segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Quando Eu Te Encontrar

Eu já sei o que meus olhos vão querer
Quando eu te encontrar
Impedidos de te ver
Vão querer chorar
Um riso incontido
Perdido em algum lugar
Felicidade que transborda
Parece não querer parar
Não quer parar
Não vai parar

Eu já sei o que meus lábios vão querer
Quando eu te encontrar
Molhados de prazer
Vão querer beijar
E o que na vida não se cansa
De se apresentar
Por ser lugar comum
Deixamos de extravazar, de demonstrar

Mas nunca me disseram o que devo fazer
Quando a saudade acorda
A beleza que faz sofrer
Nunca me disseram como devo proceder
Chorar, beijar, te abraçar, é isso que quero fazer
É isso que quero dizer

Eu já sei o que meus braços vão querer
Quando eu te encontrar
Na forma de um "C"
Vão te abraçar
Um abraço apertado
Pra você não escapar
Se você foge me faz crer
Que o mundo pode acabar, vai acabar...


(Bruno Gouveia / Álvaro / Carlos Coelho / Miguel Flores / Sheik)

Você Existe, Eu Sei

Há tanto tempo venho procurando
Venho te chamando
Você existe, eu sei
Em algum lugar do mundo você vive
Vive como eu
Onde eu ainda não fui
Como é o seu rosto?
Qual é o gosto que eu nunca senti?
Qual é o seu telefone?
Qual é o nome que eu nunca chamei?
Se eu esbarrei na rua com você
E não te vi meu amor
Como poderia saber?
Tanta gente que eu conheci
Não me encontrei só me perdi
Amo o que eu não sei de você
Como é o seu rosto?
Qual é o gosto que eu nunca senti?
Qual é o seu telefone?
Qual é o nome que eu nunca chamei?
Sei que você pode estar me ouvindo
Ou pode até estar dormindo
Do acaso eu não sei
Talvez veja o futuro em seus olhos
Pelo seu jeito de me olhar,
Como reconhecerei voce?


(Biquini Cavadão)

Quanto Tempo Demora Um Mês

Acordei com o seu gosto
E a lembrança do seu rosto
Porque você se fez tão linda

Mas agora você vai embora
Quanto tempo será que demora
Um mês pra passar

A vida inteira de um inseto
Um embrião pra virar feto
A folha do calendário
O trabalho pra ganhar o salário

Mas daqui a um mês
Quando você voltar
A lua vai tá cheia
E no mesmo lugar...

Se eu pudesse escolher
Outra forma de ser
Eu seria você

E a saudade em mim agora
Quanto tempo será que demora
Um mês pra passar

Ser campeão da copa do mundo
Um dia em Saturno
Pra criança que não sabe contar vai levar um tempão

Daqui a um mês
Quando você voltar
A lua vai tá cheia
E no mesmo lugar

Mas daqui a um mês
Quando você voltar
A lua vai tá cheia
E no mesmo lugar...


(Bruno Gouveia / Álvaro / Carlos Coelho / Miguel Flores / Sheik)

Em algum lugar no tempo

Não guarde mágoa de mim
Também não me esqueça
Talvez não saiba amar
Nem mesmo te mereça
Como as ondas do mar
Sempre vão e vem
Nossos beijos de adeus
Na estação de trem
Um gosto de lágrima no rosto
Palavras murmuradas
Que eu quase nem ouço..


Em algum lugar no tempo
Nós ainda estamos juntos
Em algum lugar
Ainda estamos juntos
Em algum lugar no tempo
Nós ainda estamos juntos
Prá sempre, prá sempre
Ficaremos juntos...

Não tenha medo de mim
Não importa o que aconteça
Não me tire da sua vida
Nem desapareça
Como as ondas do mar
Sempre vão e vem
Nossos beijos de adeus
Na estação de trem
Um gosto de lágrima no rosto
Palavras murmuradas
Que eu quase nem ouço...

Em algum lugar no tempo
Nós ainda estamos juntos
Em algum lugar
Ainda estamos juntos
Em algum lugar no tempo
Nós ainda estamos juntos
Prá sempre, prá sempre
Ficaremos juntos
Juntos...

Em algum lugar no tempo
Nós ainda estamos juntos
Prá sempre, prá sempre
Ficaremos juntos
Não guarde mágoa de mim!


(Bruno Gouveia / Álvaro / Carlos Coelho / Miguel Flores / Sheik)

domingo, 24 de janeiro de 2010

Amor Perfeito (Amor Perfeito Amor)

Veja meu bem-te-vi
Como se beija a flor
Seja meu querubim
Amor perfeito amor
Queira meu bem-querer
Cera de abelha e mel
Cara de quem comeu
Pêra, maçã e céu
Girassóis no jardim do prazer
Pra você é o que há
Pelo sim, pelo não, levo fé
Sempre o seu coração!
Bate na minha porta
Entra no paraíso
Chove na minha horta
Brota no meu sorriso.

(João Donato / Moraes Moreira)

Minha Saudade

Minha saudade
É a saudade de você
Que não quis levar de mim
A saudade de você
E foi por isso
Que tão cedo me esqueceu
Mas eu tenho até hoje
A saudade de você
Eu já me acostumei
A viver sem teu amor
Mas só não consegui
Foi viver sem ter saudade
Minha saudade
É a saudade de você
Que não quis levar de mim
A saudade de você


(João Donato / João Gilberto)

sábado, 23 de janeiro de 2010

Não sei se foi

Não sei se foi
A canção de amor que entrou no ar
Não sei se foi o luar que deitou lá no céu
Se foi a onda do mar que quebrou meu coração
Se foi meu sorriso ou o toque precioso da mão

Só sei que foi
foi só pedir a quem se entregava assim
Depois tomar
O que eu já te dava de mim
Como entender as surpresas que o amor de repente nos faz
Foi só sentir o teu rosto tão perto demais

E o teu beijo com gosto de quero mais
Foi só sentir o teu corpo e cair pra trás
Não sei se foi a canção...

(João Donato/ Lysias Ênio)

A Mim E A Mais Ninguém

Eu sei que tempo vai passar
E as coisas vão ficar
Porque acredito em mim
E o tempo passa a flutuar e a chance de eu ficar
Depende só de mim
Começo uma nova história e aviso
Não vai ter lugar prá você onde sobra juízo
Todo amor que eu amei, no fundo eu dediquei
A mim e a mais ninguém
E vai ser tarde até demais
Prá quem ficou prá trás
Por não saber amar
Se gosta do medo não venha comigo
Não gosto de quem nunca corre perigo
Todo canto e pranto meu e tudo que sou eu
Por certo vai vingar
Então você vai entender que o quanto que eu quis
sofrer
Valeu pelo tentar
Se gosta do medo não venha comigo
Não gosto de quem nunca corre perigo
Todo amor que eu amei no fundo eu dediquei
A mim e mais ninguém.


(Angela Ro Ro / Sérgio Bandeyra)

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

5 Discos

Estive tantas vezes
Perguntando sem saber
Se havia algo errado
Me afastando de você
O silêncio respondido falhou
E me enganou
Li 200 livros
5 discos escutei
Consultei 1000 dicionários
Pra saber onde eu errei
Tanto tempo só pensando
Se outra chance eu vou ter
Você sabe o quanto eu tento
Outra vez te merecer

Foi algo que fiz
Ou que falei
Não entendi
Quando eu percebi
Você já não estava aqui


(Fernanda Takai / John)

Simplesmente

Simplesmente posso esperar
Aqui por você, uma eternidade
Uma tarde inteira

Simplesmente posso encontrar
Qualquer distração, ruas da cidade
Restos de uma feira

Tomo um atalho no lago
Só pra te perder
Enquanto olho os aviões
Nada tremeu no ar
Não vi nem um sinal

Simplesmente eu posso esperar
Simplesmente posso esquecer
Da guerra ou da paz
Uma eternidade, uma tarde inteira

Calmamente posso contar
As nuvens no céu
Rostos na vidraça, flores nessa praça
Desço a Consolação só pra coincidir
Leio manchetes por aí
Nada tremeu no ar
Não vi nem um sinal
Mesmo assim eu posso esperar

Até deixar um recado na tarde
Uma simples saudade
Que você vai sentir quando sentar-se a mesa
Uma simples certeza
Que agora é você quem espera por mim.


(Samuel Rosa / Chico Amaral)

Você já me esqueceu

Vem,
Você bem sabe que aqui é o seu lugar
E, sem você, consigo apenas compreender
Que sua ausência faz a noite se alongar
Vem,
Há tanta coisa que eu preciso lhe dizer
Quando o desejo que me queima se acalmar
Preciso de você para viver

É noite, amor
E o frio entrou no quarto que foi seu e meu
Pela janela aberta onde eu me debrucei
Na espera inútil e você não apareceu

Você já me esqueceu
E eu não vejo um jeito de fazer você lembrar
De tantas vezes que eu ouvi você dizer
Que eu era tudo pra você

Você já me esqueceu
E a madrugada fria agora vem dizer
Que eu já não passo de nada pra você
Você já me esqueceu

Você já me esqueceu
Você já me esqueceu

É noite, amor
E o frio entrou no quarto que foi seu e meu
Pela janela aberta onde eu me debrucei
Na espera inútil e você não apareceu

Você já me esqueceu
E eu não vejo um jeito de fazer você lembrar
De tantas vezes que eu ouvi você dizer
Que eu era tudo pra você

Você já me esqueceu
E a madrugada fria agora vem dizer
Que eu já não passo de nada pra você
Você já me esqueceu

Você já me esqueceu
Você já me esqueceu

Você não veio amor
Você já me esqueceu.


(Fred Jorge)

Gota D'Água

Já lhe dei meu corpo
Minha alegria
Já estanquei meu sangue
Quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta
Pro desfecho da festa
Por favor...

Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água
Pode ser a gota d'água.


(Chico Buarque)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Muito Pouco

Pronto
Agora que voltou tudo ao normal
Talvez você consiga ser menos rei
E um pouco mais real
Esqueça
As horas nunca andam para trás
Todo dia é dia de aprender um pouco
Do muito que a vida traz.

Mas muito pra mim é tão pouco
E pouco é um pouco demais
Viver tá me deixando louca
Não sei mais do que sou capaz
Gritando pra não ficar rouca
Em guerra lutando por paz
Muito pra mim é tão pouco
E pouco eu não quero mais

Chega!
Não me condene pelo seu penar
Pesos e medidas não servem
Pra ninguém poder nos comparar
Porque
Eu não pertenço ao mesmo lugar
Em que você se afunda tão raso
Não dá nem pra tentar te salvar

Porque muito pra mim é tão pouco
E pouco é um pouco demais
Viver tá me deixando louca
Não sei mais do que sou capaz
Gritando pra não ficar rouca
Em guerra lutando por paz
Muito pra mim é tão pouco
E pouco eu não quero ...

...veja
A qualidade está inferior
E não é a quantidade que faz
A estrutura de um grande amor
Simplesmente seja
O que você julgar ser o melhor
Mas lembre-se que tudo que começa com muito
Pode acabar muito pior

E muito pra mim é tão pouco
E pouco é um pouco demais
Viver tá me deixando louca
Não sei mais do que sou capaz
Gritando pra não ficar rouca
Em guerra lutando por paz
Muito pra mim é tão pouco
E pouco eu não quero mais
Pouco eu não quero mais.


(Moska)

Um Amor, Um Lugar

O meu amor é teu
O meu desejo é meu
O teu silencio é um véu
O meu inferno é o ceu
Pra quem nao sente culpa de nada

E se nao for valeu
E se já for, Adeus
O dia amanheceu
Levante as mãos para o céu
E agradeça se um dia encontrar

Um amor, um lugar
Pra sonhar
Pra que a dor possa sempre mostrar
Algo de bom...

