que a vida é muito rara
E não vale a pena se entregar por aí

Ela só queria alguém
Que entendesse seus sonhos
Que dissesse palavras fáceis
Que nunca lhe trouxesse dor

Dessa vez não há nada que eu possa fazer
Certas escolhas não têm volta

Dizem que a dor faz a gente pensar




(Ivy / Tihuana)

sábado, 21 de junho de 2008

Um Dia de Cada Vez

Viver um dia de cada vez
Sentir saudade e não ter medo de chorar
Um dia eu cheguei a pensar
Que sem alguém eu viveria mais feliz

Não sei se a hora é certa pra dizer
As tantas coisas que eu não posso mais guardar
Das outras vezes que eu tentei
Você nem me deixou falar
Você nem quis me escutar

Já faz um tempo que deixou de ser legal
A nossa historia pode estar chegando ao fim
Não tenho mais razão pra continuar
Levar adiante pra depois se arrepender

Não quero me lembrar de você
Como alguém que me fez mal
Teremos coisas boas pra contar
Mas hoje não vai dar pra ser



(Ivy / Tihuana)

Na Parede do Quintal

Eu acho tão difícil
Esconder algo de alguém quando se tem razão
Foi tudo foi como um vício, uma tempestade
Foi como um furacão

Me esqueci de você, mas na verdade eu nem sei
Quando durmo demais, depois acordo na sala
Quando estou vendo o mar ou dentro da sua casa
Se estou perto do Sol, ou se a volta é tão longa

Mas quem sabe o tempo possa apagar os sinais
Lá na parede do quintal
Lá na parede do quintal



(Ivy / Tihuana)

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Um Sonho

Lua na folha molhada
brilho azul-branco
olho-água, vermelho da calha nua

Tua ilharga lhana
mamilos de rosa-fagulha
fios de ouro velho na nuca
estrela-boca de milhões de beijos-luz

Lua,
fruta flor folhuda
Ah! a trilha de alcançar-te
galho, mulher, folho, filhos
Malha de galáxias
Tua pele se espalha
ao som de minha mão

Traçar-lhe rotas
teu talho, meu malho
teu talho, meu malho

o ir e vir de tua
o ir e vir de tua ilha

Lua,
toda a minha chuva
todo o meu orvalho
caí sobre ti
Se desabas e espelhas da cama
a maravilha-luz do meu céu
jabuticaba branca


(Caetano Veloso)

Monóico

Aparte aquilo que a gente quer
Eu sou um homem, você é uma mulher
Se estou com fome você me traz uma colher
E eu me alimento

Mas na verdade isso tanto faz
Sou só metade se você é meu par
Eu só queria com você me casar
Pois você me completa

Eu sou um antúrio, você é um hibisco
Eu quero tudo e sempre tudo coloco em risco
E num mergulho eu acho que sou seu marido
E eu me afogo

Sinto seu dedo mas não vejo a sua mão
Não sinto medo quando estou deitado olhando pro chão
E o meu relevo ofereço pra sua visão
E você me afaga

Quero que sua lingua lamba o meu corpo nu
E que o meu sexo te dê todo o céu azul
Nas suas pernas se encrava o tesouro do meu baú
E eu te abuso

Me dê seu leite como meu licor
Me dê seus peitos cheios de amor
Me dê um beijo sem nenhum pudor
E você me penetra



Raspe meu sal como um animal
Use sua boca me faça seu fio dental
Solte meu cinto, sou seu guia e farol
E eu te ilumino

Diga seu nome que eu revelo minha identidade
Mate minha fome que eu farei tuas vontades
Uma esfinge cercada por três pirâmides
Você me enterra

Sou sua sombra, seu espelho, sua ilusão
Você é meu leito, minha onda, minha missão
Não temos tempo precisamos de solução
E quem é que espera?

Temos dois lados, pois temos frente e verso
Me queira inteiro assim te imploro e peço
Sou mais que o avesso sou seu fogo seu forro seu
ferro
E eu te engulo

Eu sou um homem você é uma mulher
Você me come porque eu quero ser sua mulher
E eu quero o homem que come essa mulher
Será que você me entende?

E finalmente restaremos só osso e pó
Sejamos homens, mulheres, qualquer um de nós
Fatalmente terminaremos sós
Mas você: a quem pertence?

Você pertence à você



(Nando Reis)

Eu te amo

Eu nunca te disse
Mas agora saiba
Nunca acaba, nunca
O nosso amor
Da cor do azeviche
Da jabuticaba
E da cor da luz do sol

Eu te amo
Vou dizer que eu te amo
Sim, eu te amo
Minha flor

Eu nunca te disse
Não tem onde caiba
Eu te amo
Sim, eu te amo
Serei pra sempre o teu cantor



(Caetano Veloso)

Canção de amor

Saudade, torrente de paixão
Emoção diferente
Que aniquila a vida da gente
Uma dor que não sei de onde vem

Deixaste meu coração vazio
Deixaste a saudade
Ao desprezares aquela amizade
Que nasceu ao chamar-te meu bem

Nas cinzas do meu sonho
Um hino então componho
Sofrendo a desilusão
Que me invade
Canção de amor, saudade
Saudade


(Caetano Veloso)

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Os ombros suportam o mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossege
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.



(Carlos Drummond de Andrade)

Quero me casar

Quero me casar
na noite na rua
no mar ou no céu
quero me casar.

Procuro uma noiva
loura morena
preta ou azul
uma noiva verde
uma noiva no ar
como um passarinho.

Depressa, que o amor
não pode esperar!



(Carlos Drummond de Andrade)

Eros e Psique

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.



(Fernando Pessoa)

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Digo que esqueço

Creio que te esqueci... de agora em diante
já não há nada entre nós dois, não há,
- achaste-me orgulhoso e intolerante
e eu te achei menos fútil do que má...

Foi um momento só... foi um instante
essa nossa ilusão, e hoje, onde está
aquele amor inquieto e delirante?
- Bem que pensava: - é falso! morrerá!

Sinto apenas que tenha te adorado,
e que hoje sofra em vão, inutilmente
procurando apagar todo o passado...

Digo que esqueço... que não penso em ti!
- Mas não te esqueço nunca, e justamente
porque fico a pensar que te esqueci.



(J. G. de Araújo Jorge)

Desfolhando

Essa boca, pequena, e assim vermelha,
que ao botão de uma rosa se assemelha,
- quanta vez provocava os meus desejos
desabrochando em flor entre os meus beijos...

Essa boca, pequena e mentirosa,
que diz, tanta mentira cor-de-rosa,
- era a taça de amor onde eu saciava
toda a ansiedade da minha alma escrava ...

Beijando-a, compreendia que eras minha...
Meu amor transformava-te em rainha,
teu amor me fazia mais que um rei...

Agora, tu fugiste... E eu sofro, quando
vejo um outro em teus lábios desfolhando
a mesma rosa que eu desabrochei!...



(J. G. de Araújo Jorge)

Ciúme

Encontro em ti tudo o que imaginara
na mulher, para ser o meu ideal;
- não é só teu olhar, tua voz clara,
e essa expressão que tens, sentimental!...

Nem essa graça ingênua, hoje tão rara,
de quem não sabe onde se encontra o mal,
ou teu riso feliz, que se compara
ao tinir de uma taça de cristal...

É tudo em ti, traço por traço, tudo!
As tuas mãos são rendas de ternura;
teus carinhos, macios, de veludo.

Por isso mesmo é que é maior a dor,
quando amargo a mais íntima tortura
por não ter sido o teu primeiro amor...



(J. G. de Araújo Jorge)

Carta

Aqui, tudo é bonito e quieto, a gente
vai vivendo uma vida sempre igual...
- Há um dia que o regato de cristal
de águas turvas ficou devido à enchente...

Os dias têm passado, lentamente,
e um tédio sinto em mim, de um modo tal,
que às vezes, fico até sentimental,
lembrando-me de ti, saudosamente...

Quando estavas aqui, - tudo era lindo...
Como um doce casal de beija-flores,
vivíamos os dois sempre sorrindo...

Por que não voltas?... Vem!... - Se tu voltares
o céu há de cobrir-se de outras cores...
- as flores voltarão pelos pomares!..



(J. G. de Araújo Jorge)

Caminheiro

Eu ando pela vida à procura de alguém
que saiba compreender minha alma incompreendida,
alguém que queira dar-me a sua própria vida
como eu lhe dar pretendo o meu viver também...

Caminheiro do ideal - seguindo para o além
vou traçando uma rota estranha e indefinida,
- não sei se em minha estrada hei de encontrar guarida,
ou se eterno hei de andar, sem rumo e sem ninguém.. .

Já me sinto cansado... E em vão ainda caminho
na ilusão de encontrar um dia a companheira
que me ajude na vida a construir meu ninho...

Boêmia do destino!... Hei de andar... hei de andar...
até que esta minha alma errante e aventureira
descanse numa cruz cansada de sonhar!...



(J. G. de Araújo Jorge)

terça-feira, 17 de junho de 2008

Assim...

Assim foi nosso amor... um sonho que viveu
de um sonho, e despertou na realidade um dia...
Um pouco de quimera ao léu da fantasia...
Um flor que brotou e num botão morreu...

Embora sendo nosso, este amor foi só meu,
porque o teu, não foi mais que pura hipocrisia,
- no fundo, há muito tempo, a minha alma sentia
este fim que o destino afinal já lhe deu...

Não podes, bem o sei - sendo mulher como és,
saber quanto sofri, vendo esta flor desfeita
e as pétalas no chão, pisadas por teus pés...

Que importa ? Hás de sofrer mais tarde - a vida é assim...
Esse mesmo sorrir que agora te deleita
é o mesmo que depois há de amargar teu fim!...




(J. G. de Araújo Jorge)

Amargura

Só podes me ofertar o silêncio e a amargura,
- meu pobre amor de ti só espera a indiferença...
Perdoa o meu amor... perdoa-me a loucura
que quem tem, como eu tenho, um coração, não pensa...

Há muito pela vida eu seguia à procura
de alguém que viesse encher de luz minha descrença...
Foi então que te vi... e julguei que a ventura
pudesse ainda encontrar nesta jornada imensa...

E foi assim que um dia eu fui sentimental...
Acreditei no amor... E, talvez por castigo
fizeste-me sofrer - mas não te quero mal...

Quem amou, fui eu só... Eu nunca fui amado!...
Mereço a minha dor, e este sofrer bendigo
na amargura cruel de me julgar culpado!




(J. G. de Araújo Jorge)

A vida que eu sonhei...

Eu sonhei para mim, uma vida discreta
num lugar bem distante, a sós, tendo-te ao lado
- num castelo que fiz lá num reino encantado,
nesse reino que eu chamo o coração de um poeta...

Sonhei... Vi-me feliz na solidão de asceta,
bem longe deste mundo, a rir, despreocupado...
- acordando a escutar no arvoredo o trinado
das aves, e a dormir fitando a lua inquieta...

Vivia na ilusão daquele que ainda crê,
na vida, e o meu amor, eu o tinha idealizado
no romance de um lar coberto de sapê...

- Mentiras que eu sonhei!... No entanto hoje me ponho
muita vez a pensar no tal reino encantado
e sinto uma saudade imensa do meu sonho!...



(J. G. de Araújo Jorge)

À espera

Ela tarda... E eu me sinto inquieto, quando
julgo vê-la surgir, num vulto, adiante,
- os lábios frios, trêmula e ofegante,
os seus olhos nos meus, linda, fitando...

O céu desfaz-se em luar... Um vento brando
nas folhagens cicia, acariciante,
enquanto com o olhar terno de amante
fico à sombra da noite perscrutando...

E ela não vem... Aumenta-me a ansiedade:
- o segundo que passa e me tortura,
é o segundo sem fim da eternidade...

Mas eis que ela aparece de repente!...
- E eu feliz, chego a crer que igual ventura
bem valia esperar-se eternamente!...



(J. G. de Araújo Jorge)

A dor maior

Não quis julgar-te fútil nem banal
e chamei-te de criança tão-somente,
- reconheço, no entanto, infelizmente,
que, porque te quis bem, julguei-te mal.

Pensei até, (e o fiz ingenuamente...)
ter encontrado a companheira ideal...
Quis julgar-te das outras diferente,
e és como as outras todas afinal...

Hoje, uma dor estranha me consome
e um sentimento a que não sei dar nome
faz-me sofrer, se lembro o amor perdido...

A dor maior... A maior dor, no entanto,
vem de pensar de ter-te amado tanto
sem que ao menos tivesses merecido!...



(J. G. de Araújo Jorge)

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Moça e soldado

Meus olhos espiam
a rua que passa.

Passam mulheres,
passam soldados.
Moça bonita foi feita para
namorar.
Soldado barbudo foi feito para
brigar.

Meus olhos espiam
as pernas que passam.
Nem todas são grossas…
Meus olhos espiam.
Passam soldados.
... mas todas são pernas.
Meus olhos espiam.
Tambores, clarins
e pernas que passam.
Meus olhos espiam
espiam espiam
soldados que marcham
moças bonitas
soldados barbudos
…para namorar,
para brigar.
Só eu não brigo.
Só eu não namoro.



(Carlos Drummond de Andrade)

Toada do amor

E o amor sempre está nessa toada:
Briga perdoa perdoa briga.
Não se deve xingar a vida,
a gente vive, depois esquece.
Só o amor volta para brigar,
Para perdoar,
Amor cachorro bandido trem.

Mas se não fosse ele, também
Que graça que a vida tinha?

Mariquita, dá cá o pito,
No teu pito está o infinito.




(Carlos Drummond de Andrade)

domingo, 15 de junho de 2008

Estranha forma de vida

Foi por vontade de Deus
Que eu vivo nesta ansiedade.
Que todos os ais são meus,
Que é toda minha a saudade.
Foi por vontade de Deus.

Que estranha forma de vida
Tem este meu coração:
Vive de forma perdida;
Quem lhe daria o condão?
Que estranha forma de vida.

Coração independente,
Coração que não comando:
Vive perdido entre a gente,
Teimosamente sangrando,
Coração independente.

Eu não te acompanho mais:
Pára, deixa de bater.
Se não sabes onde vais,
Porque teimas em correr,
Eu não te acompanho mais.



(Alfredo Duarte / Amália Rodrigues)

Aves de arribação - IV

É noite! Treme a lâmpada medrosa
Velando a longa noite do poeta...
Além, sob as cortinas transparentes
Ela dorme... formosa Julieta!


Entram pela janela quase aberta
Da meia-noite os preguiçosos ventos
E a lua beija o seio alvinitente
— Flor que abrira das noites aos relentos.


O Poeta trabalha!... A fronte pálida
Guarda talvez fatídica tristeza ...
Que importa? A inspiração lhe acende o verso
Tendo por musa — o amor e a natureza!


E como o cáctus desabrocha a medo
Das noites tropicais na mansa calma,
A estrofe entreabre a pétala mimosa
Perfumada da essência de sua alma.


No entanto Ela desperta... num sorriso
Ensaia um beijo que perfuma a brisa...
... A Casta-diva apaga-se nos montes...
Luar de amor! acorda-te, Adalgisa!




(Castro Alves)

Falando de Amor

Se eu pudesse por um dia
Esse amor essa alegria
Eu te juro, te daria
Se pudesse esse amor todo dia

Chega perto, Vem sem medo
Chega mais meu coração
Vem ouvir esse segredo
Escondido num choro-canção

Se soubesses Como eu gosto
Do teu cheiro, teu jeito de flor
Não negavas um beijinho
A quem anda perdido de amor

Chora flauta, Chora pinho
Chora eu o teu cantor
Chora manso, bem baixinho
Nesse choro falando de amor

Quando passas, Tão bonita
Nessa rua banhada de sol
Minha alma segue aflita
E eu me esqueço até do futebol

Vem depressa, vem sem medo
Foi prá ti meu coração
Que eu guardei esse segredo
Escondido num choro-canção
Lá no fundo do meu coração




(Tom Jobim / Vinicius de Moraes)

sábado, 14 de junho de 2008

Não digas nada

Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade
Em nada se dizer
E tudo se entender -
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer

Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.




(Fernando Pessoa)

Sossega, coração! Não desesperes!

Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.



(Fernando Pessoa)

Por quem foi que me trocaram

Por quem foi que me trocaram
Quando estava a olhar pra ti?
Pousa a tua mão na minha
E, sem me olhares, sorri.

Sorri do teu pensamento
Porque eu só quero pensar
Que é de mim que ele está feito
É que tens para mo dar.

Depois aperta-me a mão
E vira os olhos a mim...
Por quem foi que me trocaram
Quando estás a olhar-me assim?



(Fernando Pessoa)

O amor, quando se revela...

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...



(Fernando Pessoa)

Minha mulher, a solidão

Minha mulher, a solidão,
Consegue que eu não seja triste.
Ah, que bom é o coração
Ter este bem que não existe!

Recolho a não ouvir ninguém,
Não sofro o insulto de um carinho
E falo alto sem que haja alguém:
Nascem-me os versos do caminho.

Senhor, se há bem que o céu conceda
Submisso à opressão do Fado,
Dá-me eu ser só - veste de seda -,
E fala só - leque animado.