Eu ainda lembro
O dia em que eu te encontrei
Eu ainda lembro
Como era fácil viver
Ainda lembro

(Herbert Vianna)

O amor não sabe esperar

Sopra leve o vento leste encrespa o mar
E eu ainda te espero chegar

Vem a noite
Cai seu manto escuro devagar
E eu ainda te espero chegar

Não telefone, não mande carta
Não mande alguém me avisar
Não vá pra longe, não me desaponte
O amor não sabe esperar

Ficar só é a própria escravidão
Ver você é ver na escuridão
E quando o Sol sair
Pode te trazer pra mim

Abro a porta, enfeito a casa
Deixo a luz entrar
E eu ainda te espero chegar

Escrevo versos
Rosas e incenso para perfumar
E eu ainda te espero chegar

Não telefone, não mande carta
Não mande alguém me avisar
Não vá pra longe, não me desaponte
O amor não sabe esperar

Estar só é a própria escravidão
E ver você é ver na escuridão
E quando o sol sair
Tudo vai brilhar pra mim

Estar só é a própria escravidão
Ver você é ver na escuridão
E quando o Sol sair
Pode te trazer pra mim.


( Herbert Vianna)

Tendo a Lua

Eu hoje joguei tanta coisa fora
Eu vi o meu passado passar por mim
Cartas e fotografias gente que foi embora.
A casa fica bem melhor assim

O céu de ícaro tem mais poesia que o de galileu
E lendo teus bilhetes, eu penso no que fiz
Querendo ver o mais distante e sem saber voar
Desprezando as asas que você me deu

Tendo a lua aquela gravidade aonde o homem flutua
Merecia a visita não de militares,
Mas de bailarinos
E de você e eu.

Eu hoje joguei tanta coisa fora
E lendo teus bilhetes, eu penso no que fiz
Cartas e fotografias gente que foi embora.
A casa fica bem melhor assim

Tendo a lua aquela gravidade aonde o homem flutua
Merecia a visita não de militares,
Mas de bailarinos
E de você e eu.


(Herbert Vianna / Tet Tillet)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Fiz o que pude

Eu não vou mais chorar
Eu fiz o que pude
Não paro de pensar
A tua ausência que me ilude
Não posso acreditar
Que eu não pude
Parar para te esperar
Essa distância me ilude

Não dá mais pra continuar assim
Eu quero que você me ajude
Eu quero que você volte a acreditar em mim
Mas, para isso, é preciso que eu mude

Eu acho que ainda sou moço
Eu acho que ainda não morro
Eu acho que ainda é possível
Que eu consiga viver em paz.

(Nando Reis)

Tarde demais

Tarde demais
A cidade adormeceu
Tarde demais o silêncio nos venceu
E se calou só para ouvir a tristeza chorar
Mais uma vez 3:30 da manhã

Fácil demais esse vírus infectou
Partes vitais no meu corpo congelou
E arrancou com duas mãos toda a vida em mim
Tarde demais nossa história chega ao fim, fiimm

E antes que aumente a dor
Esqueça tudo o que passou
Pra nunca mais

Tarde demais esse tiro atravessou
Tarde demais o meu peito acertou
E dividiu o coração me tirando a paz
Perto do cais engolindo a própria voz

E antes que aumente a dor
Esqueça tudo o que passou
Pra nunca mais
O tempo vai reconstruir
Os pedaços que perdi
Pra nunca mais

Tarde demais pra se arrepender!
Tarde demais não sei quem é você!

(Marcus Menna / Morel)

Até o Fim

Quando nasci
Veio um anjo safado
O chato dum Querubim
E decretou
Que eu tava predestinado
A ser errado assim
Já de saída
A minha estrada entortou
Mas vou até o fim...

"Inda" garoto
Deixei de ir à escola
Caçaram meu boletim
Não sou ladrão
Eu não sou bom de bola
Nem posso ouvir clarim
Um bom futuro
É o que jamais me esperou
Mas vou até o fim...

Eu bem que tenho
Ensaiado um progresso
Virei cantor de festim
Mamãe contou
Que eu faço um bruto sucesso
Em Quixeramobim
Não sei como
O Maracatu começou
Mas vou até o fim...

Por conta de umas questões
Paralelas
Quebraram meu bandolim
Não querem mais ouvir
As minhas mazelas
E a minha voz chinfrim
Criei barriga
Minha mula empacou
Mas vou até o fim...

Não tem cigarro
Acabou minha renda
Deu praga no meu capim
Minha mulher fugiu
Com o dono da venda
O que será de mim?
Eu já nem lembro
"Pronde" mesmo que vou
Mas vou até o fim...

Como já disse
Era um anjo safado
O chato dum Querubim
Que decretou
Que eu tava predestinado
A ser todo ruim
Já de saída
A minha estrada entortou
Mas vou até o fim...

"-Como já disse
Era um anjo safado
O chato dum Querubim
Que decretou
Que eu tava predestinado
A ser todo ruim
Todo ruim, todo ruim".

(Chico Buarque)

Nada vai mudar isso

O meu amor partiu
Cansou dos meus vícios
E mesmo que amanhã ele volte com outro feitiço
Hoje, o meu amor partiu
E nada vai
Nada vai mudar isso

Nada vai mudar na cama grudada em mim
Nem meu rosto inchado de mágoa
O sol se escondeu lá fora
Atras de uma nuvem de água

Nas paredes nossa história
E no teto a minha tela de cinema
E nela ainda vejo nosso esgrima de língua
Os nossos raios, Nossa antena.

Meu amor se expulsou de mim
cansou dos meus vícios
E mesmo que amanhã ele volte
Com outro feitiço
Hoje, meu amor partiu
E nada vai
Nada vai mudar isso

Meu amor se expulsou de mim
Hoje, meu amor partiu.
 
 
(Moska)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Poetisando Manhãs

Faz o meu café, amor?
Passa manteiga no pão (por favor)


Passa-me o suco

E o mel do teu corpo.


Dá-me o doce provado

Na mesa-cama da madrugada.

Sinta a vida vivida
No suor de nossas peles.

Beba-me, meu bem.
Nesse nosso vício em comum:

A manhã precedida pelos abraços noturnos.

Sucedida pela certeza que me acompanha:

O desejo em lhe acompanhar.






(Dênis Rubra)

http://denisrubra.blogspot.com/

Poetisando Posses

Prenda tua boca,
na minha.

O céu do teu olhar,
no meu.

Faça do teu corpo,
o nosso.

Do meu suor,
o teu.

(Não há palavra possessiva,
que possua

o que o vida faz existir.)
 
 
(Dênis Rubra)

http://denisrubra.blogspot.com/

Metade

Que o amor
me livre desse peso
de escolher caminhos,

de poder ser
qualquer coisa
em qualquer tempo,

de viver sempre em liberdade.

Que o amor
me consuma até o meio,

e que seja dela
a minha outra metade.



(Filipe Couto)

http://asoutraspalavras.blogspot.com/ 

Sobre Espantos

É só no escuro
que enxergamos
um ao outro

(as mãos atônitas
a cada movimento,

cortando o silêncio
como adagas).

Juntos,
amamos como crianças
que descobrem a madrugada.



(Filipe Couto)

http://asoutraspalavras.blogspot.com/

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Um Dia, Um Adeus

Só você prá dar
A minha vida direção
O tom, a cor
Me fez voltar a ver a luz
Estrela no deserto a me guiar
Farol no mar, da incerteza...

Um dia um adeus
E eu indo embora
Quanta loucura
Por tão pouca aventura...

Agora entendo
Que andei perdido
O que é que eu faço
Prá você me perdoar...

Ah! que bom seria
Se eu pudesse te abraçar
Beijar, sentir
Como a primeira vez
Te dar o carinho
Que você merece ter
E eu sei te amar
Como ninguém mais...

Ninguém mais
Como ninguém
Jamais te amou
Ninguém jamais te amou
Te amou...

Ninguém mais
Como ninguém
Jamais te amou
Ninguém jamais te amou
Como eu, como eu.


(Guilherme Arantes)

Você vai me destruir

Está acabando o amor
Você ainda não veio
Não disse, não ligou
Se vem viver comigo

Se me quer como amiga
Se não quer mais me ver
Você vai me esquecer
Você vai me fazer padecer

Está acabando o amor
Você já não me pertence
Eu vejo por aí
Você não está comigo

Nessa nossa disputa
Nesse seu jeito bom
Eu não quero saber
Você vai desdenhar
E vai sofrer

Você vai me destruir
Como uma faca cortando as etapas
Furando ao redor
Me indignando, me enchendo de tédio
Roubando o meu ar
Me deixa só e depois não consegue
Não me satisfaz

Está acabando o amor
Você já não me pertence
Eu sinto por aí
Você não está comigo

Nessa nossa disputa
Nesse seu jeito bom
Eu não quero saber
Você vai desdenhar
E vai perder

Você vai me destruir
Como uma faca cortando as etapas
Furando ao redor
Me indignando, me enchendo de tédio
Roubando o meu ar
Me deixa só e depois não consegue
Não me satisfaz

Pensando em te matar de amor ou de dor
Eu te espero calada.

 (Vanessa da Mata)

O Tempo

A gente se deu tão bem
Que o tempo sentiu inveja
Ele ficou zangado e decidiu
Que era melhor ser mais veloz e passar rápido pra mim
Parece que até jantei
Com toda a família e sei
Que seu avô gosta de discutir
Que sua avó gosta de ouvir você dizer que vai fazer

O tempo engatinhar
Do jeito que eu sempre quis
Se não for devagar
Que ao menos seja eterno assim

Espero o dia que vem
Pra ver se te vejo
E faço o tempo esperar como esperei
A eternidade se passar nos dois segundos sem você
Agora eu já nem sei
Se hoje foi anteontem
Me perdi lembrando o teu olhar
O meu futuro é esperar pelo presente de fazer

O tempo engatinhar
Do jeito que eu sempre quis
Distante é devagar
Perto passa bem depressa assim

Pra mim, pra mim
Laiá, lalaiá

Se o tempo se abrir talvez
Entenda a razão de ser
De não querer sentar pra discutir
De fazer birra toda vez que peço tempo pra me ouvir
A gente se deu tão bem
Que o tempo sentiu inveja
Ele ficou zangado e decidiu
Que era melhor ser mais veloz e passar rápido pra mim

Eu que nunca discuti o amor
Não vejo como me render
Ah, será que o tempo tem tempo pra amar?
Ou só me quer tão só?
E então se tudo passa em branco eu vou pesar
A cor da minha angústia e no olhar
Saber que o tempo vai ter que esperar.









(Móveis Coloniais de Acaju)

Adeus

Quando eu vivo esse encontro,
Eu digo adeus
Refaço os meus planos
Pra rimar com os seus

Abandono o que é pronto
E digo adeus
Eu trago os meus sonhos
Pra somar aos seus

E toda vez que vier
Felicidade vai trazer
A cada vez que quiser
Basta a gente querer
Ser desta vez a melhor

E toda vez que vier
Felicidade a mais
A cada vez que quiser
Basta a gente dizer
Só uma vez
Uma só voz.

(Móveis Coloniais de Acaju)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Porque eu sei que é amor

Porque eu sei que é amor
Eu não peço nada em troca
Porque eu sei que é amor
Eu não peço nenhuma prova

Mesmo que você não esteja aqui
O amor está aqui
Agora
Mesmo que você tenha que partir
O amor não há de ir
Embora

Eu sei que é pra sempre
Enquanto durar
E eu peço somente
O que eu puder dar

Porque eu sei que é amor
Sei que cada palavra importa
Porque eu sei que é amor
Sei que só há uma resposta

Mesmo sem porquê eu te trago aqui
O amor está aqui
Comigo
Mesmo sem porquê eu te levo assim
O amor está em mim
Mais vivo

Porque eu sei que é amor.


(Sérgio Britto / Paulo Miklos)

Deixa eu sangrar

Deixe a luz acesa
O ar ficou mais puro
Onde houve beleza
Ficou dito tudo...