(Fernando Pessoa)

A tua voz fala amorosa

Qual é a tarde por achar
Em que teremos todos razão
E respiraremos o bom ar
Da alameda sendo verão,

Ou, sendo inverno, baste 'star
Ao pé do sossego ou do fogão?
Qual é a tarde por voltar?
Essa tarde houve, e agora não.

Qual é a mão cariciosa
Que há de ser enfermeira minha -
Sem doenças minha vida ousa –
Oh, essa mão é morta e osso...
Só a lembrança me acarinha
O coração com que não posso.



(Fernando Pessoa)

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Samba do Carioca

Vamos, carioca
Sai do teu sono devagar
O dia já vem vindo aí
O sol já vai raiar
São Jorge, teu padrinho
Te dê cana pra tomar
Xangô, teu pai, te dê
Muitas mulheres para amar
Vai o teu caminho
É tanto carinho para dar
Cuidando do teu benzinho
Que também vai te cuidar
Mas sempre morandinho
Em quem não tem com quem morar
Na base do sozinho não dá pé
Nunca vai dar

Vamos, minha gente
É hora da gente trabalhar
O dia já vem vindo aí
O sol já vai raiar
E a vida está contente
De poder continuar
E o tempo vai passando
Sem vontade de passar
Ê, vida tão boa
Só coisa boa pra pensar
Sem ter que pagar nada
Céu e terra, sol e mar
E ainda ter mulher
De ter o samba pra cantar
O samba que é o balanço
Da mulher que sabe amar



(Vinicius de Moraes)

Bem Querer

Quando o meu bem querer me vir
Estou certa que há de vir atrás
Há de me seguir por todos
Todos, todos, todos os umbrais

E quando o seu bem querer mentir
Que não vai haver adeus jamais
Há de responder com juras
Juras, juras, juras imorais

E quando o meu bem querer sentir
Que o amor é coisa tão fugaz
Há de me abraçar com a garra
A garra, a garra, a garra dos mortais

E quando o seu bem querer pedir
Pra você ficar um pouco mais
Há que me afagar com a calma
A calma, a calma, a calma dos casais

E quando o meu bem querer ouvir
O meu coração bater demais
Há de me rasgar com a fúria
A fúria, a fúria, a fúria assim dos animais

E quando o seu bem querer dormir
Tome conta que ele sonhe em paz
Como alguém que lhe apagasse a luz
Vedasse a porta e abrisse o gás



(Chico Buarque)

Se Todos Fossem Iguais A Você

Vai tua vida
Teu caminho é de paz e amor
A tua vida
É uma linda canção de amor
Abre os teus braços e canta
A última esperança
A esperança divina
De amar em paz

Se todos fossem
Iguais a você
Que maravilha viver
Uma canção pelo ar
Uma mulher a cantar
Uma cidade a cantar, a sorrir, a cantar, a pedir
A beleza de amar
Como o sol, como a flor, como a luz
Amar sem mentir, nem sofrer

Existiria a verdade
Verdade que ninguém vê
Se todos fossem no mundo iguais a você



(Tom Jobim / Vinicius de Moraes)

Brigas nunca mais

Chegou, sorriu, venceu
Depois chorou
Então fui eu
Quem consolou sua tristeza
Na certeza de que o amor
Tem dessas fases más
E é bom
Para fazer as pazes
Mas

Depois fui eu
Quem dela precisou
E ela então me socorreu
E o nosso amor
Mostrou
Que veio pra ficar
Mais uma vez
Por toda a vida

Bom é mesmo amar em paz
Brigas nunca mais



(Tom Jobim / Vinicius de Moraes)

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Especial Dia dos Namorados

Olá Amigos!

Como prometido, eis aqui uma grande coletânea, com textos postados no blog e alguns inéditos, com o objetivo de incentivar sua criatividade. Mesmo que você não tenha boas idéias, o Curtas Poéticas dá essa colher de chá e apresenta diversos textos para a data não passar em branco. Presentei a quem você ama com belos versos. Viva o amor! Feliz dia dos namorados!

Começando com Cazuza:



Dia dos Namorados


Todo dia em qualquer lugar eu te encontro
Mesmo sem estar
O amor da gente é pra reparar

Os recados que quem ama dá
Hoje é o Dia dos Namorados
Dos perdidos
E dos achados

Se o planeta só quer rodar
Nesse eixo que a gente está
O amor da gente é pra se guardar
Com cuidado pra ele não quebrar
Hoje é o Dia dos Namorados

Todo mundo planeja amar
Banho quente ou tempestade no ar
O amor da gente é pra temperar

As coisas que a natureza dá
Diz que a era é pra sonhar
Que na terra é só simplificar
O amor da gente é pra continuar
E a nossa força não vai parar

O amor da gente é pra continuar
E a nossa fonte não vai secar
Porque o amor da gente vai continuar

(Cazuza / Perinho Santana)




Ainda é cedo



Uma menina me ensinou
Quase tudo que eu sei
Era quase escravidão
Mas ela me tratava como um rei
Ela fazia muitos planos
Eu só queria estar ali
Sempre ao lado dela
Eu não tinha aonde ir
Mas, egoísta que eu sou,
Me esqueci de ajudar
A ela como ela me ajudou
E não quis me separar
Ela também estava perdida
E por isso se agarrava a mim também
E eu me agarrava a ela
Porque eu não tinha mais ninguém
E eu dizia: - Ainda é cedo
cedo, cedo, cedo, cedo

Sei que ela terminou
O que eu não comecei
E o que ela descobriu
Eu aprendi também, eu sei
Ela falou: - Você tem medo
Aí eu disse: - Quem tem medo é você
Falamos o que não devia
Nunca ser dito por ninguém
Ela me disse:
- Eu não sei mais o que eu
sinto por você. Vamos dar
um tempo, um dia a gente se vê

E eu dizia: - Ainda é cedo
cedo, cedo, cedo, cedo

(Renato Russo)




Quase sem querer


Tenho andado distraído,
Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso.
Só que agora é diferente:
Estou tão tranquilo
E tão contente.
Quantas chances
desperdicei
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava
Provar nada pra ninguém.
Me fiz em mil pedaços
P'ra você juntar
E queria sempre achar
Explicação p'ro que eu sentia.
Como um anjo caído
Fiz questão de esquecer
Que mentir p'ra si mesmo
É sempre a pior mentira.
Mas não sou mais
Tão criança a ponto de saber tudo.
Já não me preocupo
Se eu não sei porquê
Às vezes o que eu vejo
Quase ninguém vê
E eu sei que você sabe
Quase sem querer
Que eu vejo o mesmo que você.
Tão correto e tão bonito
O infinito é realmente
Um dos deuses mais lindos.
Sei que às vezes uso
Palavras repetidas
Mas quais são as palavras
Que nunca são ditas?
Me disseram que você
estava chorando
E foi então que percebi
Como lhe quero tanto.
Já não me preocupo
Se eu não sei porquê
Às vezes o que eu vejo
Quase ninguém vê
E eu sei que você sabe
Quase sem querer
Que eu quero o mesmo que você

(Renato Russo)



Tempo Perdido


Todos os dias quando acordo,
Não tenho mais o tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo.

Todos os dias antes de dormir,
Lembro e esqueço como foi o dia
"Sempre em frente,
Não temos tempo a perder".

Nosso suor sagrado
É bem mais belo que esse sangue amargo
E tão sério
E selvagem.

Veja o sol dessa manhã tão cinza
A tempestade que chega é da cor dos teus
Olhos castanhos
Então me abraça forte
E diz mais uma vez
Que já estamos distantes de tudo
Temos nosso próprio tempo.

Não tenho medo do escuro,
Mas deixe as luzes acesas agora,
O que foi escondido é o que se escondeu,
E o que foi prometido,
Ninguém prometeu.

Nem foi tempo perdido;
Somos tão jovens

(Renato Russo)



Sete cidades


Já me acostumei
com a tua voz
Com teu rosto e teu
olhar

Me partiu em dois
E procuro agora o que é
minha metade

Quando não estás aqui
Sinto falta de mim mesmo
E sinto falta do meu corpo
junto ao teu

Meu coração
é tão tosco e tão pobre
Não sabe ainda
os caminhos do mundo

Quando não estás aqui
Tenho medo de mim mesmo
E sinto falta do teu corpo
junto ao meu

Vem depressa pra mim
Que eu não sei esperar
Já fizemos promessas demais

E já me acostumei
com a tua voz
Quando estou contigo
estou em paz

Quando não estás aqui
Meu espirito se perde
Voa Longe
longe

(Renato Russo)



Monte Castelo


Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua do anjos
Sem amor, eu nada seria...

É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja
Ou se envaidece...

O amor é o fogo
Que arde sem se ver
É ferida que dói
E não se sente
É um contentamento
Descontente
É dor que desatina sem doer...

Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria...

É um não querer
Mais que bem querer
É solitário andar
Por entre a gente
É um não contentar-se
De contente
É cuidar que se ganha
Em se perder...

É um estar-se preso
Por vontade
É servir a quem vence
O vencedor
É um ter com quem nos mata
A lealdade
Tão contrário a si
É o mesmo amor...

Estou acordado
E todos dormem, todos dormem
Todos dormem
Agora vejo em parte
Mas então veremos face a face
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade...

Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua do anjos
Sem amor, eu nada seria...

(Renato Russo)




O mundo anda tão complicado

Gosto de ver você dormir
Que nem criança com a boca aberta
O telefone chega sexta-feira
Aperto o passo por causa da garoa
Me empresta um par de meias
A gente chega na sessão das dez
Hoje eu acordo ao meio-dia
Amanhã é a sua vez

Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver
O mundo anda tão complicado
Que hoje eu quero fazer tudo por você.

Temos que consertar o despertador
E separar todas as ferramentas
Que a mudança grande chegou
Com o fogão e a geladeira e a televisão
Não precisamos dormir no chão
Até que é bom, mas a cama chegou na terça
E na quinta chegou o som

Sempre faço mil coisas ao mesmo tempo
E até que é fácil acostumar-se com meu jeito
Agora que temos nossa casa
é a chave que sempre esqueço

Vamos chamar nossos amigos
A gente faz uma feijoada
Esquece um pouco do trabalho
E fica de bate-papo
Temos a semana inteira pela frente
Você me conta como foi seu dia
E a gente diz um p'ro outro:
- Estou com sono, vamos dormir!

Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver
O mundo anda tão complicado
Que hoje eu quero fazer tudo por você

Quero ouvir uma canção de amor
Que fale da minha situação
De quem deixou a segurança de seu mundo
Por amor

(Renato Russo)





Samba e Amor

Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã
Escuto a correria da cidade que arde
E apressa o dia de amanhã
De madrugada a gente 'inda se ama
E a fábrica começa a buzinar
O trânsito contorna, a nossa cama reclama
Do nosso eterno espreguiçar
No colo da bem vinda companheira
No corpo do bendito violão

Eu faço samba e amor a noite inteira
Não tenho a quem prestar satisfação

Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito mais o que fazer
Escuto a correria da cidade. Que alarde!
Será que é tão difícil amanhecer?
Não sei se preguiçoso ou se covarde
Debaixo do meu cobertor de lã

Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã.

(Chico Buarque)



Minha Namorada


Se você quer ser minha namorada
Ai que linda namorada
Você poderia ser
Se quiser ser somente minha
Exatamente essa coisinha
Essa coisa toda minha
Que ninguém mais pode ter
Você tem que me fazer
Um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer
E também de não perder esse jeitinho
De falar devagarinho
Essas histórias de você
E de repente me fazer muito carinho
E chorar bem de mansinho
Sem ninguém saber porque

E se mais do que minha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada, mas amada pra valer
Aquela amada pelo amor predestinada
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual se quer morrer
Você tem que vir comigo
Em meu caminho
E talvez o meu caminho
Seja triste pra você
Os seus olhos tem que ser só dos meus olhos
E os seus braços o meu ninho
No silêncio de depois
E você tem de ser a estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois

(Vinicius de Moraes)



Sem Você


Sem você, sem amor
É tudo sofrimento
Pois você é o amor
Que eu sempre procurei em vão

Você é o que resiste
Ao desespero e à solidão
Nada existe
E o mundo é triste sem você

Meu amor, meu amor
Nunca te ausentes de mim
Para que eu viva em paz
Para que eu não sofra mais

Tanta mágoa assim, no mundo
Sem você

(Vinicius de Moraes / Tom Jobim)


Soneto de Inspiração


Não te amo como uma criança, nem
Como um homem e nem como um mendigo
Amo-te como se ama todo o bem
Que o grande mal da vida traz consigo.

Não é nem pela calma que me vem
De amar, nem pela glória do perigo
Que me vem de te amar, que te amo; digo
Antes que por te amar não sou ninguém.

Amo-te pelo que és, pequena e doce
Pela infinita inércia que me trouxe
A culpa é de te amar – soubesse eu ver

Através da tua carne defendida
Que sou triste demais para esta vida
E que és pura demais para sofrer.

(Vinicius de Moraes)




Soneto à lua


Por que tens, por que tens olhos escuros
E mãos lânguidas, loucas e sem fim
Quem és, quem és tu, não eu, e estás em mim
Impuro, como o bem que está nos puros?

Que paixão fez-te os lábios tão maduros
Num rosto como o teu criança assim
Quem te criou tão boa para o ruim
E tão fatal para os meus versos duros?

Fugaz, com que direito tens-me presa
A alma que por ti soluça nua
E não és Tatiana e nem Teresa:

E és tampouco a mulher que anda na rua
Vagabunda, patética, indefesa
Ó minha branca e pequenina lua!

(Vinicius de Moraes)



Eu sei que vou te amar


Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar

E cada verso meu será
Prá te dizer que eu sei que vou te amar
Por toda minha vida

Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou

Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida

(Vini­cius de Moraes / Tom Jobim)



Soneto do Amor total


Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

(Vinicius de Moraes0



As coisas tão mais lindas


Entre as coisas mais lindas que eu conheci
Só reconheci suas cores belas quando eu te vi
Entre as coisas bem-vindas que já recebi
Eu reconheci minhas cores nela e então eu me vi

Está em cima com o céu e o luar
Hora dos dias, semanas, meses, anos, décadas
E séculos, milênios que vão passar
Água-marinha põe estrelas no mar
Praias, baías, braços, cabos, mares, golfos
E penínsulas e oceanos que não vão secar

E as coisas lindas são mais lindas
Quando você está
Onde você está
Hoje você está
Nas coisas tão mais lindas
Porque você está
Onde você está
Hoje você está
Nas coisas tão mais lindas

(Nando Reis)




Luz dos Olhos


Entre as coisas mais lindas que eu conheci
Só reconheci suas cores belas quando eu te vi
Entre as coisas bem-vindas que já recebi
Eu reconheci minhas cores nela e então eu me vi

Está em cima com o céu e o luar
Hora dos dias, semanas, meses, anos, décadas
E séculos, milênios que vão passar
Água-marinha põe estrelas no mar
Praias, baías, braços, cabos, mares, golfos
E penínsulas e oceanos que não vão secar

E as coisas lindas são mais lindas
Quando você está
Onde você está
Hoje você está
Nas coisas tão mais lindas
Porque você está
Onde você está
Hoje você está
Nas coisas tão mais lindas

(Nando Reis)




Espatódea


Minha cor
Minha flor
Minha cara

Quarta estrela
Letras, três
Uma estrada

Não sei se o mundo é bão
Mas ele ficou melhor
Quando você chegou
e perguntou:
Tem lugar pra mim?

Espatódea
Gineceu
Cor de pólen

Sol do dia
Nuvem branca
Sem sardas

Não sei quanto o mundo é bão
Mas ele está melhor
Desde que você chegou
E explicou
O mundo pra mim

Não sei se esse mundo estã são
Mas pro mundo que eu vim já não era
Meu mundo não teria razão
Se não fosse a Zoe

(Nando Reis)



A Letra A


A letra A do seu nome
Abre essa porta e entra
Na mesma casa onde eu moro
Na mesa que me alimenta


A telha esquenta e cobre
Quando de noite ela deita
A gente pensa que escolhe
Se a gente não sabe inventa
A gente só não inventa a dor
A gente que enfrenta o mal
Quando a gente fica em frente ao mar
A gente se sente melhor


A abelha nasce e morre
E a cêra que ela engendra
Acende a luz quando escorre
Da vela que me orienta
Apenas os automóveis
Sem penas se movem e ventam
Certeza é o chão de um imóvel
Prefiro as pernas que me movimentam


A gente em movimento: amor
A gente que enfrenta o mal
Quando a gente fica em frente ao mar
A gente se sente melhor

(Nando Reis)




Case-se comigo


Case-se comigo
Antes que amanheça
Antes que não pareça tåo bom partido
Antes que eu padeça
Case comigo
Quero dizer pra sempre
Que eu te mereço
Que eu me pareço
Com o seu estilo
E existe um forte pressentimento dizendo
Que eu sem você é como você sem mim
Antes que amanheça, que seja sem fim
Antes que eu acorde, seja um pouco mais assim
Meu príncipe, meu hóspede, meu homem, meu marido
Meu príncipe, meu hóspede, meu marido
Case-se comigo
Antes que amanheça
Antes que não me apareça tão bom partido
Case-se comigo
Antes que eu padeça
Case-se comigo
Eu quero dizer pra sempre
Que eu te mereço
Que eu me pareço
Com o seu estilo
E existe um forte pressentimento dizendo
Que eu sem você é como você sem mim
Antes que amanheça, que seja sem fim
Antes que eu acorde, seja um pouco mais assim!