Flores, frases feitas
O meu mundo é outro lugar
Só uma certeza
Faça este dia acordar
A vida se dar
Reafirmar o que vimos juntos

E te ter aqui

Deixa eu sangrar ao menos
Deixa eu chorar então
Deixa eu sangrar ao menos
Deixa eu perder a ilusão
Deixa eu sangrar ao menos
Deixa eu chorar então
Restam a noite, os ventos
E as coisas como são

O teu melhor vestido
Hoje nada mais vai servir
Fique aqui comigo
Abra os olhos, venha assistir
O mundo girar
Ver passar cada segundo

E te deixar ir.


(Sérgio Britto)

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Sacos Plásticos

Eu quero ser
Um desses sacos plásticos
Que você traz do supermercado
Eu posso ser
Um desses automóveis
Nesse trânsito congestionado

Me deixa ser seu lixo
Seus dejetos, qualquer desses objetos
Sem utilidade
Que você vai levar
Pela eternidade

Vou entrar na sua vida
Você não vai viver sem mim
Vou estar por todo lado
No seu mundo até o fim

Eu quero ser um desses gases tóxicos
Que se prendem na atmosfera
Eu posso ser um desses conservantes
Que contaminam a vida pela terra

Me deixa ser seu erro
Seus tormentos, qualquer desses sentimentos
Que tiram o seu sono
E vão tomar o lugar
Dos seus sonhos

Eu quero ser aquele spray de cabelo
Que você usa de um jeito bizarro
Eu posso ser aquela nicotina
Que envenena o seu cigarro

Me deixa ser seu medo
Seus problemas
Qualquer desses teoremas
Que não tem resposta
E você vai saber
Que não tem mais volta.


(Branco Mello / Paulo Miklos)

Amor por dinheiro

Acima dos homens, a lei
E acima da lei dos homens
A lei de Deus

Acima dos homens, o céu
E acima do céu dos homens
O nome de Deus

E acima da lei de Deus
O dinheiro!

Que mata, salva, compra amor verdadeiro
Que suja, limpa, compra amor por inteiro

Amor verdadeiro
Dinheiro, amor por dinheiro!


(Sérgio Britto / Tony Bellotto)

terça-feira, 9 de junho de 2009

Hoje eu te pedi em casamento

E eu falei,
Contra toda a granada disparada
Pela minha ansiedade
E a fragilidade e a insegurança
Sobre toda a vontade desenhada
Pela minha intensidade
E a ingenuidade de uma criança
Que é você que eu quero
Com você eu quero me casar.

E eu farei,
Contra toda a risada e a maldade
Que minha imbecilidade
Deixou margem pra desconfiança.
Contra todo o mau olhado e a inveja
De quem não se basta, sobra na irrelevância
Pois é você que eu quero
Pra você eu quero me entregar

Assim
Ruivo e do meu tamanho
Assim
Míope e descabelado
Assim
Louco e apaixonado
Extrovertido
Quente
Diferente
Ardente
Tímido
Original.

E eu darei
O conforto e a tranqüilidade
Que uma tarde ensolarada
Na cidade de São Paulo
Vem com importância
O consolo dos meus ombros
Se as lágrimas molharem o seu rosto
Que as sardas
Enfeitaram com elegância
Se é você que eu quero
Pois você consegue me acalmar.


(Nando Reis)

Só pra Sô

Sophia
O seu sorriso é um horizonte
Seus olhos criam um universo
O charme do teu ombro esconde
A surpresa o teu mistério

Sophia
Você é a própria novidade
Que atualiza o que te cerca
O sangue que passeia na avenida
Ida e vinda , veia e artéria

Sofria vendo eu me destruir
Sem conseguir me parar
Sofri vendo você pedir
As coisas que eu não pude dar
Sofreu mais do que deveria
Sofro a cada vez que te faço chorar

Sophia
Meu medo é te ver machucada
Errei por ter te machucado
Seu pai é um homem indomável
Um provável homem doce

Sophia
Me assusta tão igual que somos
Você costura a minha sombra
Eu só queria nessa vida
Aprender saber te amar.


(Nando Reis)

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Conta

Desde o dia que perdi minha mãe
Eu me perdi de mim também
Perdi no mundo o que era o mundo meu
- minha mãe
E eu não sei o que sou sem ela
Só sei que ela me deixou
Por que ela me deixou?
Por que ela me deixou?
Ela me deixou
Por que ela me deixou?

Nesse dia, o dia em que eu perdi minha mãe
Eu me dei conta que eu estava só por minha conta
Mesmo tendo o meu pai, esse que eu amo
A minha conta não fecha
Essa conta nunca mais fechou
Nunca mais fechou
Nunca mais fechou
Essa conta não se fecha
Nunca mais fechou

Estou aqui, estou aqui, fiquei aqui
Você não está, você não está, não está mais
Eu quero te ver, quero te ver, para te ver
É preciso sonhar.

E a partir desse dia, desse dia em diante
Minha alegria se transformou
Minha família aumentou bastante
Sou pai de cinco filhos
Mas um filho-pai apenas, criança sou
Uma criança sou
Uma criança sou.


(Nando Reis)

Drês

Três dias atrás
Tudo era diferente
Três dias pra frente
Nada vai ficar igual
E eu tenho medo

É longe demais
Leva muito tempo
Ficou aqui dentro
Não some nunca mais
Foi muito cedo

Somos vegetais
Da flor a semente
Há pedra na gente
Efervescentes minerais
De ouro e vento

Terrenos mortais
Eternos no presente
Impérios latentes
dos tempos ancestrais
sonho e segredo

Três dias a mais
Todos drês e urgentes
Três dias somente
Poucos mas fundamentais
Eu te desejo


(Nando Reis)

domingo, 7 de junho de 2009

Vestibular

Paulo Roberto Parreiras
desapareceu de casa
trajava calças cinza e camisa branca
e tinha dezesseis anos.
Parecia com teu filho, teu irmão,
teu sobrinho,
parecia com o filho do vizinho,
mas não era.
Era Paulo Roberto Parreiras
que não passou no vestibular.

Recebeu a notícia quinta-feira à tarde,
ficou triste
e sumiu.
De vergonha? De raiva?
Paulo Roberto estudou
dura duramente
durante os últimos meses.
Deixou de lado os discos,
o cinema,
até a namoradinha ficou sem vê-lo.
Nem soube do carnaval.
Se ele fez bem ou mal
não sei:queria passar no vestibular.
Não passou.
Não basta estudar?

Paulo Roberto Parreira
a quem nunca vi mais gordo,
onde quer que você esteja
fique certo
de que estamos do seu lado.
Sei que isso é muito pouco
para quem estudou tanto
e não foi classificado(pois não há mais
excedentes),
mas é o que lhe posso oferecer:minha palavra de amigo desconhecido.
Nessa mesma quinta-feira,
em Nova York, morreu
um menino de treze anos que tomava entorpecentes.
Em São Paulo,outro garoto
foi preso roubando carros.
E há muitos que somem
ou surgem como cometas ardendo em sangue,nestas noites,
nestas tardes,
nesses dias amargos.

Não sei pra onde você foi
nem o que pretende fazer
nem posso dizer que volte para casa.
Estude(mais?) e tente outra vez.
Não tenho nenhum poder,
nada posso assegurar.
Tudo que posso dizer-lhe
é que a gente não foge da vida,
é que não adianta fugir.
Nem adianta endoidar.
Tudo o que posso dizer-lhe
é que você tem o direito de estudar.
É justa sua revolta:
seu outro vestibular.


(Ferreira Gullar)

Nós, Latino-Americanos

Somos todos irmãos
mas não porque tenhamos
a mesma mãe e o mesmo pai:
temos é o mesmo parceiro
que nos trai.

Somos todos irmãos
não porque dividamos
o mesmo teto e a mesma mesa:
divisamos a mesma espada
sobre nossa cabeça.

Somos todos irmãos
não porque tenhamos
o mesmo berço, o mesmo sobrenome:
temos um mesmo trajeto
de sanha e fome.

Somos todos irmãos
não porque seja o mesmo sangue
que no corpo levamos:
o que é o mesmpo é o modo
como o derramamos.


(Ferreira Gullar)

sábado, 6 de junho de 2009

Clic

Cidadão se descuidou e roubaram seu celular. Como era um executivo e não sabia mais viver sem celular, ficou furioso. Deu parte do roubo, depois teve uma idéia. Ligou para o número do telefone. Atendeu uma mulher.

— Aloa.

— Quem fala?

— Com quem quer falar?

— O dono desse telefone.

— Ele não pode atender.

— Quer chamá-lo, por favor?

— Ele esta no banheiro. Eu posso anotar o recado?

— Bate na porta e chama esse vagabundo agora.

Clic. A mulher desligou. O cidadão controlou-se. Ligou de novo.

— Aloa.

— Escute. Desculpe o jeito que eu falei antes. Eu preciso falar com ele, viu? É urgente.

— Ele já vai sair do banheiro.

— Você é a...

— Uma amiga.

— Como é seu nome?

— Quem quer saber?

O cidadão inventou um nome.

— Taborda. (Por que Taborda, meu Deus?) Sou primo dele.

— Primo do Amleto?

Amleto. O safado já tinha um nome.

— É. De Quaraí.

— Eu não sabia que o Amleto tinha um primo de Quaraí.

— Pois é.

— Carol.

— Hein?

— Meu nome. É Carol.

— Ah. Vocês são...

— Não, não. Nos conhecemos há pouco.

— Escute Carol. Eu trouxe uma encomenda para o Amleto. De Quaraí. Uma pessegada, mas não me lembro do endereço.

— Eu também não sei o endereço dele.

— Mas vocês...

— Nós estamos num motel. Este telefone é celular.

— Ah.

— Vem cá. Como você sabia o número do telefone dele? Ele recém-comprou.

— Ele disse que comprou?

— Por que?

O cidadão não se conteve.

— Porque ele não comprou, não. Ele roubou. Está entendendo? Roubou. De mim!

— Não acredito.

— Ah, não acredita? Então pergunta pra ele. Bate na porta do banheiro e pergunta.

— O Amleto não roubaria um telefone do próprio primo.

E Carol desligou de novo.

O cidadão deixou passar um tempo, enquanto se recuperava. Depois ligou.

— Aloa.

— Carol, é o Tobias.

— Quem?

— O Taborda. Por favor, chame o Amleto.

— Ele continua no banheiro.

— Em que motel vocês estão?

— Por que?

— Carol, você parece ser uma boa moça. Eu sei que você gosta do Amleto...

— Recém nos conhecemos.

— Mas você simpatizou. Estou certo? Você não quer acreditar que ele seja um ladrão. Mas ele é, Carol. Enfrente a realidade. O Amleto pode Ter muitas qualidades, sei lá. Há quanto tempo vocês saem juntos?

— Esta é a primeira vez.

— Vocês nunca tinham se visto antes?

— Já, já. Mas, assim, só conversa.

— E você nem sabe o endereço dele, Carol. Na verdade você não sabe nada sobre ele. Não sabia que ele é de Quaraí.

— Pensei que fosse goiano.

— Ai esta, Carol. Isso diz tudo. Um cara que se faz passar por goiano...

— Não, não. Eu é que pensei.

— Carol, ele ainda está no banheiro?

— Está.

— Então sai daí, Carol. Pegue as suas coisas e saia. Esse negocio pode acabar mal. Você pode ser envolvida. — Saia daí enquanto é tempo, Carol!

— Mas...

— Eu sei. Você não precisa dizer. Eu sei. Você não quer acabar a amizade. Vocês se dão bem, ele é muito legal. Mas ele é um ladrão, Carol. Um bandido. Quem rouba celular é capaz de tudo. Sua vida corre perigo.

— Ele esta saindo do banheiro.

— Corra, Carol! Leve o telefone e corra! Daqui a pouco eu ligo para saber onde você está.

Clic.

Dez minutos depois, o cidadão liga de novo.

— Aloa.

— Carol, onde você está?