(Vanessa da Mata / Liminha)




Delírio


Dá o seu gosto de desejo
Dá os seus olhos de menino
Sem regra ou comprometimento
Sem se importar com que for vendo
Nossa sede de liberdade
Eu quero é dançar da forma que me der
A música expondo seu corpo à vontade
Nas incontáveis formas de se divertir
Dá o seu gosto de desejo
Dá o seu beijo despojado
Seus pensamentos mais intensos
O seu rosto de pecado
Nos gemidos que desordenam
Nas mãos que me fazem entender Adão
A música expondo seu corpo ao delírio
Nas incontáveis formar de se divertir

(Vanessa da Mata)




Ainda Bem


Ainda bem
Que você vive comigo
Porque senão
Como seria essa vida?
Sei lá, sei lá

Nos dias frios
Em que nós estamos juntos
Nos abraçamos sob o nosso conforto
De amar, de amar

Se há dores tudo fica mais fácil
Seu rosto silencia e faz parar
As flores que me manda são fato
Do nosso cuidado e entrega
Meus beijos sem os seus não dariam
Os dias chegariam sem paixão
Meu corpo sem o seu uma parte
Seria o acaso e não sorte

Neste mundo de tantos anos
Entre tantos outros
Que sorte a nossa heim?
Entre tantas paixões
Esse encontro nós dois
Esse amor

(Vanessa da Mata)




Vermelho

Gostar de ver você sorrir
Gastar das horas pra te ver dormir
Enquanto o mundo roda em vão
Eu tomo o tempo
O velho gasta solidão
Em meio aos pombos na Praça da Sé
O pôr do Sol invade o chão do apartamento

Vermelhos são seus beijos
Que meigos são seus olhos
Ver que tudo pode retroceder
Que aquele velho pode ser eu
No fundo da alma há solidão
E um frio que suplica um aconchego

Vermelhos são seus beijos
Quase que me queimam
Que meigo são seus olhos
Lânguida face
Seus beijos são vermelhos
Quase que me queimam
Que meigos são seus olhos
Lânguida face

Ver que tudo pode retroceder
Que aquele velho pode ser eu
No fundo da alma há solidão
E um frio que suplica um aconchego

Vermelhos são seus beijos
Quase que me queimam
Que meigos são seus olhos
Lânguida face
Seus beijos são vermelhos
Quase que me queimam
Que meigos são seus olhos
Lânguida face

(Vanessa da Mata)





Ilegais


Desse jeito vão saber de nós dois
Dessa nossa vida
E será uma maldade veloz
Malignas línguas
Nossos corpos não conseguem ter paz
Em uma distância
Nossos olhos são dengosos demais
Que não se consolam, clamam fugazes
Olhos que se entregam, ilegais

Eu só sei que eu quero você
Pertinho de mim
Eu, quero você dentro de mim
Eu, quero você em cima de mim
Eu quero você

Desse jeito vão saber de nós dois
Dessa nossa farra
E será uma maldade voraz
Pura hipocrisia
Nossos corpos não conseguem ter paz
Em uma distância
Nossos olhos são dengosos demais, demais
Que não se consolam, clamam fugazes
Olhos que se entregam, olhos ilegais

(Vanessa da Mata)




Minha Herança: Uma flor


Achei você no meu jardim entristecido
Coração partido
Bichinho arredio
Peguei você pra mim
Como a um bandido
Cheio de vícios
E fiz assim, fiz assim:

Reguei com tanta paciência
Podei as dores, as mágoas, doenças
Que nem as folhas secas vão embora
Eu trabalhei

Fiz tudo, todo o meu destino
Eu dividi, ensinei de pouquinho
Gostar de si, ter esperança e persistência sempre

A minha herança pra você é uma flor
Um sino, uma canção, um sonho
Nenhuma arma ou uma pedra eu deixarei
A minha herança pra você é o amor
Capaz de fazê-lo tranqüilo, pleno
Reconhecendo no mundo o que há em si

E hoje nos lembramos sem nenhuma tristeza
Dos foras que a vida nos deu
Ela com certeza
Estava juntando você e eu

Achei você no meu jardim

(Vanessa da Mata)




A Sua


Eu só quero que você saiba
Que estou pensando em você
Agora e sempre mais

Eu só quero que você ouça
A canção que eu fiz pra dizer
Que eu te adoro cada vez mais
E que eu te quero sempre em paz

Tô com sintomas de saudade
Estou pensando em você
E como eu te quero tanto bem
Aonde for não quero dor
Eu tomo conta de você
Mas, te quero livre também
Como o tempo vai
E o vento vem

Eu só quero que você caiba
No meu colo
Por que eu te adoro cada vez mais

Eu só quero que você siga
Para onde quiser
Que eu não vou ficar muito atrás

(Marisa Monte)




Não vá embora


E no meio de tanta gente eu encontrei você
Entre tanta gente chata sem nenhuma graça
Você veio
E eu que pensava que não ia me apaixonar
Nunca mais na vida

Eu podia ficar feio só perdido
Mas com você eu fico muito mais bonito
Mais esperto
E podia estar tudo agora errado pra mim
Mas com você
Dá certo

Por isso não vá embora
Por isso não me deixe nunca, nunca mais
Por isso não vá, não vá embora
Por isso não me deixe nunca, nunca mais

Eu podia estar sofrendo caído por ai
Mas com você eu fico muito mais feliz
Mais desperto
Eu podia estar agora sem você, mas eu não quero
Não quero

(Marisa Monte / Arnaldo Antunes)




Sou seu sabiá


Se o mundo for desabar
sobre a sua cama
E o medo se aconchegar
sob o seu lençol
E se você sem dormir
tremer ao nascer do sol
Escute a voz de quem ama
ela chega aí
Você pode estar
tristíssimo no seu quarto
Que eu sempre terei
meu jeito de consolar
É só ter alma de ouvir,
e coração de escutar
E nunca me farto
do uníssono com a vida
Eu sou, sou sua sabiá
Não importa
onde for vou te catar
Te vou cantar te vou
te vou te vou te vou
Eu sou, sou sua sabiá
O que eu tenho eu te dou
E tenho a dar
Só tenho a voz cantar,
cantar, cantar, cantar

(Marisa Monte)





Perdoa, meu amor


Perdoa, meu amor, perdoa
Perdoa, eu bem sei que errei
Perdoa, meu amor, perdoa
Perdoa se lhe magoei

A minha vida era só melancolia
Até você me aparecer um dia
Como se fosse uma rosa fugidia
Fez dos meus sonhos esta louca fantasia

Ainda sinto o seu perfume encantador
E nos meus lábios, os teus beijos sedutores
Perdoa, meu amor, perdoa
Perdoa se me tens amor

(Casemiro Vieira)





Cantada (Depois de ter você)


Depois de ter você...
Pra que querer saber
Que horas são
Se é noite ou faz calor
Se estamos no verão
Se o sol virá ou não
Ou pra que, que é serve uma canção
Como essa...

Depois de ter você
Poetas para que
Os deuses, as dúvidas
Pra que amendoeiras pelas ruas
Para que servem as ruas?
Depois de ter você...

(Adriana Calcanhotto)




Ela é carioca


Ela é carioca, ela é carioca
Basta o jeitinho dela andar
E ninguém tem carinho assim para dar

Eu vejo a luz dos seus olhos
As noites do Rio ao luar
Vejo a a mesma luz,
Vejo o mesmo céu,
Vejo o mesmo mar


Ela é meu amor, só viveu pra mim
A mim que vivi para encontrar
Na luz do seu olhar, a paz que sonhei
Só sei que eu sou louco por ela
E pra mim ela é linda demais

E além do mais,
Ela é carioca
Ela é carioca

(Vinicius de Moraes)




Mais Feliz


O nosso amor não vai parar de rolar, de fugir e seguir
como rio
como uma pedra que divide o rio
me diga coisas bonitas.