— O Amleto está aqui do meu lado e pediu para lhe dizer uma coisa.

— Carol, eu...

— Nós conversamos e ele quer pedir desculpas a você. Diz que vai devolver o telefone, que foi só brincadeira. Jurou que não vai fazer mais isso.

O cidadão engoliu a raiva. Depois de alguns segundos falou:

— Como ele vai devolver o telefone?

— Domingo, no almoço da tia Eloá. Diz que encontra você lá.

— Carol, não...

Mas Carol já tinha desligado.

O cidadão precisou de mais cinco minutos para se recompor. Depois ligou outra vez.

—Aloa.

Pelo ruído o cidadão deduziu que ela estava dentro de um carro em movimento.

— Carol, é o Torquatro.

— Quem?

— Não interessa! Escute aqui. Você está sendo cúmplice de um crime. Esse telefone que você tem na mão, esta me entendendo? Esse telefone que agora tem suas impressões digitais. É meu! Esse salafrário roubou meu celular!

— Mas ele disse que vai devolver na...

— Não existe Tia Eloá nenhuma! Eu não sou primo dele. Nem conheço esse cafajeste. Ele esta mentindo para você, Carol.

— Então você também mentiu!

— Carol...

Clic.

Cinco minutos depois, quando o cidadão se ergueu do chão, onde estivera mordendo o carpete, e ligou de novo, ouviu um "Alô" de homem.

— Amleto?

— Primo! Muito bem. Você conseguiu, viu? A Carol acaba de descer do carro.

— Olha aqui, seu...

— Você já tinha liquidado com o nosso programa no motel, o maior clima e você estragou, e agora acabou com tudo. Ela está desiludida com todos os homens, para sempre. Mandou parar o carro e desceu. Em plena Cavalhada. Parabéns primo. Você venceu. Quer saber como ela era?

— Só quero meu telefone.

— Morena clara. Olhos verdes. Não resistiu ao meu celular. Se não fosse o celular, ela não teria topado o programa. E se não fosse o celular, nós ainda estaríamos no motel. Como é que chama isso mesmo? Ironia do destino?

— Quero meu celular de volta!

— Certo, certo. Seu celular. Você tem que fechar negócios, impressionar clientes, enganar trouxas. Só o que eu queria era a Carol...

— Ladrão

— Executivo

— Devolve meu...

Clic.

Cinco minutos mais tarde. Cidadão liga de novo. Telefone toca várias vezes. Atende uma voz diferente.

— Ahn?

— Quem fala?

— É o Trola.

— Como você conseguiu esse telefone?

— Sei lá. Alguém jogou pela janela de um carro. Quase me acertou.

— Onde você está?

— Como eu estou? Bem, bem. Catando meus papéis, sabe como é. Mas eu já fui de circo. É. Capitão Trovar. Andei até pelo Paraguai.

— Não quero saber de sua vida. Estou pagando uma recompensa por este telefone. Me diga onde você está que eu vou buscar.

— Bem. Fora a Dalvinha, tudo bem. Sabe como é mulher. Quando nos vê por baixo, aproveita. Ontem mesmo...

— Onde você está? Eu quero saber onde!

— Aqui mesmo, embaixo do viaduto. De noitinha. Ela chegou com o índio e o Marvão, os três com a cara cheia, e...


(Luis Fernando Verissimo)

Homem que é homem

Homem que é Homem não usa camiseta sem manga, a não ser para jogar basquete. Homem que é Homem não gosta de canapés, de cebolinhas em conserva ou de qualquer outra coisa que leve menos de 30 segundos para mastigar e engolir. Homem que é Homem não come suflê. Homem que é Homem — de agora em diante chamado HQEH — não deixa sua mulher mostrar a bunda para ninguém, nem em baile de carnaval. HQEH não mostra a sua bunda para ninguém. Só no vestiário, para outros homens, e assim mesmo, se olhar por mais de 30 segundos, dá briga.

HQEH só vai ao cinema ver filme do Franco Zeffirelli quando a mulher insiste muito, e passa todo o tempo tentando ver as horas no escuro. HQEH não gosta de musical, filme com a Jill Clayburgh ou do Ingmar Bergman. Prefere filmes com o Lee Marvin e Charles Bronson. Diz que ator mesmo era o Spencer Tracy, e que dos novos, tirando o Clint Eastwood, é tudo veado.

HQEH não vai mais a teatro porque também não gosta que mostrem a bunda à sua mulher. Se você quer um HQEH no momento mais baixo de sua vida, precisa vê-lo no balé. Na saída ele diz que até o porteiro é veado e que se enxergar mais alguém de malha justa, mata.

E o HQEH tem razão. Confesse, você está com ele. Você não quer que pensem que você é um primitivo, um retrógrado e um machista, mas lá no fundo você torce pelo HQEH. Claro, não concorda com tudo o que ele diz. Quando ele conta tudo o que vai fazer com a Feiticeira no dia em que a pegar, você sacode a cabeça e reflete sobre o componente de misoginia patológica inerente à jactância sexual do homem latino. Depois começa a pensar no que faria com a Feiticeira se a pegasse. Existe um HQEH dentro de cada brasileiro, sepultado sob camadas de civilização, de falsa sofisticação, de propaganda feminina e de acomodação. Sim, de acomodação. Quantas vezes, atirado na frente de um aparelho de TV vendo a novela das 8 — uma história invariavelmente de humilhação, renúncia e superação femininas — você não se perguntou o que estava fazendo que não dava um salto, vencia a resistência da família a pontapés e procurava uma reprise do Manix em outro canal? HQEH só vê futebol na TV. Bebendo cerveja. E nada de cebolinhas em conserva! HQEH arrota e não pede desculpas.

*

Se você não sabe se tem um HQEH dentro de você, faça este teste. Leia esta série de situações. Estude-as, pense, e depois decida como você reagiria em cada situação. A resposta dirá o seu coeficiente de HQEH. Se pensar muito, nem precisa responder: você não é HQEH. HQEH não pensa muito!


Situação 1


Você está num restaurante com nome francês. O cardápio é todo escrito em francês. Só o preço está em reais. Muitos reais. Você pergunta o que significa o nome de um determinado prato ao maître. Você tem certeza que o maître está se esforçando para não rir da sua pronúncia. O maître levará mais tempo para descrever o prato do que você para comê-lo, pois o que vem é uma pasta vagamente marinha em cima de uma torrada do tamanho aproximado de uma moeda de um real, embora custe mais de cem. Você come de um golpe só, pensando no que os operários são obrigados a comer. Com inveja. Sua acompanhante pergunta qual é o gosto e você responde que não deu tempo para saber. 0 prato principal vem trocado. Você tem certeza que pediu um "Boeuf à quelque chose" e o que vem é uma fatia de pato sem qualquer acompanhamento. Só. Bem que você tinha notado o nome: "Canard melancolique". Você a princípio sente pena do pato, pela sua solidão, mas muda de idéia quando tenta cortá-lo. Ele é um duro, pode agüentar. Quando vem a conta, você nota que cobraram pelo pato e pelo "boeuf' que não veio. Você: a) paga assim mesmo para não dar à sua acompanhante a impressão de que se preocupa com coisas vulgares como o dinheiro, ainda mais o brasileiro; b) chama discretamente o maître e indica o erro, sorrindo para dar a entender que, "Merde, alors", estas coisas acontecem; ou c) vira a mesa, quebra uma garrafa de vinho contra a parede e, segurando o gargalo, grita: "Eu quero o gerente e é melhor ele vir sozinho!


Situação 2


Você foi convencido pela sua mulher, namorada ou amiga — se bem que HQEH não tem "amigas", quem tem "amigas" é veado — a entrar para um curso de Sensitivação Oriental. Você reluta em vestir a malha preta, mas acaba sucumbindo. O curso é dado por um japonês, provavelmente veado. Todos sentam num círculo em volta do japonês, na posição de lótus. Menos você, que, como está um pouco fora de forma, só pode sentar na posição do arbusto despencado pelo vento.

Durante 15 minutos todos devem fechar os olhos, juntar as pontas dos dedos e fazer "rom", até que se integrem na Grande Corrente Universal que vem do Tibete, passa pelas cidades sagradas da Índia e do Oriente Médio e, estranhamente, bem em cima do prédio do japonês, antes de voltar para o Oriente. Uma vez atingido este estágio, todos devem virar para a pessoa ao seu lado e estudar seu rosto com as pontas dos dedos. Não se surpreendendo se o japonês chegar por trás e puxar as suas orelhas com força para lembrá-lo da dualidade de todas as coisas. Durante o "rom" você faz força, mas não consegue se integrar na grande corrente universal, embora comece a sentir uma sensação diferente que depois revela-se ser câimbra. Você: a) finge que atingiu a integração para não cortar a onda de ninguém; b) finge que não entendeu bem as instruções, engatinha fazendo "rom" até o lado daquela grande loura e, na hora de tocar o seu rosto, erra o alvo e agarra os seios, recusando-se a soltá-los mesmo que o japonês quase arranque as suas orelhas; c) diz que não sentiu nada, que não vai seguir adiante com aquela bobagem, ainda mais de malha preta, e que é tudo coisa de veado.


Situação 3


Você está numa daquelas reuniões em que há lugares de sobra para sentar, mas todo mundo senta no chão. Você não quis ser diferente, se atirou num almofadão colorido e tarde demais descobriu que era a dona da casa. Sua mulher ou namorada está tendo uma conversa confidencial, de mãos dadas, com uma moça que é a cara do Charlton Heston, só que de bigode. O jantar é à americana e você não tem mais um joelho para colocar o seu copo de vinho enquanto usa os outros dois para equilibrar o prato e cortar o pedaço de pato, provavelmente o mesmo do restaurante francês, só que algumas semanas mais velho. Aí o cabeleireiro de cabelo mechado ao seu lado oferece:

— Se quiser usar o meu...

— O seu...?

— Joelho.

— Ah...

— Ele está desocupado.

— Mas eu não o conheço.

— Eu apresento. Este é o meu joelho.

— Não. Eu digo, você...

— Eu, hein? Quanta formalidade. Aposto que se eu estivesse oferecendo a perna toda você ia pedir referências. Ti-au.

Você: a) resolve entrar no espírito da festa e começa a tirar as calças; b) leva seu copo de vinho para um canto e fica, entre divertido e irônico, observando aquele curioso painel humano e organizando um pensamento sobre estas sociedades tropicais, que passam da barbárie para a decadência sem a etapa intermediária da civilização; ou c) pega sua mulher ou namorada e dá o fora, não sem antes derrubar o Charlton Heston com um soco.

Se você escolheu a resposta a para todas as situações, não é um HQEH. Se você escolheu a resposta b, não é um HQEH. E se você escolheu a resposta c, também não é um HQEH. Um HQEH não responde a testes. Um HQEH acha que teste é coisa de veado.

*

Este país foi feito por Homens que eram Homens. Os desbravadores do nosso interior bravio não tinham nem jeans, quanto mais do Pierre Cardin. O que seria deste pais se Dom Pedro I tivesse se atrasado no dia 7 em algum cabeleireiro, fazendo massagem facial e cortando o cabelo à navalha? E se tivesse gritado, em vez de "Independência ou Morte", "Independência ou Alternativa Viável, Levando em Consideração Todas as Variáveis!"? Você pode imaginar o Rui Barbosa de sunga de crochê? O José do Patrocínio de colant? 0 Tiradentes de kaftan e brinco numa orelha só? Homens que eram Homens eram os bandeirantes. Como se sabe, antes de partir numa expedição, os bandeirantes subiam num morro em São Paulo e abriam a braguilha. Esperavam até ter uma ereção e depois seguiam na direção que o pau apontasse. Profissão para um HQEH é motorista de caminhão. Daqueles que, depois de comer um mocotó com duas Malzibier, dormem na estrada e, se sentem falta de mulher, ligam o motor e trepam com o radiador. No futebol HQEH é beque central, cabeça-de-área ou centroavante. Meio-de-campo é coisa de veado. Mulher do amigo de Homem que é Homem é homem. HQEH não tem amizade colorida, que é a sacanagem por outros meios. HQEH não tem um relacionamento adulto, de confiança mútua, cada um respeitando a liberdade do outro, numa transa, assim, extraconjugal mas assumida, entende? Que isso é papo de mulher pra dar pra todo mundo. HQEH acha que movimento gay é coisa de veado.

HQEH nunca vai a vernissage.

HQEH não está lendo a Marguerite Yourcenar, não leu a Marguerite Yourcenar e não vai ler a Marguerite Yourcenar.

HQEH diz que não tem preconceito mas que se um dia estivesse numa mesma sala com todas as cantoras da MPB, não desencostaria da parede.

Coisas que você jamais encontrará em um HQEH: batom neutro para lábios ressequidos, pastilhas para refrescar o hálito, o telefone do Gabeira, entradas para um espetáculo de mímica.

Coisas que você jamais deve dizer a um HQEH: "Ton sur ton", "Vamos ao balé?", "Prove estas cebolinhas".

Coisas que você jamais vai ouvir um HQEH dizer: "Assumir", "Amei", "Minha porção mulher", "Acho que o bordeau fica melhor no sofá e a ráfia em cima do puf".

Não convide para a mesma mesa: um HQEH e o Silvinho.

HQEH acha que ainda há tempo de salvar o Brasil e já conseguiu a adesão de todos os Homens que são Homens que restam no país para uma campanha de regeneração do macho brasileiro.

Os quatro só não têm se reunido muito seguidamente porque pode parecer coisa de veado.


(Luis Fernando Verissimo)

sexta-feira, 5 de junho de 2009

O Verão e as Mulheres

Talvez tenha acabado o verão. Há um grande vento frio cavalgando as ondas, mas o céu está limpo e o sol é muito claro. Duas aves dançam sobre as espumas assanhadas. As cigarras não cantam mais. Talvez tenha acabado o verão.

Estamos tranqüilos. Fizemos este verão com paciência e firmeza, como os veteranos fazem a guerra. Estivemos atentos à lua e ao mar; suamos nosso corpo; contemplamos as evoluções de nossas mulheres, pois sabemos o quanto é perigoso para elas o verão.

Sim, as mulheres estão sujeitas a uma grande influência do verão; no bojo do mês de janeiro elas sentem o coração lânguido, e se espreguiçam de um modo especial; seus olhos brilham devagar, elas começam a dizer uma coisa e param no meio, ficam olhando as folhas das amendoeiras como se tivessem acabado de descobrir um estranho passarinho. Seus cabelos tornam-se mais claros e às vezes os olhos também; algumas crescem imperceptivelmente meio centímetro. Estremecem quando de súbito defrontam um gato; são assaltadas por uma remota vontade de miar; e certamente, quando a tarde cai, ronronam para si mesmas.

Entregam-se a redes; é sabido, ao longo de toda a faixa tropical do globo, que as mulheres não habituadas a rede e que nelas se deitam ao crepúsculo, no estio, são perseguidas por fantasias e algumas imaginam que podem voar de uma nuvem a outra nuvem com facilidade. Sendo embaladas, elas se comprazem nesse jogo passivo e às vezes tendem a se deixar raptar, por deleite ou preguiça.

Observei uma dessas pessoas na véspera do solstício, em 20 de dezembro, quando o sol ia atingindo o primeiro ponto do Capricórnio, e a acompanhei até as imediações do Carnaval. Sentia-se que ia acontecer algo, no segundo dia da lua cheia de fevereiro; sua boca estava entreaberta: fiz um sinal aos interessados, e ela pôde ser salva.

Se realmente já chegou o outono, embora não o dia 22, me avisem. Sucederam muitas coisas; é tempo de buscar um pouco de recolhimento e pensar em fazer um poema.

Vamos atenuar os acontecimentos, e encarar com mais doçura e confiança as nossas mulheres. As que sobreviveram a este verão.


(Rubem Braga)

O Jivaro

Um Sr. Matter, que fez uma viagem de exploração à América do Sul, conta a um jornal sua
conversa com um índio jivaro, desses que sabem reduzir a cabeça de um morto até ela ficar
bem pequenina. Queria assistir a uma dessas operações, e o índio lhe disse que exatamente
ele tinha contas a acertar com um inimigo.
O Sr. Matter:
- Não, não! Um homem, não. Faça isso com a cabeça de um macaco.
E o índio:
- Por que um macaco? Ele não me fez nenhum mal!


(Rubem Braga)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Um Herói Que Mata

Pra ela eu sou perfeito
Eu sou algum pirata
Pra roubar teu sono
Um herói que mata

Eu sei que ela deseja
Que eu seja essa ameaça
A dose de coragem
A emoção que falta

E eu tenho tanto medo
Será que é tarde ou cedo
E eu me sinto dividido
Entre princípios e desejos

E ela tem tanto medo
E eu não sou nem metade
Da metade da metade
Do que eu quis ser de verdade

Gastei tempo em nada
Da forma errada
Mas deixei o melhor pro fim
Nem pirata
Nem, herói que mata
Pra você o melhor de mim

Enquanto eu brinco de pirata
De brinco e tatuagem
Eu quase viro escravo
Dessa personagem

Se ela encosta no meu peito
A cabeça no meu ombro
Sou eu que perco o sono
Pra ela eu sou perfeito

E a gente é tão pequeno
E acha que move o mundo
E se perde em vaidade
E se acha sempre tão profundo

Acho que todo medo
É de não ter segredo
Mas o segredo é não ter medo
De morrer por seus desejos.


(Leoni)

Do Teu Lado

Te escrevo essa canção
Pra te fazer companhia
Pra segurar tua mão
Não te deixar sozinha
Canção feita de pele
Pra usar por baixo da roupa
Canção pra te deixar um gosto doce na boca

Te escrevo essa canção
Porque nem sempre ando perto
E essa canção me ajuda a atravessar um deserto
Canção de fim de tarde
Pra se encontrar nos seus poros
Pra acordar com você
Te olhar no fundo dos olhos

Canção pra andar do teu lado
Em toda e qualquer cidade
Pra te cobrir de sorrisos
Quando eu chorar de saudade

Te escrevo essa canção
Pra te fazer companhia
Pra segurar tua mão
Não te deixar sozinha
Canção feita de pele
Pra usar por baixo da roupa
Canção pra te deixar um gosto doce na boca.


(Leoni)

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Se Não Agora, Quando?

Serei feliz quando juntar dinheiro
Der a volta ao mundo e mudar de emprego
Serei feliz quando estiver mais magro
E couber em qualquer roupa que estiver na moda
Serei feliz quando estiver respostas
Quando for famoso e me sentir seguro
Serei feliz quando ela for embora
Quando o meu país me parecer mais justo

Serei feliz quando a dor passar
Serei feliz em outro lugar
Serei feliz quando você ligar
A sorte é que tem sempre alguém pra me lembrar

Que agora é o futuro
Que eu andava esperando
Agora é o futuro
Se não agora, quando?

Serei feliz quando eu tiver dezoito
Sair de casa e comprar um carro
Serei feliz quando aos trinta e poucos
Comprar a minha casa e a vida for mais clara
Serei feliz quando um verso meu
Te fizer chorar e perder a fala
Serei feliz quando eu abrir a porta
E encontrar os meus problemas arrumando a mala

Serei feliz quando o sol nascer
Serei feliz quando Deus quiser
Serei feliz quando merecer
Mas escrevo pelos muros pra não me esquecer

Que agora é o futuro
Que eu andava esperando
Agora é o futuro
Se não agora, quando?


(George Israel / Leoni / Luciana Fregolente)

Os Amadores

Não era esse o meu plano
Mas o que aconteceu?
Eu sei que tinha um sentido
Alguma coisa mais clara
que escureceu
Ou que ficou no caminho


A minha coleção de sonhos perdidos
É quase nada, mas é tudo que eu carrego


Talvez um breve delírio
Que desapareceu
Só um retrato vazio
O meu futuro brilhante
Talvez não fosse meu
E agora eu ando perdido


Não sou só eu, ninguém entende direito
Porque é que tudo foi ficar desse jeito


Não há onde chegar
Nem um roteiro preciso
Nós somos amadores
Tudo aqui é improviso
Não sei se alguém mais sente
Isso que eu tenho sentido
A vida não parece ser o que ela poderia ter sido


Provavelmente fui eu
Que não compreendi
Ou alguém esqueceu de avisar
Que era melhor aceitar
Que a vida é o que é
Que a gente espera demais


Mas tem um peso que eu carrego no peito
Eu sinto falta do que eu nem sei direito.


(Leoni / Luciana Fregolente)

terça-feira, 2 de junho de 2009

A Viajante

Com franqueza, não me animo a dizer que você não vá.

Eu, que sempre andei no rumo de minhas venetas, e tantas vezes troquei o sossego de uma casa pelo assanhamento triste dos ventos da vagabundagem, eu não direi que fique.

Em minhas andanças, eu quase nunca soube se estava fugindo de alguma coisa ou caçando outra. Você talvez esteja fugindo de si mesma, e a si mesma caçando; nesta brincadeira boba passamos todos, os inquietos, a maior parte da vida — e às vezes reparamos que é ela que se vai, está sempre indo, e nós (às vezes) estamos apenas quietos, vazios, parados, ficando. Assim estou eu. E não é sem melancolia que me preparo para ver você sumir na curva do rio — você que não chegou a entrar na minha vida, que não pisou na minha barranca, mas, por um instante, deu um movimento mais alegre à corrente, mais brilho às espumas e mais doçura ao murmúrio das águas. Foi um belo momento, que resultou triste, mas passou.

Apenas quero que dentro de si mesma haja, na hora de partir, uma determinação austera e suave de não esperar muito; de não pedir à viagem alegrias muito maiores que a de alguns momentos. Como este, sempre maravilhoso, em que no bojo da noite, na poltrona de um avião ou de um trem, ou no convés de um navio, a gente sente que não está deixando apenas uma cidade, mas uma parte da vida, uma pequena multidão de caras e problemas e inquietações que pareciam eternos e fatais e, de repente, somem como a nuvem que fica para trás. Esse instante de libertação é a grande recompensa do vagabundo; só mais tarde ele sente que uma pessoa é feita de muitas almas, e que várias, dele, ficaram penando na cidade abandonada. E há também instantes bons, em terra estrangeira, melhores que o das excitações e descobertas, e as súbitas visões de belezas sonhadas. São aqueles momentos mansos em que, de uma janela ou da mesa de um bar, ele vê, de repente, a cidade estranha, no palor do crepúsculo, respirar suavemente como velha amiga, e reconhece que aquele perfil de casas e chaminés já é um pouco, e docemente, coisa sua.

Mas há também, e não vale a pena esconder nem esquecer isso, aqueles momentos de solidão e de morno desespero; aquela surda saudade que não é de terra nem de gente, e é de tudo, é de um ar em que se fica mais distraído, é de um cheiro antigo de chuva na terra da infância, é de qualquer coisa esquecida e humilde - torresmo, moleque passando na bicicleta assobiando samba, goiabeira, conversa mole, peteca, qualquer bobagem. Mas então as bobagens do estrangeiro não rimam com a gente, as ruas são hostis e as casas se fecham com egoísmo, e a alegria dos outros que passam rindo e falando alto em sua língua dói no exilado como bofetadas injustas. Há o momento em que você defronta o telefone na mesa da cabeceira e não tem com quem falar, e olha a imensa lista de nomes desconhecidos com um tédio cruel.

Boa viagem, e passe bem. Minha ternura vagabunda e inútil, que se distribui por tanto lado, acompanha, pode estar certa, você.


(Rubem Braga)

O Desaparecido

Tarde fria, e então eu me sinto um daqueles velhos poetas de antigamente que sentiam frio na alma quando a tarde estava fria, e então eu sinto uma saudade muito grande, uma saudade de noivo, e penso em ti devagar, bem devagar, com um bem-querer tão certo e limpo, tão fundo e bom que parece que estou te embalando dentro de mim.