O nosso amor não vai olhar para atrás
desencantar nem ser tema de livro
a vida inteira eu quis um verso simples
para transformar o que digo
rimas facéis, calafrios,
fure o dedo faz um pacto comigo
um segundo teu no meu
por um segundo mais feliz

(Bebel Gilberto / Cazuza / Dé)





Por isso eu corro demais


Meu bem qualquer instante que eu fico sem te ver
aumenta a saudade que eu sinto de você
então eu corro demais
sofro demais
corro demais
Só prá te ver meu bem

E você ainda me pede para não correr assim
meu bem eu não suporto mais você longe de mim
por isso eu corro demais
sofro demais
corro demais
Só prá te ver

Meu bem,
Se você está ao meu lado
eu só ando devagar
Esqueço até de tudo
Não vejo o tempo passar
Mas se chega a hora
De pra casa eu te levar
Corro pra depressa
Outro dia ver chegar
Então eu corro demais
Sofro demais
Corro demais
Só pra te ver meu bem

se você vivesse sempre
Ao meu lado eu não teria
Motivo pra correr
e devagar eu andaria
eu não corria demais
agora corro demais

(Roberto Carlos)





Minha Flor, Meu bebê


Dizem que tô louco
Por te querer assim
Por pedir tão pouco
E me dar por feliz
Em perder noites de sono
Só pra te ver dormir
E me fingir de burro
Pra você sobressair

Dizem que tô louco
Que você manda em mim
Mas não me convencem, não
Que seja tão ruim
Que prazer mais egoísta
O de cuidar de um outro ser
Mesmo se dando mais
Do que se tem pra receber
E é por isso que eu te chamo
Minha flor, meu bebê

Dizem que tô louco
E falam pro meu bem
Os meus amigos todos
Será que eles não entendem
Que quem ama nesta vida
Às vezes ama sem querer
Que a dor no fundo esconde
Uma pontinha de prazer
E é por isso que eu te chamo
Minha flor, meu bebê

(Dê / Cazuza)




Declaração de Amor

Minha flor,
Minha flor,
Minha flor.
Minha prímula
Meu pelargônio
Meu gladíolo
Meu botão-de-ouro.
Minha peônia.
Minha cinerária
Minha calêndula
Minha boca-de-leão.
Minha gérbera.
Minha clívia.
Meu cimbídio.
Flor, flor, flor.
Floramarílis.
Floranêmona.
Florazálea.
Clematite minha.
Catléia delfínio estrelítzia.
Minha hortensegerânea.
Ah, meu nenúfar.
Rododendro e crisântemo e junquilho meus.
Meu ciclâmen.
Macieira-minha-do-japão.
Calceolária minha.
Daliabegônia minha.
Forsitiaíris tuliparrosa minhas.
Violeta...
Amor-mais-que-perfeito.
Minha urze.
Meu cravo-pessoal-de-defunto.
Minha corola sem cor e nome no chão de minha morte.


(Carlos Drummond de Andrade)




Aos Namorados do Brasil


Dai-me, Senhor, assistência técnica
para eu falar aos namorados do Brasil.
Será que namorado algum escuta alguém?
Adianta falar a namorados?
E será que tenho coisas a dizer-lhes
que eles não saibam, eles que transformam
a sabedoria universal em divino esquecimento?
Adianta-lhes, Senhor, saber alguma coisa,
quando perdem os olhos
para toda paisagem ,
perdem os ouvidos
para toda melodia
e só vêem, só escutam
melodia e paisagem de sua própria fabricação?

Cegos, surdos, mudos - felizes! - são os namorados
enquanto namorados. Antes, depois
são gente como a gente, no pedestre dia-a-dia.
Mas quem foi namorado sabe que outra vez
voltará à sublime invalidez
que é signo de perfeição interior.
Namorado é o ser fora do tempo,
fora de obrigação e CPF,
ISS, IFP, PASEP,INPS.

Os códigos, desarmados, retrocedem
de sua porta, as multas envergonham-se
de alvejá-lo, as guerras, os tratados
internacionais encolhem o rabo
diante dele, em volta dele. O tempo,
afiando sem pausa a sua foice,
espera que o namorado desnamore
para sempre.
Mas nascem todo dia namorados
novos, renovados, inovantes,
e ninguém ganha ou perde essa batalha.

Pois namorar é destino dos humanos,
destino que regula
nossa dor, nossa doação, nosso inferno gozoso.
E quem vive, atenção:
cumpra sua obrigação de namorar,
sob pena de viver apenas na aparência.
De ser o seu cadáver itinerante.
De não ser. De estar, e nem estar.

O problema, Senhor, é como aprender, como exercer
a arte de namorar, que audiovisual nenhum ensina,
e vai além de toda universidade.
Quem aprendeu não ensina. Quem ensina não sabe.
E o namorado só aprende, sem sentir que aprendeu,
por obra e graça de sua namorada.

A mulher antes e depois da Bíblia
é pois enciclopédia natural
ciência infusa, inconciente, infensa a testes,
fulgurante no simples manifestar-se, chegado o momento.
Há que aprender com as mulheres
as finezas finíssimas do namoro.
O homem nasce ignorante, vive ignorante, às vezes morre
três vezes ignorante de seu coração
e da maneira de usá-lo.

Só a mulher (como explicar?)
entende certas coisas
que não são para entender. São para aspirar
como essência, ou nem assim. Elas aspiram
o segredo do mundo.

Há homens que se cansam depressa de namorar,
outros que são infiéis à namorada.
Pobre de quem não aprendeu direito,
ai de quem nunca estará maduro para aprender,
triste de quem não merecia, não merece namorar.

Pois namorar não é só juntar duas atrações
no velho estilo ou no moderno estilo,
com arrepios, murmúrios, silêncios,
caminhadas, jantares, gravações,
fins-de-semana, o carro à toda ou a 80,
lancha, piscina, dia-dos-namorados,
foto colorida, filme adoidado,,
rápido motel onde os espelhos
não guardam beijo e alma de ninguém.

Namorar é o sentido absoluto
que se esconde no gesto muito simples,
não intencional, nunca previsto,
e dá ao gesto a cor do amanhecer,
para ficar durando, perdurando,
som de cristal na concha
ou no infinito.

Namorar é além do beijo e da sintaxe,
não depende de estado ou condição.
Ser duplicado, ser complexo,
que em si mesmo se mira e se desdobra,
o namorado, a namorada
não são aquelas mesmas criaturas
que cruzamos na rua.
São outras, são estrelas remotíssimas,
fora de qualquer sistema ou situação.
A limitação terrestre, que os persegue,
tenta cobrar (inveja)
o terrível imposto de passagem:
"Depressa! Corre! Vai acabar! Vai fenecer!
Vai corromper-se tudo em flor esmigalhada
na sola dos sapatos..."
Ou senão:
"Desiste! Foge! Esquece!"
E os fracos esquecem. Os tímidos desistem.
Fogem os covardes.
Que importa? A cada hora nascem
outros namorados para a novidade
da antiga experiência.
E inauguram cada manhã
(namoramor)
o velho, velho mundo renovado.

(Carlos Drummond de Andrade)






Oração do Horizonte


Nós vivemos a verdade
Que reluz do coração
Somos força e coragem
Enfrentando a escuridão
E onde o amor for infinito
Que eu encontre o meu lugar
E que o silêncio da saudade
Não me impeça de cantar

Talvez você me encontre por aí
Quem sabe a gente possa descobrir no amor
Sonhos iguais
Noites de luz
Que os dias de paz
Estão em nós

Que o desprezo que nos cerca
Fortaleça essa canção
E que o nosso egoísmo
Se transforme em união
E onde o amor for infinito,
Que eu encontre o meu lugar
E que o estorvo da maldade
Não me impeça de voar
Talvez você me encontre por aí
Quem sabe a gente possa descobrir no amor

Sonhos iguais
Noites de luz
Que os dias de paz
Estão em nós

A bondade é fortaleza
O amor tudo é capaz
Que a cegueira da certeza
Não sufoque os ideais do amor
Do amor


(Tico Santa Cruz)





Tudo que eu falei durmindo


Aumenta o som do meu stereo
Que eu quero te levar a sério
Apaga a luz e chega perto
Pra eu te mostrar os meus segredos
Você dormiu sem me dizer as coisas boas do seu dia
E eu saí sem te contar que o que importa nessa vida
É só deixar rolar e sempre...é só deixar rolar

E no meu corpo ainda sinto o seu perfume
O resultado do nosso confronto
E se para os outros já não faz sentido
Eu continuo tentando insistindo
Você dormiu sem me dizer as coisas boas do seu dia
E eu saí sem te contar que o que importa nessa vida
É só deixar rolar e sempre...é só deixar rolar

Sei lá, tudo pode parecer estranho
Sei lá, tudo pode parecer a todo tempo de verdade

E tudo o que eu falei dormindo
Eu sempre quis dizer de dia
Invento artifícios para nunca te perder
Eu não vou te perder...