Ah, que vontade de escrever bobagens bem meigas, bobagens para todo mundo me achar ridículo e talvez alguém pensar que na verdade estou aproveitando uma crônica muito antiga num dia sem assunto, uma crônica de rapaz; e, entretanto, eu hoje não me sinto rapaz, apenas um menino, com o amor teimoso de um menino, o amor burro e comprido de um menino lírico. Olho-me no espelho e percebo que estou envelhecendo rápida e definitivamente; com esses cabelos brancos parece que não vou morrer, apenas minha imagem vai-se apagando, vou ficando menos nítido, estou parecendo um desses clichês sempre feitos com fotografias antigas que os jornais publicam de um desaparecido que a família procura em vão.

Sim, eu sou um desaparecido cuja esmaecida, inútil foto se publica num canto de uma página interior de jornal, eu sou o irreconhecível, irrecuperável desaparecido que não aparecerá mais nunca, mas só tu sabes que em alguma distante esquina de uma não lembrada cidade estará de pé um homem perplexo, pensando em ti, pensando teimosamente, docemente em ti, meu amor.


(Rubem Braga)

segunda-feira, 1 de junho de 2009

A Bailarina e O Soldado De Chumbo

De repente toda mágica se acabou
E na nossa casinha apertada
Tá faltando graça e tá sobrando espaço
Tô sobrando num sobrado sem ventilador

Vai dizer que nossas preces não alcançaram o céu?
Coração, que ainda vem me perguntar o que aconteceu
Conta se seu rosto por acaso ainda tem o gosto meu

Com duas conchas nas mãos,
Vem vestida de ouro e poeira
Falando de um jeito maneira
Da lua, da estrela e de um certo mal
Que agora acompanha teu dia
E pra minha poesia é o ponto final
É o ponto em que recomeço,
Recanto e despeço da magia que balança o mundo

Bailarina, soldado de chumbo
Bailarina, soldado de chumbo
Beijo e dor...
Bailarina, soldado de chumbo

Nossa casinha pequena
Parece vazia sem o teu balé
Sem teu café requentado
Soldado de chumbo não fica de pé.


(Fernando Anitelli)

Cuida de Mim

Pra falar verdade, às vezes minto
Tentando ser metade do inteiro que eu sinto
Pra dizer, as vezes que às vezes não digo
Sou capaz de fazer da minha briga, meu abrigo
Tanto faz, não satisfaz o que preciso
Além do mais, quem busca nunca é indeciso
Eu busquei quem sou;
Você, pra mim, mostrou
Que eu não sou sozinho nesse mundo.

Cuida de mim, enquanto não esqueço de você
Cuida de mim, enquanto finjo que sou quem eu queria ser.
Cuida de mim, enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim, enquanto finjo, enquanto finjo, enquanto fujo.

Basta as penas que eu mesmo sinto de mim
Junto todas, crio asas, viro querubim
Sou da cor, do tom, sabor e som que quiser ouvir
Sou calor, clarão e escuridão que te faz dormir
Quero mais, quero a paz que me prometeu
Volto atrás, se voltar atrás, assim como eu.

Busquei quem sou
Você, pra mim, mostrou
Que eu não sou sozinho nesse mundo.


(Fernando Anitelli)

domingo, 31 de maio de 2009

Eu Não Tenho Nada A Ver Com Isso

Eu não tenho nada a ver com isso
Nem sequer nasci em Niterói
Não me chamo João
E não tenho, não
Qualquer vocação pra ser herói
Venho de três raças muito tristes
E eis por que o viver tanto me dói

Deito em minha rede
Mato a minha sede
Quanta mulher nua na Playboy!
Porém daqui a uns anos mais
Vão ser cem milhões
Cem milhões só de Pelés
E de violões
Que país mais tão feliz!

Deixa o Brasil andar
As estatísticas revelam:
No ano dois mil
Todo mundo vai ser jovem
No meu Brasil

Reparou como é que eu
Ando sutil demais?


(Vinicius de Moraes / Toquinho)

Samba da Volta

Você voltou, meu amor
Alegria que me deu
Quando a porta abriu você me olhou
Você sorriu, ah, você se derreteu
E se atirou, me envolveu, nem brincou
Conferiu o que era seu
É verdade eu reconheço
Eu tantas fiz, mas agora tanto faz
O perdão pediu seu preço, meu amor
Eu te Amo e Deus é mais.


(Vinicius de Moraes / Toquinho)

sábado, 30 de maio de 2009

Uma rosa em minha mão

Procurei um lugar
Com meu céu e meu mar
Não achei
Procurei o meu par
Só desgosto e pensar, encontrei

Onde anda o meu rei
Que me deixa tão só por aí
A quem tanto busquei
E de tanto que andei me perdi
Quem me dera encontrar
Ter meu céu, ter meu mar
Ter meu chão
Ver meu campo florir
E uma rosa se abrir na minha mão.


(Vinicius de Moraes / Toquinho)

Estamos aí

Estamos aí
Gente amiga que muito se quer
Estamos aí
Pro que der e vier
Estamos aí
Pro amor e pra desilusão
Mas como é bom cantar
Musiplicar
A magia de cada canção

Música
Como é bom cantar
Música
Deixa pensar que pra amar é preciso fingir
Deixa dizer que é preciso mentir
Deixa falar que a poesia não pode existir

Deixa pra lá
Estamos aí.


(Vinicius de Moraes / Tom Jobim / Chico Buarque / Toquinho)

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Grande Hotel

Vens ao meu quarto de hotel
Sem te anunciares sequer
Com certeza esqueceste que és
Que és uma senhora
Vejo-te andar de tailleur
Atravessando a novela
Sentes prazer em falar
De sentimentos de outrora


Deito-me no canapé
Não sem antes abrir a janela
E ver tuas palavras ao léu
Jogas conversa fora
Sabes que estive a teus pés
Sei que serás sempre aquela
Pretendes me complicar
Mas passou a nossa hora


Não me incomodo que fumes
Podes mesmo te servir à vontade do meu frigobar
Ou levar um souvenir
Dispõe do meu telefone
Desejando, liga o interurbano pra qualquer lugar
E apaga a luz ao sair


Quando eu pensava em dormir
Tu chegas vestida de negro
Vens decidida a bulir
Com quem está posto em sossego
Entras com ares de atriz
Sabes que sou da platéia
Deves pensar que ando louco
Louco pra mudar de idéia, não?
Pensas que não sou feliz
Entras com roupa de estréia
Deves saber que ando louco
Louco pra mudar de idéia.


(Chico Buarque / Wilson das Neves)

Você Não Ouviu

Você não ouviu
O samba que eu lhe trouxe
Ai, eu lhe trouxe rosas
Ai, eu lhe trouxe um doce
As rosas vão murchando
E o que era doce acabou-se

Você me desconserta
Pensa que está certa
Porém não se iluda
No fim do mês, quando o dinheiro aperta
Você corre esperta
E vem pedir ajuda
Eu lhe procuro, mas você se esconde
Não me diz aonde
Nem quer ver seu filho
No fim do mês é que você responde
E no primeiro bonde
Vem pedir auxílio

Você diz que minha rosa é frágil
Que o meu samba é plágio
E é só lugar comum
No fim do mês sei que você vem ágil
Passa um curto estágio
E eu fico sem nenhum
A sua dança vai durar enquanto
Você tem encanto
E não tem solidão
No fim da festa há de escutar meu canto
E vir correndo em pranto
Me pedir perdão (ou não?).


(Chico Buarque)

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Assim Sem Fim

Não finja um beijo que
Já não é mais seu
Nem diga que esse chão
Da casa, não é mais meu

Se tem algo a dizer
Que devolva em goles sãos
Qual é o tempo dessa solidão?
Aonde é o centro desse furacão?

Vestida de brisa assim
Sob meus olhos de Zeus
Que te acompanham então
Na casa, que adormeceu

Nem tem tanto a dizer
Mas trago ouvidos e pão
Na velocidade de amores vãos
Aonde termina nossa solidão

Se prepare para o que for
No raso do coração
O que ainda é meu
Não me devolva não

Sorte assim sem fim
Porque ninguém percebeu
As marcas de dentes
Aonde você mordeu
Me tem tanto a dizer
Que o tempo eu conto assim
Pra gente comer sentados no chão
Aonde termina esse furacão.


(Samuel Rosa / César Maurício)

Noites de Um Verão Qualquer

Noites de um verão qualquer
Eu me sufoco nesse ar
O corpo venta em preto
O chão devora o espaço ocular

Noites de um verão qualquer
Deixa que ela entenda o traço
Que invente a fuga por nós dois
Que sou seus pés, eu sou também seus braços

Noites de um verão qualquer
Dentro da febre desse abraço
Satélite voltou do céu
Eu sou o resto, sou também o aço

Noites de um verão qualquer
Sob sua pele encontrei abrigo
Pra gente se devorar
Na órbita do seu umbigo

Seguem infinitos metros
Pra perto desse abraço
Eu tento respirar
Desdar o nó que aperta esse laço.


(Samuel Rosa / César Maurício)

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Canção Áspera

Não espere nada
Seja o que for
Estou só de passagem
Breve é o amor

Não espere o dia
Deixe como está
Sigo essa miragem
Não sei a razão

Não espere nada
Deixa assim então
Sei que o mundo é oco
Menos que a paixão

Não sou nada disso
São desejos seus
Não será difícil
Breve é o adeus

Vim com minhas noites
Vou sem seu perdão
Sigo essa miragem
Não espere não

It's a lonely way
It's a rugged song
I woke up today
I knew it would be long

Estou em paz com minha guerra
E o tempo que passou veloz e devagar
Estou em paz na tempestade
E nada aqui parece ser o seu lugar.


(Samuel Rosa / Chico Amaral)

Pára-Raio

Passa o tempo, lento ensaio
Espero você aqui
Paro dentro, entro e saio
Falta você aqui

Calo invento, quieto falo
Trago você aqui
Lato intenso em detalhes
Quero você aqui

Abro e vejo da janela
Fogos de artifício
Estrelas em mosaico
Vidro opaco a luzir

Vasto imenso, feito em partes
Fácil para construir
Rasgo ao meio em metades
Acho você dentro de mim

Seu brinquedo imaginário
Feito pra te distrair
Paro dentro, entro e saio
Falta você aqui

Noite inteira, fim de tarde
Meu calendário marca o infinito
Em trincheiras que escavo
Acho você dentro de mim

Assim como o sal feito no mar
Azul como o céu e a imensidão
Que enche o pulmão de pleno ar
Achei seu lugar meu.


(Samuel Rosa / Nando Reis)

terça-feira, 26 de maio de 2009

Curtas do Millôr II

"O maior erro de Noé foi não ter matado as duas baratas que entraram na arca".

"Um homem é adulto no dia em que começa a gastar mais do que ganha".

"Roma não se fez num dia, mas o Rio foi destruído em dez anos".

"Não há pessoa mais chata do que você mesmo. Fuja da solidão".

"Eu posso não ser um bom exemplo. Mas sou um bom aviso".


(Millôr Fernandes)

Curtas do Millôr I

"Morrer, por exemplo, é uma coisa que se deve deixar sempre pra depois".

"Quando duas pessoas odeiam a mesma pessoa, têm a impressão de que se estimam".

"Idiota mesmo é o sujeito que, ouvindo uma história de duplo sentido, não entende nenhum dos dois".

"Já vi gente cansada de amor, de trabalho, de política, de ideais. Jamais conheci alguém sinceramente cansado de dinheiro".

"Grandes advogados conhecem muita jurisprudência. Advogados geniais conhecem muitos juízes".


(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Algo por Você

Hey, garota, não fique esperando o telefone tocar
Os homens são o que são e são todos iguais
O difícil é saber quem é clone de quem

Hey, garota, não fique esperando o telefone tocar
De volta ao passado, tecendo tapetes,
Esperando o guerreiro voltar

Já lhe fizeram sofrer demais
Já lhe fizeram feliz demais
Tá na hora de você mesma fazer
Algo por você
Só você pode fazer

Hey, garota, o dia já passou, não deixe a noite passar
Passe um batom, ou não, e vá se divertir
Você vai descobrir quem é clone de quem

Hey, garota, faça um favor: não fique esperando
Faça algo por você
Hey, garota, faça um favor: não fique esperando
Faça algo por você

E só você pode fazer.


(Humberto Gessinger)

Infinita Highway

Você me faz correr demais
Os riscos desta highway
Você me faz correr atrás
Do horizonte desta highway
Ninguém por perto, silêncio no deserto
Deserta highway
Estamos sós e nenhum de nós
Sabe exatamente onde vai parar

Mas não precisamos saber pra onde vamos
Nós só precisamos ir
Não queremos ter o que não temos
Nós só queremos viver
Sem motivos, nem objetivos
Estamos vivos e isto é tudo
É sobretudo a lei
Da infinita highway

Quando eu vivia e morria na cidade
Eu não tinha nada, nada a temer
Mas eu tinha medo, medo dessa estrada
Olhe só, veja você
Quando eu vivia e morria na cidade
Eu tinha de tudo, tudo ao meu redor
Mas tudo que eu sentia era que algo me faltava
E à noite eu acordava banhado em suor

Não queremos lembrar o que esquecemos
Nós só queremos viver
Não queremos aprender o que sabemos
Não queremos nem saber
Sem motivos, nem objetivos
Estamos vivos e é só
Só obedecemos a lei
Da infinita highway

Escute, garota, o vento canta uma canção
Dessas que uma banda nunca canta sem razão
Me diga, garota: será a estrada uma prisão?
Eu acho que sim, você finge que não
Mas nem por isso ficaremos parados
Com a cabeça nas nuvens e os pés no chão
"Tudo bem, garota, não adianta mesmo ser livre"
Se tanta gente vive sem ter como viver

Estamos sós e nenhum de nós
Sabe onde quer chegar
Estamos vivos, sem motivos
Que motivos temos pra estar?
Atrás de palavras escondidas
Nas entrelinhas do horizonte dessa highway
Silenciosa highway

Eu vejo um horizonte trêmulo
Eu tenho os olhos úmidos
Eu posso estar completamente enganado
Eu posso estar correndo pro lado errado
Mas "a dúvida é o preço da pureza"
É inútil ter certeza
Eu vejo as placas dizendo
"não corra, não morra, não fume"
Eu vejo as placas cortando o horizonte
Elas parecem facas de dois gumes

Minha vida é tão confusa quanto a América Central
Por isso não me acuse de ser irracional
Escute, garota, façamos um trato:
Você desliga o telefone se eu ficar muito abstrato
Eu posso ser um Beatle, um beatnik
Ou um bitolado
Mas eu não sou ator
Eu não tô à toa do teu lado
Por isso, garota, façamos um pacto
De não usar a highway pra causar impacto

Cento e dez, cento e vinte
Cento e sessenta
Só prá ver até quando o motor agüenta
Na boca, em vez de um beijo,
Um chiclet de menta
E a sombra do sorriso que eu deixei
Numa das curvas da highway.


(Humberto Gessinger)

domingo, 24 de maio de 2009

3x4

Diga a verdade
Ao menos uma vez na vida
Você se apaixonou
Pelos meus erros

Não fique pela metade
Vá em frente, minha amiga
Destrua a razão
Desse beco sem saída

Diga a verdade
Ponha o dedo na ferida
Você se apaixonou
Pelos meus erros

E eu perdi as chaves
Mas que cabeça a minha
Agora vai ter que ser
Para toda a vida

Somos o que há de melhor
Somos o que dá pra fazer
O que não dá pra evitar
E não se pode escolher

Se eu tivesse a força
Que você pensa que eu tenho
Eu gravaria no metal da minha pele
O teu desenho

Feitos um pro outro
Feitos pra durar
Uma luz que não produz
Sombra

Somos o que há de melhor
Somos o que dá prá fazer
O que não dá pra evitar
E não se pode esconder.


(Humberto Gessinger)

Pra Ser Sincero

Pra ser sincero
Não espero de você
Mais do que educação
Beijo sem paixão
Crime sem castigo
Aperto de mãos
Apenas bons amigos...

Pra ser sincero
Não espero que você
Minta!
Não se sinta capaz
De enganar
Quem não engana
A si mesmo...

Nós dois temos
Os mesmos defeitos
Sabemos tudo
A nosso respeito
Somos suspeitos
De um crime perfeito
Mas crimes perfeitos
Não deixam suspeitos...

Pra ser sincero
Não espero de você
Mais do que educação
Beijo sem paixão
Crime sem castigo
Aperto de mãos
Apenas bons amigos...

Pra ser sincero
Não espero que você
Me perdoe
Por ter perdido a calma
Por ter vendido a alma
Ao diabo...

Um dia desse
Num desses
Encontros casuais
Talvez a gente
Se encontre
Talvez a gente
Encontre explicação...

Um dia desses
Num desses
Encontros casuais
Talvez eu diga:
-Minha amiga
Pra ser sincero
Prazer em vê-la!
Até mais!...

Nós dois temos
Os mesmos defeitos
Sabemos tudo
A nosso respeito
Somos suspeitos
De um crime perfeito
Mas crimes perfeitos
Nunca deixam suspeitos...


(Humberto Gessinger)

sábado, 23 de maio de 2009

Falando Serio

Falando sério
É bem melhor você parar com essas coisas
De olhar p'ra mim com olhos de promessas
Depois sorrir como quem nada quer

Você não sabe
Mas é que eu tenho cicatrizes que a vida fez
E tenho medo de fazer planos
De tentar e sofrer outra vez

Falando sério
Eu não queria ter você por um programa
E apenas ser mais uma em sua cama
Por uma noite apenas e nada mais

Falando sério
Entre nós dois tinha que haver mais sentimento
Não quero seu amor por um momento
E ter a vida inteira p'ra me arrepender.


(Mauricio Duboc / Carlos Colla

Amor Perfeito

Fecho os olhos pra não ver passar o tempo, sinto falta de você
Anjo bom, amor perfeito no meu peito, sem você não sei viver

Vem, que eu conto os dias conto as horas pra te ver
Eu não consigo te esquecer
Cada minuto é muito tempo sem você, sem você

Os segundos vão passando lentamente, não tem hora pra chegar
Até quando te querendo, te amando, coração quer te encontrar

Vem, que nos seus braços esse amor é uma canção
E eu não consigo te esquecer
Cada minuto é muito tempo sem você, sem você

Eu não vou saber me acostumar sem sua mão pra me acalmar
Sem seu olhar pra me entender, sem seu carinho, amor, sem você
Vem me tirar da solidão, fazer feliz meu coração
Já não importa quem errou, o que passou, passou então vem

Vem, vem, vem !


(Michael Sulivan / Paulo Massadas)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Bobagem

Mais uma briga por causa de amor
Foi sem querer
Talvez seja tarde demais
Pra você relaxar e dar pra mim
Só pra mim bobagem, vem já pra cama
Tá tão quentinho aqui
Bobagem, a gente se ama
Pelos séculos dos séculos
Dos séculos, amém!

(Rita Lee / Lúcia Turnbull)

Não Amo Ninguém

Eu, ontem, fui dormir todo encolhido
Agarrando uns quatro travesseiros
Chorando bem baixinho, bem baixinho, baby
Pra nem eu, nem Deus ouvir
Fazendo festinha em mim mesmo
Como um neném, até dormir

Sonhei que eu caía do vigésimo andar
E não morria
Ganhava três milhões e meio de dollars
Na loteria
E você me dizia com a voz terna, cheia de malícia
Que me queria pra toda vida

Mal acordei, já dei de cara
Com a tua cara no porta-retrato
Não sei por que, que de manhã
Toda manhã parece um parto
Quem sabe, depois de um tapa
Eu hoje vou matar essa charada

Se todo alguém que ama
Ama pra ser correspondido
Se todo alguém que eu amo
É como amar a lua inacessível
É que eu não amo ninguém
Não amo ninguém
Eu não amo ninguém, parece incrível
Não amo ninguém
E é só amor que eu respiro.


(Frejat / Ezequiel / Cazuza)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Obrigada por insistir

Até o mais seguro dos homens e a mais confiante das mulheres já passaram por um momento de hesitação, por dúvidas enormes e dúvidas mirins, que talvez nem merecessem ser chamadas de dúvidas, de tão pequenas. Vacilos, seria melhor dizer. Devo ir a este jantar, mesmo sabendo que a dona da casa não me conhece bem? Será que tiro o dinheiro do banco e invisto nesta loucura? Devo mandar um e-mail pedindo desculpas pela minha negligência? Nesta hora, precisamos de um empurrãozinho. E é aos empurradores que dedico esta crônica, a todos aqueles que testemunham os titubeios alheios e dizem: vá em frente!
"Obrigada por insistir para que eu pintasse, que eu escrevesse, que eu atuasse, obrigada por perceber em mim um talento que minha autocrítica jamais permitiria que se desenvolvesse."
"Obrigada por insistir para que eu fosse visitar meu pai no hospital, eu não me perdoaria se não o tivesse visto e falado com ele uma última vez, eu não teria ido se continuasse sendo regida apenas pela minha teimosia e orgulho."
"Obrigada por insistir para que eu conhecesse Veneza, do contrário eu ficaria para sempre fugindo de lugares turísticos e me considerando muito esperta, e com isso teria deixado de conhecer a cidade mais surreal e encantadora que meus olhos já viram."
"Obrigada por insistir para que eu fizesse o exame, para que eu não fosse covarde diante das minhas fragilidades, só assim pude descobrir o que trago no corpo para tratá-lo a tempo. Não fosse por você, eu teria deixado este caroço crescer no meu pescoço e me engolir com medo e tudo."
"Obrigada por insistir para eu voltar pra você, para eu deixar de ser adolescente e aceitar uma vida a dois, uma família, uma serenidade que eu não suspeitava. Eu não sabia que amava tanto você e que havia lhe dado boas pistas sobre isso, como é que você soube antes de mim?" "Obrigada por insistir para que eu deixasse você, para que eu fosse seguir minha vida, obrigada pela sua confiança de que seríamos melhores amigos do que amantes, eu estava presa a uma condição social que eu pensava que me favorecia, mas nada me favorece mais do que esta liberdade para a qual você, que me conhece melhor do que eu mesma, apresentou-me como saída."
"Obrigada por insistir para que eu não fosse àquela festa, eu não teria agüentado ver os dois juntos, eu não teria aturado, eu não evitaria outro escândalo, obrigada por ficar segurando minha mão e ter trancado minha porta."
"Obrigada por insistir para eu cortar o cabelo, obrigada por insistir para eu dançar com você, obrigada por insistir para eu voltar a estudar, obrigada por insistir para eu não tirar o bebê, obrigada por insistir para eu fazer aquele teste, obrigada por insistir para eu me tratar."
Em tempos em que quase ninguém se olha nos olhos, em que a maioria das pessoas pouco se interessa pelo que não lhe diz respeito, só mesmo agradecendo àqueles que percebem nossas descrenças, indecisões, suspeitas, tudo o que nos paralisa, e gastam um pouco da sua energia conosco, insistindo."



(Martha Medeiros)

A tristeza permitida

Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que normalmente faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair para compras e reuniões - se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem para sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar a tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?
Você vai dizer "te anima" e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer para eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra.
Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.
A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro da nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.Depressão é coisa muito mais séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente - as razões têm essa mania de serem discretas.
"Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago de razão/ eu ando tão down..." Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. "Não quero te ver triste assim", sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar o seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinicius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.
Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem por isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor - até que venha a próxima, normais que somos.