(Rodrigo Netto)






Deusa da Ilusão


Jezabel princesa de Babel
De Babilônia e Xanadu
Meu Shangrilá és tu
Tesouro do eldorado
Sou teu guerreiro de Esparta
Teu guardião

Selena que me ilumina o céu
E organiza os oceanos
É teu meu tempo e mais
É tua minha história
É teu meu reino da memória

Ó feiticeira de judah
Que me incendeia e faz voar
Sereia do meu mar
Astronave do meu ar
Edelweiss do himalaia
Tu és maia, tu és má
Tu és a deusa da ilusão
E eu te amo

(Lulu Santos)





Vamos Viver


Vamos consertar o mundo
Vamos começar lavando os pratos
Nos ajudar uns aos outros
Me deixe amarrar os seus sapatos
Vamos acabar com a dor
E arrumar os discos numa prateleira
Vamos viver só de amor
Que o aluguel venceu na terça-feira

O sonho agora é real
E a chuva cai por uma fresta no telhado
Por onde também passa o sol
Hoje é dia de supermercado

Vamos viver só de amor

E não ter que pensar, pensar
No que está faltando, no que sobra
Nunca mais ter que lembrar, lembrar
De pôr travas e trancas nas portas


(Herbert Vianna)




Nada como eu e você


Tem gente que se desespera
Com aplicações e rendimentos
Outras são quase estéricas
Com a arrumação do apartamento

Tem gente que passa o tempo
Agradando a gregos e baianos
Dando satisfação aos vizinhos
Que vive se controlando

Porque eles nunca tiveram, nem vão ter
Nada como eu e você

Tem gente que passo o dia
Fazendo séries de exercícios
Enlouquecida na academia, com cada milímetro do bíceps

Tem gente que faz fofoca
E cheira
E pira
E jura que é Deus

Tem gente que enche a cara
Tem gente que nunca pára

Porque eles nunca tiveram, nem vão ter
Nada como eu e você

(Leoni)




Melhor pra mim


Olhando as estrelas
Nada no espaço
Fica parado no lugar
A terra se move
Os carros na estrada
Eu dentro de um deles
Corro mais só pra te encontrar

Olhando o relógio
O tempo não passa
Quando eu me afasto de você
Mas se de repente ele fica apressado
E as horas disparam
É só porque encontrei você

E aí tudo muda
Olhando pro céu
E aí tudo muda
Penso em você e eu

A ciência confirma os fatos que o coração descobriu
Nos seus braços sempre me esqueço de tempo, espaço e no fim
Tudo é relativo quando te fazer feliz me faz feliz
Se a história for sempre assim
Melhor pra mim

Olhando as pessoas
Falando de espaço
Mantendo distância sem saber
Que antigas verdades viraram mentiras
E nada protege de uma paixão vir acontecer

(Leoni)





Bom dia


Bom dia,
Olha as flores que eu trouxe pra você, amor
São pra comemorar aquele dia
Que passei a viver do teu lado
Eu me lembro, entre nós não havia quase nada.

E agora é só você que me faz cantar
É só você que me faz cantar

Havia
Mil motivos pra eu não estar naquele show
Mas o nosso destino foi escrito sob o som de uma banda qualquer
Eu me lembro, em Maio
Conheci minha mulher...

E agora é só você que me faz cantar
E é só você que me faz cantar
E é só você que me faz cantar

(Rodrigo Amarante / Marcelo Camelo)





Último Romance


Eu encontrei-a quando não quis
mais procurar o meu amor
e o quanto levou foi pra eu merecer
antes um mês e eu já não sei
e até quem me vê lendo jornal
na fila do pão sabe que eu te encontrei

e ninguem dirá
que é tarde demais
que é tão diferente assim
do nosso amor
a gente é que sabe pequena
ah vai

me diz o que é o sufoco que eu te mostro alguém
afim de te acompanhar
e se o caso for de ir a praia
eu levo essa casa numa sacola...

Eu encontrei-a e quis duvidar
tanto clichê
deve não ser
VOCÊ ME FALOU
PRA EU NÃO ME PREOCUPAR
TER FÉ E VER CORAGEM NO AMOR
e só de te ver
eu penso em trocar
a minha tv num jeito de te levar
a qualquer lugar
que voce queira
e ir onde o vento for
que pra nos dois
sair de casa ja é
se aventurar
ah vai

me diz o que é o sossego que eu te mostro alguem
afim de te acompanhar
e se o tempo for te levar
eu sigo essa hora
e pego carona
pra te acompanhar

(Rodrigo Amarante)





Pratodia


Como arroz e feijão,
é feita de grão em grão
Nossa felicidade

Como arroz e feijão
A perfeita combinação
Soma de duas metades

Como feijão e arroz
que só se encontram depois de abandonar a embalagem
Mas como entender que os dois
Por serem feijão e arroz
Se encontram só de passagem

Me jogou da panela
Pra nela eu me perder
Me sirvo a vontade... que vontade de te ver

O dia do prato chegou é quando eu encontro você
Nem me lembro o que foi diferente!
Mas assim como veio acabou e quando eu penso em você
Choro café e você chora leite

Choro café e você chora leite

(Fernando Anitelli)





A Pedra mais alta


Me resolvi por subir na pedra mais alta
Pra te enxergar sorrindo da pedra mais alta
Contemplar teu ar, teu movimento, teu canto
Olhos feito pérola, cabelo feito manto

Sereia bonita sentada na pedra mais alta
To pensando em me jogar de cima da pedra mais alta
Vou mergulhar, talvez bater cabeça no fundo
Vou dar braçadas remar todos mares do mundo

O medo fica maior de cima da pedra mais alta
Sou tão pequenininho de cima da pedra mais alta
Me pareço conchinha ou será que conchinha acha que sou eu?
Tudo fica confuso de cima da pedra mais alta

Quero deitar na tua escama
Teu colo confessionário
De cima da pedra não se fala em horário
Bem sei da tua dificuldade na terra
Farei o possível pra morar contigo na pedra

Sereia bonita descansa teus braços em mim
Não quero tua poesia teu tesouro escondido
Deixa a onda levar todo esboço de idéia de fim
Defina comigo o traçado do nosso sentido

Quero teu sonho visível da pedra mais alta
Quero gotas pequenas molhando a pedra mais alta
Quero a música rara o som doce choroso da flauta
Quero você inteira e minha metade de volta

(Fernando Anitelli)





Aula de matemática


Pra que dividir sem raciocinar
Na vida é sempre bom multiplicar
E por A mais B
Eu quero demonstrar
Que gosto imensamente de você

Por uma fração infinitesimal,
Você criou um caso de cálculo integral
E para resolver este problema
Eu tenho um teorema banal

Quando dois meios se encontram desaparece a fração
E se achamos a unidade
Está resolvida a questão

Prá finalizar, vamos recordar
Que menos por menos dá mais amor
Se vão as paralelas
Ao infinito se encontrar
Por que demoram tanto dois corações a se integrar?
Se desesperadamente, incomensuravelmente,
Eu estou perdidamente apaixonado por você.

(Tom Jobim / Marino Pinto)





Corcovado


Um cantinho, um violão
Esse amor, uma canção
Pra fazer feliz a quem se ama

Muita calma pra pensar
E ter tempo pra sonhar
Da janela vê-se o Corcovado,
O Redentor que lindo!

Quero a vida sempre assim
Com você perto de mim
Até o apagar da velha chama

E eu que era triste
Descrente deste mundo
Ao encontrar você eu conheci
O que é felicidade meu amor

(Tom Jobim)



ABÇS! FELICIDADES!

terça-feira, 10 de junho de 2008

A Primavera

O meu amor sozinho,
É assim como um jardim sem flor,
Só queria poder ir dizer a ela,
Como é triste se sentir saudade.

É que eu gosto tanto dela,
Que é capaz dela gostar de mim,
Acontece que eu estou mais longe dela,
Do que a estrela a reluzir na tarde.

Estrela, eu lhe diria,
Desce à terra, o amor existe,
E a poesia só espera ver nascer a primavera,
para não morrer,
Não há amor sozinho,
É juntinho que ele fica bom,
Eu queria dar-lhe todo o meu carinho,
Eu queria ter felicidade.

É que o meu amor é tanto,
Um encanto que não tem mais fim,
No entanto ela não sabe que isso existe,
É tão triste se sentir saudade.

Amor,eu lhe direi,
Amor que eu tanto procurei,
Ah! quem me dera eu pudesse ser,
A tua primavera e depois morrer.