(Martha Medeiros)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

É urgente que as pessoas se amem

É urgente que as pessoas se amem
sem vergonha e sem tristeza
Que se amem com orgulho
Com a alegria pagã da joie grega

É urgente que as pessoas não se escondam
por detrás das outras pessoas
das idéias das outras pessoas
dos muros espessos do medo

É urgente que as pessoas se amem

É urgente partilhar o pão e o corpo
com a claridade da terra molhada
nas manhãs de sol

É urgente assumir a verdade.


(Manuela Amaral)

Rebeldia

Soltem-me
as algemas

Quero
a minha alma livre
meu corpo livre
meu pensamento livre

Esbofetear o mundo
e cuspir
na vida.


(Manuela Amaral)

terça-feira, 19 de maio de 2009

Dizer Amor

Queria subir às palavras
e gritá-las
E ter o privilégio de inventar
formas diferentes
de dizer amor.


(Manuela Amaral)

Marés Vivas

Na praia teu corpo
eu sou maré cheia

Em ondas de medo
rebento-me azul

e bebo-te areia.


(Manuela Amaral)

segunda-feira, 18 de maio de 2009

(Des)Cabimento

No mundo cabe verso
Cabe estrada
No mundo cabe
Às dez horas da manhã
Na alta madrugada
Cabe o choro
Na tez da moça triste
Uma deusa pagã

Nas mãos cabe gesto
Cabe sol
Nas mãos cabe
Ternura e uma canção
No olhar distraído
Cabe procura
Na alma intranqüila
A solidão

Na alma cabe desejo
Cabe mágoa
Na alma cabe
Cantatas e paixões
No corpo trêmulo
Cabem charadas
Na falsa indiferença
Razões

Descabimento é esse
Caber o olhar na fresta
Embrenhar o olhar na festa
Pra bailar a sós o amor.


(Carla Dias)

Faltas & Afins

Palavras no cio
Estrelas no céu da boca
A nudez das horas
Debaixo dos cobertores
A voz embargada
O choro contido
A emoção seqüestrada
Dos desamores

A obscena saudade
Atravessa-me afiada.


(Carla Dias)

domingo, 17 de maio de 2009

Simplicidade

Vai diminuindo a cidade
Vai aumentando a simpatia
Quanto menor a casinha
Mais sincero o bom dia

Mais mole a cama em que durmo
Mais duro o chão que eu piso
Tem água limpa na pia
Tem dente a mais no sorriso

Busquei felicidade
Encontrei foi Maria
Ela, pinga e farinha
E eu sentindo alegria

Café tá quente no fogo
Barriga não tá vazia
Quanto mais simplicidade
Melhor o nascer do dia.


(John)

Quase

Ela é quase tudo o que sonhei
E eu sou quase aquilo que sempre evitei
E falhei, sim, falhei
Quase um amor
Quase um caminho
Que me deixou
Quase sozinho
E quase que fiquei contente

E fui feliz pra sempre

No dia em que eu
Quase conquistei seu coração
Quase um amor
Quase um caminho
Que me deixou
Quase sozinho
E apesar de ter ficado

Quase um ano

Quase morto de paixão
Hoje já estou quase bão

Hoje já estou,
Realmente já estou,
Hoje já estou quase bão.


(John)

sábado, 16 de maio de 2009

Todas Elas Juntas Num Só Ser

Não canto mais Babete nem Domingas
Nem Xica nem Tereza, de Ben jor;

Nem Drão nem Flora, do baiano Gil;
Nem Ana nem Luiza, do maior;

Já não homenageio Januária,

Joana, Ana, Bárbara, de Chico;

Nem Yoko, a nipônica de Lennon;
Nem a cabocla, de Tinoco e de Tonico;

Nem a tigreza nem a vera gata
Nem a branquinha, de Caetano;
Nem mesmoa linda flor de Luiz Gonzaga,
Rosinha, do sertão pernambucano;
Nem Risoflora, a flor de Chico Science,
Nenhuma continua nos meus planos.
Nem Kátia Flávia, de Fausto Fawcett;

Nem Anna Júlia do Los Hermanos.

Só você,
Hoje eu canto só você;
Só você,
Que eu quero porque quero, por querer.

Não canto de Melô pérola negra;
De Brown e Hebert, uma brasileira;
De Ari, nem a baiana nem Maria,
Nem a Iaiá também, nem minha faceira;
De Dorival, nem Dora nem Marina
Nem a morena de Itapoã;
Divina garota de Ipanema,
Nem Iracema, de Adoniran.

De Jackson do Pandeiro, nem Cremilda;

De Michael Jackson, nem a Billie Jean;

De Jimi Hendrix, nem a doce Angel;
Nem Ângela nem Lígia, de Jobim;

Nem Lia, Lily Braun nem Beatriz,

Das doze deusas de Edu e Chico;
Até das trinta Leilas de Donato,
E de Layla, de Clapton, eu abdico.

Só você,
Canto e toco só você;
Só você,
Que nem você ninguém mais pode haver.

Nem a namoradinha de um amigo
E nem a amada amante de Roberto;
E nem Michelle-me-belle, do beattle Paul;
Nem Isabel - Bebel - de João Gilberto;

E nem B.B., la femme de Serge Gainsbourg;
Nem, de Totó, na malafemmená;
Nem a Iaiá de Zeca Pagodinho;
Nem a mulata mulatinha de Lalá;

E nem a carioca de Vinícius
E nem a tropicana de Alceu
E nem a escurinha de Geraldo
E nem a pastorinha de Noel
E nem a namorada de Carlinhos
E nem a superstar do Tremendão
E nem a malaguenha de Lecuona
E nem a popozuda do Tigrão

Só você,
Hoje elejo e elogio só você,
Só você,
Que nem você não há nem quem nem quê.

De Haroldo Lobo com Wilson Batista,
De Mário Lago e Ataulfo Alves,
Não canto nem Emília nem Amélia,
Nenhuma tem meus vivas! E meus salves!
E nem Angie, do stone Mick Jagger;
E nem Roxanne, de Sting, do Police;
E nem a mina do mamona Dinho
E nem as mina – pá! - do mano Xiz!

Loira de Hervê e loira do É O Tchan,
Lôra de Gabriel, o Pensador;
Laura de Mercer, Laura de Braguinha,
Laura de Daniel, o trovador;
Ana do Rei e Ana de Djavan,

Ana do outro rei, o do baião

Nenhuma delas hoje cantarei:
Só outra reina no meu coração.

Só você,
Rainha aqui é só você,
Só você,
A musa dentre as musas de A a Z.

Se um dia me surgisse uma moça
Dessas que com seus dotes e seus dons,
Inspira parte dos compositores
Na arte das palavras e dos sons,
Tal como Madallene, de Jacques Brel,
Ou como Madalena, de Martinho;
Ou Mabellene e a sixteen de Chuck Berry,
E a manequim do tímido Paulinho;

Ou como, de Caymmi, a moça prosa
E a musa inspiradora Doralice;
Se me surgisse uma moça dessas.
Confesso que eu talvez não resistisse;
Mas, veja bem, meu bem, minha querida;
Isso seria só por uma vez,
Uma vez só em toda a minha vida!
Ou talvez duas... mas não mais que três...

Só você...
Mais que tudo é só você;
Só você...
As coisas mais queridas você é:

Você pra mim é o sol da minha noite;
É como a rosa, luz de Pixinguinha;
É como a estrela pura aparecida,
A estrela a refulgir, do Poetinha;
Você, ó flor, é como a nuvem calma
No céu da alma de Luiz Vieira;
Você é como a luz do sol da vida
De Steve Wonder, ó minha parceira.

Você é pra mim e o meu amor,
Crescendo como mato em campos vastos,
Mais que a gatinha para Erasmo Carlos;
Mais que a cigana pra Ronaldo bastos;
Mais que a divina dama pra Cartola;
Que a domna pra Ventadorn, Bernart;
Que a honey baby pra Waly Salomão
E a funny valentine pra Lorenz Hart.

Só você,
Mais que tudo e todas, é só você;
Só você,
Que é todas elas juntas num só ser.


(Lenine / Carlos Rennó)

A Rede

Nenhum aquário é maior do que o mar
Mas o mar espelhado em seus olhos
Maior, me causa um efeito
De concha no ouvido, barulho de mar
Pipoco de onda, ribombo de espuma e sal

Nenhuma taça me mata a sede
Mas o sarrabulho me embriaga
Mergulho na onda vaga
Eu caio na rede
Não tem quem não caia

Às vezes eu penso que sai dos teus olhos o feixe
De raio que controla a onda cerebral do peixe

Nenhuma rede é maior do que o mar
Nem quando ultrapassa o tamanho da Terra
Nem quando ela acerta, nem quando ela erra
Nem quando ela envolve todo o planeta

Explode, devolve pro seu olhar
O tanto de tudo que eu tô pra te dar
Se a rede é maior do que o meu amor
Não tem quem me prove

Às vezes eu penso que sai dos teus olhos o feixe
De raio que controla a onda cerebral do peixe

Se a rede é maior do que o meu amor, não tem quem me prove
Eu caio na rede, não tem quem não caia...


(Lenine / Lula Queiroga)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Eu amo tudo o que foi

Eu amo tudo o que foi,
Tudo o que já não é,
A dor que já me não dói,
A antiga e errónea fé,
O ontem que dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.


(Fernando Pessoa)

Durmo, cheio de nada

Durmo, cheio de nada, e amanhã
é, em meu coração,
Qualquer coisa sem ser, pública e vã
Dada a um público vão.

O sono! este mistério entre dois dias
Que traz ao que não dorme
À terra que de aqui visões nuas, vazias,
Num outro mundo enorme.

O sono! que cansaço me vem dar
O que não mais me traz
Que uma onda lenta, sempre a ressacar,
Sobre o que a vida faz?!


(Fernando Pessoa)

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Palavras

Não, tente me enganar
Vejo em seu olhar
Que já não existe
Aquele mesmo amor
Que nunca esperou
Acabar tão triste.

Não tente me dizer
Palavras que eu
Já não acredito
Eu posso compreender
O que restou de um amor
Que foi tão bonito.

Eu fiz daquele amor
O meu sonho maior
Minha razão de tudo
Foi pouco o que restou
De tanto que existiu
Recordações e nada mais.
O que restou, recordações
E nada mais

Não, não vá me dizer
Palavras que venham
Me fazer chorar depois
Eu sei que vou viver
Por muito tempo ainda
Das lembranças de nós dois.


(Roberto Carlos)

Versos Perdidos

As frases são minhas
As verdades são tuas
Enquanto te desejo
Me vejo chorando no meio da rua
Beijo teu sorriso num dia de sol
Que entra pela porta
e canta pela janela

A noite mãe do dia
Molhava tua boca
Na língua da poesia
Oh meu grande amor de versos perdidos
Murmurando na chuva como um refrão
Que só faz sentido
no fundo da cama.


(Zeca Baleiro / Nosly / Fausto Nilo)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Você é Má

Vá se danar! Você dá nada a ninguém,
Nenhum olhar, nunca falou: tudo bem!
Tem, mas não dá, sorrir jamais lhe convém,
Você é má, mas há de ter um bem!

Você dá nada a ninguém, vá se danar!
Danada não perde o trem, sabe nadar,
Mas nada sabe de alguém que sabe amar,
Eu quero ser seu bem, você é má!

Você é maluca, você é malina,
Você é malandra, só não é massa!
E você magoa, e você massacra,
E você machuca, e você mata!...

Vá se danar, você dá nada a ninguém,
Nunca dará, nem mesmo um simples amém
A Deus dirá, diz que não vai à Belém,
Você é má, mas pode ter um bem!

Você dá nada a ninguém, vá se danar!
Danada finge tão bem, sabe negar
Jamais dará a quem tem demais pra dar,
Mas eu serei seu bem, você é má!


(Zeca Baleiro e Joãozinho Gomes)