(Carlos Lyra / Vinicius de Moraes)

Obrigado (Por Ter Se Mandado)

Obrigado
Por ter se mandado
Ter me condenado a tanta liberdade
Pelas tardes nunca foi tão tarde
Teus abraços, tuas ameaças

Obrigado
Por eu ter te amado
Com a fidelidade de um bicho amestrado
Pelas vezes que eu chorei sem vontade
Pra te impressionar, causar piedade

Pelos dias de cão, muito obrigado
Pela frase feita
Por esculhambar meu coração
Antiquado e careta
Me trair, me dar inspiração
Preu ganhar dinheiro

Obrigado
Por ter se mandado
Ter me acordado pra realidade
Das pessoas que eu já nem lembrava
Pareciam todas ter a tua cara

Obrigado
Por não ter voltado
Pra buscar as coisas que se acabaram
E também por não ter dito obrigado
Ter levado a ingratidão bem guardada

Pelos dias de cão, muito obrigado
Pela frase feita
Por esculhambar meu coração
Antiquado e careta
Me trair, me dar inspiração
Preu ganhar dinheiro



(Cazuza / Zé Luis)

Perdoa, meu amor

Perdoa, meu amor, perdoa
Perdoa, eu bem sei que errei
Perdoa, meu amor, perdoa
Perdoa se lhe magoei

A minha vida era só melancolia
Até você me aparecer um dia
Como se fosse uma rosa fugidia
Fez dos meus sonhos esta louca fantasia

Ainda sinto o seu perfume encantador
E nos meus lábios, os teus beijos sedutores
Perdoa, meu amor, perdoa
Perdoa se me tens amor



(Casemiro Vieira)

Gatas Extraordinárias

O amor me pegou
E eu não descanso enquanto não pegar
Aquela criatura
Saio na noite à procura
O batidão do meu coração na pista escura
Se pego, ui me entrego e fui
Será que ela quererá, será que ela quer
Será que meu sonho influi
Será que meu plano é bom
Será que é no tom
Será que ele se conclui
E as gatas extraordinárias que
Andam nos meios onde ela flui
Será que ela evolui
Será que ela evolui
E se ela evoluir, será que isso me inclui
Tenho que pegar, tenho que pegar
Tenho que pegar essa criatura



(Caetano Veloso)

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Daniel na cova dos leões

Aquele gosto amargo do teu corpo
Ficou na minha boca por mais tempo
De amargo e então salgado ficou doce,
Assim que o teu cheiro forte e lento
Fez casa nos meus braços e ainda leve
E forte e cego e tenso fez saber
Que ainda era muito e muito pouco.

Faço nosso o meu segredo mais sincero
E desafio o instinto dissonante.
A insegurança não me ataca quando erro
E o teu momento passa a ser o meu instante.
E o teu medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força confusão
Teu corpo é meu espelho e em ti navego
E sei que tua correnteza não tem direção.

Mas, tão certo quanto o erro de ser barco
A motor e insistir em usar os remos,
É o mal que a água faz quando se afoga
E o salva-vidas não está lá porque nao vemos



(Renato Russo)

Esperando por mim

Acho que você não percebeu
Que o meu sorriso era sincero
Sou tão cínico às vezes

O tempo todo
Estou tentando me defender
Digam o que disserem
O mal do século é a solidão
Cada um de nós imerso em sua própria
arrogância
Esperando por um pouco de afeição
Hoje não estava nada bem
Mas a tempestade me distrai
Gosto dos pingos de chuva
Dos relâmpagos e dos trovões
Hoje à tarde foi um dia bom
Saí prá caminhar com meu pai
Conversamos sobre coisas da vida
E tivemos um momento de paz
É de noite que tudo faz sentido
No silêncio eu não ouço meus gritos
E o que disserem
Meu pai sempre esteve esperando por mim
E o que disserem
Minha mãe sempre esteve esperando por mim
E o que disserem
Meus verdadeiros amigos sempre esperaram por mim
E o que disserem
Agora meu filho espera por mim

Estamos vivendo
E o que disserem os nossos dias serão para sempre.



(Renato Russo)

Maurício

Já não sei dizer se ainda sei sentir.
O meu coração já não me pertence.
Já não quer mais me obedecer.
Parece agora estar tão cansado quanto eu.

Até pensei que era mais por não saber.
Que ainda sou capaz de acreditar.
Me sinto tão só.
E dizem que a solidão até que me cai bem.

às vezes faço planos.
Às vezes quero ir.
Para algum país distante e voltar a ser feliz.

Já não sei dizer o que aconteceu.
Se tudo que sonhei foi mesmo um sonho meu.
Se meu desejo então já se realizou.
O que fazer depois, pra onde é que eu vou?

Eu vi você voltar pra mim.



(Renato Russo)

domingo, 8 de junho de 2008

Seja um idiota

A idiotice é vital para a felicidade.

Gente chata essa que quer ser séria, profunda e visceral sempre. Putz! A vida já é um caos, por que fazermos dela, ainda por cima, um tratado? Deixe a seriedade para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores e afins.

No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota! Ria dos próprios defeitos. E de quem acha defeitos em você. Ignore o que o boçal do seu chefe disse. Pense assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente, é ele. Pobre dele.

Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice. Trate seu amor como seu melhor amigo, e pronto.

Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselho pra tudo,soluções sensatas, mas não consegue rir quando tropeça?

hahahahahahahahaha!...

Alguém que sabe resolver uma crise familiar, mas não tem a menor idéia de como preencher as horas livres de um fim de semana? Quanto tempo faz que você não vai ao cinema?

É bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas. E daí,o que elas farão se já não têm por que se desesperar?

Desaprenderam a brincar. Eu não quero alguém assim comigo. Você quer? Espero que não.

Tudo que é mais difícil é mais gostoso, mas... a realidade já é dura; piora se for densa.

Dura, densa, e bem ruim.

Brincar é legal. Entendeu?

Esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar besteira, não ser imaturo, não chorar, não andar descalço,não tomar chuva.

Pule corda!

Adultos podem (e devem) contar piadas, passear no parque, rir alto e lamber a tampa do iogurte.

Ser adulto não é perder os prazeres da vida - e esse é o único "não" realmente aceitável.

Teste a teoria. Uma semaninha, para começar.

Veja e sinta as coisas como se elas fossem o que realmente são:
passageiras. Acorde de manhã e decida entre duas coisas: ficar de mau humor e transmitir isso adiante ou sorrir...

Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração!

Aliás, entregue os problemas nas mãos de Deus e que tal um cafezinho gostoso agora?

A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore,dance e viva intensamente antes que a cortina se feche!



(Arnaldo Jabor)

Menina Mimada

Foi você que quis embora
Agora volta arrependida e chora
O olhar pedindo esmola
Baby eu conheço a tua história

Quem sabe eu faço um blues em tua homenagem
Eu vou rimar tanta bobagem
Você é tão fácil
Menina Mimada de enfeites, broches
E queixas, queixas, queixas
Foi você mesma quem quis!

Foi você que quis embora
Agora toca a campainha aí fora
Diz que esqueceu a sacola
Baby eu conheço a tua história

O cara já tá buzinando lá embaixo
Fazendo papel de palhaço
Cheio de flores, promessas
Menina Mimada você é um fracasso
Cigarros... Leva um maço
Foi você mesma quem quis!


(Cazuza / Maurício Barros)

sábado, 7 de junho de 2008

Arte de Amar

Se queres sentir a felicidade de amar,
Esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.
Deixe o teu corpo entender-se com outro corpo,
porque os corpos se entendem, mas as almas não.



(Manuel Bandeira)

Os Dois Horizontes

Dois horizonte fecham nossa vida:

Um horizonte, - a saudade
Do que não há de voltar;
Outro horizonte, - a esperança
Dos tempos que hão de chegar;
No presente, - sempre escuro, -
Vive a alma ambiciosa
Na ilusão voluptuosa
Do passado e do futuro.

Os doces brincos da infância
Sob as asas maternais,
O vôo das andorinhas,
A onda viva e os rosais.
O gozo do amor, sonhado
Num olhar profundo e ardente,
Tal é na hora presente
O horizonte do passado.

Ou ambição de grandeza
Que no espírito calou,
Desejo de amor sincero
Que o coração não gozou;
Ou um viver calmo e puro
À alma convalescente,
Tal é na hora presente
O horizonte do futuro.

No breve correr dos dias
Sob o azul do céu, - tais são
Limites no mar da vida:
Saudade ou aspiração;
Ao nosso espírito ardente,
Na avidez do bem sonhado,
Nunca o presente é passado,
Nunca o futuro é presente.

Que cismas, homem? - Perdido
No mar das recordações,
Escuto um eco sentido
Das passadas ilusões.
Que buscas, homem? - Procuro,
Através da imensidade,
Ler a doce realidade
Das ilusões do futuro.

Dois horizontes fecham nossa vida.



(Machado de Assis)